12 de julho de 2005

Ribeira da Barca está de luto: morreu Nhô Raúl

O exímio violinista, pai de Tcheka Andrade, faleceu na madrugada de hoje, vítima de doença no Hospital Dr. Agostinho Neto, Cidade da Praia. Conheci Nhô Raul, pessoalmente, há apenas três meses numa reportagem que fazia na Ribeira da Barca, interior da Ilha de Santiago. Figura emblemática da zona, a sua casa era paragem obrigatória para visitantes e jornalistas que pretendessem falar de Ribeira da Barca. A sua mais recente entrevista publicada, feita pela Jornalista Gláucia Nogueira, consta da última edição da Revista de bordo dos TACV, Fragata.
Nhô Raúl nasceu a 5 de Abril de 1927 no Concelho de S. Lourenço, Ilha do Fogo. Desembarcou no Porto da Ribeira da Barca, que nos anos 40 fazia ligação regular com Fogo, há várias décadas, e nunca mais regressou à sua ilha natal. Apesar das suas qualidades musicais, e das várias digressões que fez ao longo da vida, muito pouco se escreveu e se disse sobre Nhô Raúl. Talvez isso se tenha dado pelo facto de nunca ter pensado em gravar um disco. Ultimamente o seu nome tem aparecido, com frequência, nas biografias do filho, como violinista. Faltou esmiuçar a sua arte, falar da ponte musical que fazia entre as culturas foguense e do interior da ilha de Santiago, faltou dizer mais, de facto. Tcheka, contou, certa vez, no programa “Kultura”, que aprendeu tudo o que sabe com o pai, nos intermináveis bailes de casamento e baptizado que faziam por todo o interior da ilha de Santiago. Raúl Andrade ensinou aos filhos um espírito e um estar na música típicos, fruto desses dois mundos. É toda esta alma e vivência que Tcheka interpreta, hoje, nas suas composições. A sua intrínseca ligação à terra resulta, nada mais, nada menos, das incontáveis andanças nos encalços do pai.
Celebrar o legado de Raúl Andrade é apreciar a profundidade da arte do Tcheka. É escutar com espírito crítico os vários episódios contados pelos seus filhos – Tcheka e Kilim – que retratam a persistência e o comprometimento de Nhô Raúl com a sua arte, com o seu violino e com as suas duas ilhas.

Pa Kilim e Tcheka

2 comentários:

Dhan disse...

São pessoas assim que escrevem, desprentenciosamente, seu nome na história de um lugar, um povo.
bjos!!!
dhan

Anónimo disse...

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