É meio-dia na cidade
Neste sul saheliano
Há muito não olhava a vida deste planalto
O sol, o trânsito, os sotaques e os estrangeiros com cara de crioulos
O mundo caminha ao ritmo dos ventos. Atravessa tudo, apaga sonhos, e distrai amores.
São tantas partidas e chegadas, investidores, capitais, crianças, misérias e traumas digitais
Escapa-nos a simplicidade das meninas com olhares enfeitados de sonhos
Está dormente na rua esquecida a tardinha como ela foi um dia
O novo consome,
O mundo intima a partir,
Vir à praça, passear no mercado, sentar-se no banquinho, comer pastéis, beber o café do vizinho e olhar para a igreja defronte … são apenas lembranças.
Meio-dia na cidade,
Temos encontro com o passado, sorrimos com timidez diante do tempo, e rezamos pelas verdades urdidas por calejados dedos
O destino não nos pertence e pouco sobre ele sabemos
Outros saberão mais. Aqueles que nos observam, que nos seguem, gostando ou não de nós.
Passamos pela vida e, nas viagens ao vento, vamos deixando de viver
De repente, é meio-dia e olhamos à volta para depois sentar-se e escrever um poema:
É meio-dia.
Margarida Fontes