22 de novembro de 2004

A estética do videoclip destrói o cinema actual?

A linguagem do cinema, hoje, velozmente influenciada (deturpada, dizem alguns) pela estética do videoclip é um debate actual e interessante. Um fenómeno que nos faz reflectir sobre a essência do cinema...a arte de contemplar. Aí reside o conflito. Ou se trata de uma nova linguagem de uma arte em evolução? Existe ou não conflito? Vejamos o que diz o mestre Setaro sobre esta matéria, polémica para alguns, para outros, nem por isso...


Setaro dixit...

A estética do videoclipe se espraiou, como metástase virulenta, na estrutura narrativa dos filmes oriundos da indústria cultural hollywoodiana. Nada contra, bem entendido, o vídeoclip, mas que a sua estética seja restrita a essa modalidade de expressão mais conveniente de ser aplicado dentro dos limites de sua configuração. Mas que seja uma tônica do cinema comercial contemporâneo é profundamente lamentável e bastante sinalizador de uma decadência flagrante na construção do espetáculo cinematográfico. Assim, as tomadas são rápidas, condicionando, com isso, o ritmo do próprio filme, que fica estilhaçado sem dar a oportunidade ao espectador da contemplação, porque tudo passa muito depressa. A aplicação, no entanto, vem a atender aos apelos de uma platéia aniquilada pelo império do audiovisual, uma platéia feita pela sociedade de consumo, pela pressa desenfreada, pela busca desesperada para a inserção no reinado da coisificação. O público desaprendeu a contemplar e é na contemplação que se inicia o processo cognoscitivo, que se dá a possibilidade de um maior conhecimento. Basta ver a maneira pela qual a platéia dos complexos denominados multiplexes reage ao espetáculo cinematográfico para se ter uma idéia da tragédia que os tempos pós-modernos estão a administrar o caos cultural, o caos criativo, o caos cinematográfico, restando pouco, muito pouco, àquele que pretende usufruir o cinema como uma manifestação de prazer e arte mithos e logos.

A tesoura está a parecer o fundamento da articulação narrativa, porque nos filmes contemporâneos, no lixo que se oferece no circuito comercial, o espectador não tem a oportunidade de contemplação de uma determinada tomada, de um determinado plano dada a rapidez em que se nos apresentam. A metástase, porém, se espalhou em obras de todos os gêneros e até mesmo um filme medíocre, é verdade como O sorriso da Mona Lisa, de Mike Newell, com Julia Roberts, a metodologia da tesoura é uma constante. Na feitura do produto, portanto, há como uma regra geral, senão explícita, implícita, que condiciona a instalação do estilhaçamento da construção narrativa. O cinema sempre foi feito por fragmentos, e a impressão de uma continuidade, ilusória, era decorrência de um processo que a sugeria, quando o que sempre houve foi a justaposição de fragmentos, de tomadas. Mas se um filme médio, vinte anos atrás, tinha, por exemplo, 600 tomadas, hoje possui em torno de 1000, excetuando-se, aqui, os ultra-rápidos como Moulin Rouge...

To be continued...

12 de novembro de 2004

As Homenagens ao Lobo Solitário

O malogrado cantor Ildo Lobo, falecido a 20 de Outubro passado, vai ser homenageado, pela comunidade cabo-verdiana em Angola.
O tributo ao artista que durante mais de duas décadas foi a voz e a cara de um dos grupos mais marcantes da música cabo-verdiana, Os Tubarões, conta com a participação de vários artistas cabo-verdianos residentes nesse país da CPLP.
Casa 70, a mais prestigiada casa de espectáculos de Luanda, vai albergar, no dia 13 deste mês, a grande homenagem.
Desde a sua morte que não têm faltado menções e homenagens à sua vida e obra. Na cidade da Praia, o Palácio da Cultura já leva o seu nome. E a 25 de Novembro, na Ilha do sal, data em que o malogrado completaria 51 anos, um evento marcará o lançamento do seu último álbum a título póstumo. Em Portugal, tanto a comunidade cabo-verdiana como a imprensa honraram a memória do artista.
Ildo Lobo nasceu a 25 de Novembro de 1953 em Pedra de Lume, Ilha do Sal, numa família de músicos e foi por mais de 20 anos o líder vocal do grupo "Os Tubarões”, com o qual gravou vários álbuns marcantes da moderna música popular cabo-verdiana. Durante a sua carreira a solo, publicou “Nôs Morna”, editado em 1997, a que se seguiu “Intelectual”, em 2001, ambos pela Lusáfrica.
O artista, pouco antes da sua morte, tinha acabado de gravar um novo álbum em Paris. "Incondicional" deverá ser lançado no final deste ano pela Harmonia em Cabo Verde e no início de 2005 pela Lusáfrica em todo o mundo.
A contribuição de Ildo Lobo à afirmação da cultura de Cabo Verde e sua projecção internacional é de enorme valor não só pela enorme quantidade de músicas registadas em disco, em cerca de 30 anos, mas principalmente pelo factor qualidade que foi sempre a tónica dominante de todas as suas interpretações.

1 de novembro de 2004

ELEIÇÃO NOS EUA

Nem os jornalistas aprovam a cobertura


Nem eles mesmos gostam do que escrevem? Levantamento feito de 8 a 15 de Outubro entre 499 jornalistas e professores de Jornalismo filiados ao CCJ (Committee of Concerned Journalists, ou Comité de Jornalistas Preocupados, http://www.journalism.org/), grupo que discute a qualidade da imprensa americana, mostra que sim: apenas 3% deram nota A à cobertura das eleições presidenciais dos Estados Unidos; 27% deram nota B; 42% deram nota C; 22%, nota D; e 5%, nota F…

… Uma das respostas conclama a uma reflexão maior: "Todas as redacções deveriam parar um ano para pensar e responder à questão: a forma como nós fazemos jornalismo está a ajudar ou a prejudicar a nossa democracia?”

In Observatório da Imprensa