28 de agosto de 2005

O quase

Theo van Doesburg Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(Esta crónica de Veríssimo é para os comedidos que uma vez a outra gostariam de não o ser… O drama d´O Quase vem depois, antes, somos sempre nós e os nossos limites, impostos (?) …)

25 de agosto de 2005

Um hobbesiano assumido

Cena de Hotel RwandaEsta noite assisti no Bahiano de Thênis (Salvador - Brasil) a um filme que estreou hoje no Brasil, produzido com recursos da África do Sul, Inglaterra e Itália. Chama-se “Hotel Rwanda”, e todas aquelas pessoas que não pensam a humanidade a partir do seu próprio umbigo deveriam ir vê-lo, antes que saia. Principalmente quem lida com o dito “movimento negro”, que acha que a cor da pele define o caráter e ganha dinheiro ou projeção com isso.
Eu já tinha escrito sobre o assunto – não o filme, mas o tema – em um artigo pra jornal que transcrevi num dos livros que lancei este ano de 2005 "Como Fazer Amor Com Um Negro...".
É indignante e até neste momento, quando me lembro das cenas, me vêm as lágrimas.
Não sei de onde vem essa idéia de humanismo, piegas e romântica, que a nossa cultura nos impregnou. Mas para além do sentimentalismo bocó para o qual fomos treinados, deve existir dentro de cada um de nós um desejo de que as coisas no mundo se dessem de outra forma, fossem melhor.
Quando escrevo isso não penso apenas na frustração que o nosso país experimenta com o fracasso de um projeto político que se revelou uma farsa, uma máfia.
O filme “Hotel Rwanda”, para quem não leu tudo o que já se escreveu em jornais e livros sobre o triste episódio do belíssimo país africano, sintetiza o quanto de verme há em cada um de nós. Brancos ou negros. Progressistas ou filhos-da-puta.

f.c

Ludgero Correia vence Prémio Sonangol

Prémio SonangolAntónio Ludgero Correia, e o escritor santomense Malé Madeçu são os vencedores “ex. aequo” do Prémio Sonangol da Literatura 2005.
Sob o pseudónimo Fidalgo Preto, Ludgero Correia foi premiado pela obra «Baban – O Ladino», que, de acordo com o Júri, se destaca pela «salvaguarda dos valores étnicos e sócio-culturais” de Cabo Verde.
O romance, entende o júri que está «profundamente estruturado no sistema sócio-cultural de Cabo Verde», retratando «o problema da cidadania» no quadro da «conquista da liberdade democrática».
Sobre o livro, o júri destacou ainda «a arquitectura do anti-herói e a interacção das personagens na codificação crítica da tragédia da seca em Cabo Verde». "Baban - O Ladino" retrata a vida de um homem rural cabo-verdiano nos anos 40 - a dualidade entre o campo e a Cidade.
Uma estreia em grande para o autor conhecido do público cabo-verdiano como cronista do jornal A Semana e Presidente da Associação Pró-Praia.
O Prémio Sonangol de Literatura é de 25 mil dólares e será entregue aos vencedores a 25 de Fevereiro de 2006 em Luanda na comemoração do aniversário da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola.

Com Expresso África

24 de agosto de 2005

Imprensa Nacional fez hoje 163 anos.

EscritaA 7 de Dezembro de 1836, o Governo Português, pela pasta de Marinha e Ultramar, decretou que nas províncias ultramarinas se imprimisse um Boletim, cuja redacção ficasse a cargo do secretário do governo. Seis anos mais tarde, cumpria-se em Cabo Verde esta determinação, aparecendo em 24 de Agosto de 1842 o Boletim Oficial do Governo - Geral de Cabo Verde, em Sal Rei – Ilha da Boa Vista. O Boletim saia às quartas e sábados.
Segundo o mesmo Decreto de 7 de Dezembro de 1836, art. 13.º, o Boletim destinava-se ao aparecimento das ordens, peças oficiais e de tudo o mais que fosse de interesse público; a portaria circular de 14 de Fevereiro de 1855 determinava que nesse se publicassem os documentos mais importantes existentes nos respectivos arquivos.
Durante muito tempo editava-se apenas uma série semanal do boletim oficial. Em 1992 passou-se a editar duas séries. Desde 2003 edita-se três séries que saem às segundas, terças e sextas, respectivamente.
Ao longo desses 163 anos, o funcionamento da Imprensa Nacional foi ininterrupta. O projecto da actual administração é publicar o Boletim Oficial na Internet com actualização corrente e equipar-se de forma a proceder à impressão totalmente digital.

14 de agosto de 2005

Dulce Pontes vai estar na Baía das Gatas

Dulce PontesO nome de Dulce Pontes para participar na 21ª edição do Festival Internacional de música Baia das Gatas foi anunciado no fim da semana passada, juntamente com o da D. Zefa que lidera um grupo de forró do nordeste brasileiro. Está completa assim a lista dos artistas que, este ano, vão participar num dos mais emblemáticos festivais de música de Cabo Verde a acontecer nos dias 19, 20 e 21 do corrente, em S.Vicente. As obras de embelezamento da praia da Baia das gatas estão a todo o vapor. A organização do festival já concluiu as negociações com a RTC, pelo que a transmissão em directo, pela Televisão Nacional, está garantida.
O Festival de Baia das Gatas foi concebido e realizado, pela primeira vez, em 1984 por jovens artistas do Mindelo com destaque para Vasco Martins e Voginha. Ao longo desses anos o evento já homenageou várias personalidades mindelenses. Este ano Luís Morais será o homenageado.

Lista dos participantes

Desfile do Carnaval, Bau e convidados (Jorge Humberto, Jenifer, Gabriela, Djoia), Dub Squad, Bembeya Jazz, Dona Zefa, Filipe Monteiro, Kompass e convidados (Diva, Gérard Mendès, Constantino, Lutchinha, Albertino), Dulce Pontes, Sierra Maestra, Jair Rodrigues, Kino Cabral e Zé Delgado, Hip Hop ART, La MC, Chullage, Sofia Barbosa, Tcheka, Voz de Cabo Verde.

9 de agosto de 2005

Hiroshima - 60 anos

A Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.

Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!

Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.

Por Vinícius de Moraes