"O Menino do Campo" é o título do segundo livro de Viriato Gonçalves. Um livro de crónicas que versa sobre as experiências e os condicionalismos da vida das pessoas. O livro é também uma viagem indelével aos valores da nossa cultura: um olhar atento às pequenas coisas, pessoas e lugares. Foram precisos, segundo o autor, vários anos para escrever essa obra.
A obra funciona para o autor, como uma forma de exorcizar o passado. “Menino do campo”, segundo Viriato foi uma expressão que desde a infância o acompanha. E este livro, do seu ponto de vista, é apenas uma parte desse mundo. Há outras coisas igualmente interessantes a serem retratadas, a seu ver. A importância da educação; a emigração; as religiões e a intolerância colonial, tudo isso são aspectos interessantes do livro.
Para entrar no âmago da obra de Viriato Gonçalves, talvez seja imperativo ler esse trecho que ele deixa na primeira pessoa numa entrevista concedida à cvmusicworld:
“Eu vivi os meus primeiros 33 anos debaixo de um sistema colonial de opressão e dominação. Sofri na pele toda essa dor. Fui rejeitado na escola da minha ilha e da minha cidade. Acompanhei o drama da minha família. Perdi uma irmãzinha, porque o médico recusou-se a atendê-la. A minha irmã não foi para a escola, porque o meu pai não podia custear os seus estudos na Praia ou em S.Vicente. Vivi ao lado de pessoas que morriam de fome, miséria, doenças e mal nutrição. Disse adeus “aos contratados” no momento de sua partida para as roças de S.Tomé e Príncipe, de onde muitos deles nunca regressaram.”
Viriato Gonçalves considera o seu livro “rico e culturalmente denso”. Os lugares revisitados pela obra são Fogo, Santiago e Brava, mas também retrata pessoas de outras ilhas e suas peculiaridades. Aí reside, portanto, a dimensão da obra, cujo lançamento aguardamos aqui no país.
Viriato Gonçalves é natural da Ilha do Fogo e reside nos Estados Unidos. Em 1987 escreveu “Grito”, um livro de poemas que traduz momentos de frustração da dor e do sofrimento das pessoas. Já participou em três antologias, Odisseia Criola, A Travessia do Atlântico, e uma antologia com poetas brasileiros, cabo-verdianos e açorianos.
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