3 de março de 2005

“Morabeza Records é história”

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Nota: Morabeza Records é referenciada no jornal Le Monde como uma defensora da cultura cabo-verdiana num passado recente da nossa história… Tomamos a liberdade de fazer uma tradução livre da matéria feita por Patrick Labesse, enviado especial do jornal a partir destas ilhas.

Uma Guerra pela Identidade... é isso que defendia Djunga D'Biluca ao fundar Morabeza Records no ano de 1960, por outras motivações que não comerciais. Nascido em S.Vicente a 1929, Djunga D'Biluca emigrou para Dakar, seguido de Holanda, em 1958, onde chegou a ser coordenador do PAIGC, criado dois anos antes por Amílcar Cabral e outros filhos da Guiné e Cabo Verde engajados na luta contra o colonialismo.
"A ideia de Morabeza, surgiu da necessidade de restituir a identidade cultural cabo-verdiana e ajudar na sua divulgação na diáspora”, conta Djunga D'Biluca. “Amílcar Cabral dizia : Independência sem cultura não tem valor. A música deve ser uma arma”. E Morabeza foi uma forma de resistência cultural, um meio de «reafirmar a identidade do povo».
Aquando da independência, a maior parte dos países africanos foram libertos, pelo menos, na vertente cultural. No Senegal, por exemplo, vizinho de Cabo Verde, o presidente Senghor pediu em 1960 ao percussionista Doudou N'Diaye Rose que africanizasse o seu trabalho!
Na sua criação em 1965, Morabeza Records foi a expressão das reivindicações identitárias dos cabo-verdianos. Certos discos, para escapar à censura da PIDE, a polícia política portuguesa, circulavam às escondidas. O selo editou os dois primeiros tours da história da música cabo-verdiana (Caboverdeanos na Holanda e Os Verdeanos) e os álbuns de Voz de Cabo Verde, o primeiro grupo de músicos originários de Cabo Verde.
Morabeza Records assinou ainda as produções do angolano Bonga. Um irmão. Já que também foi exilado em Rotterdam e combateu para a independência do seu país. O cantor se apresentava como «um angolano que toca a música revolucionária de Angola.
Três anos após a independência, em 1978, a produtora afrouxou o ritmo das suas actividades. Djunga D'Biluca abre um consulado de Cabo Verde nos Países Baixos e se rende às suas novas funções diplomáticas até 1990.
A caminhada da Produtora se resume a 45 álbuns editados. "É uma história que deve continuar como começou e contribuir para o crescimento do património cultural nacional”, declarou Djunga D'Biluca. Ele confiou a chave desta pequena empresa ao seu sobrinho, Elísio Lopes.

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