25 de fevereiro de 2008

Da escravatura














Quando viviamos no auge da blogosfera, com o senso crítico apurado, e muita energia à mistura, lembro-me de ter dito muito sobre a escravatura, e frisado, reiteradas vezes, a forma pouco assumida como Cabo Verde lidava com o assunto. Prova disso, é a inexistência de um único dossier cabo-verdiano financiado pelo projecto Rota dos Escravos da UNESCO “projeto de pesquisa internacional sobre o comércio de escravos na África lançado em 1994 no Benin”.

Ultimamente, alguém terá aventado que Cabo Verde não constava da rota do regresso/passagem do emblemático navio Amistad. Na sequência disso, houve reacções indignadas. Terá sido tudo um equívoco, (como parece ter sido) ou apenas uma (in)verdade (in)conveniente ? Perdoem-me a força de expressão. É que neste momento ando a fazer uma série de entrevistas sobre o documentário de Al Gore «Verdade Inconveniente», e pode ser isso reflexo de alta exposição à repetição.

Voltemos à questão do incómodo sobre Amistad. A histórica embarcação dos chamados escravos esteve ancorada timidamente há vários dias no cais da Praia vindo da Libéria. Desse país era suposto seguir para o Senegal, mas tal não aconteceu por alegados problemas técnicos. Neste momento, a embarcação encontra-se nos mares do Fogo e parte amanhã rumo a Santiago.

Longe desse sentimento de diluição pressentido, deveriamos estar, em verdade, a revisitar memórias históricas, a celebrar laços e reencontros simbólicos, e não perdidos que nem um patinho longe do seu lago de estimação.

De todo o modo, esperemos a nave, ainda que novamente vá.

23 de fevereiro de 2008

Invicto margoso

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Angústia Tragédia Paura Momento
Dispadicê Saqué I
nstante
Lua Encanto Innocence
Poesia P
âpia

Respondo ao desafio do João, com as 12 palavras que mais me encantam. Paura, para quem não sabe, significa medo em italiano. Três palavras sta na criolu di Fogo. Si arguém ka sabê sés significadu, podê purguntan.

Foto: colagem de Susanna Gordon

15 de fevereiro de 2008

minhas horas

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A prata é um vegetal como a alface.
Primaveril, frutifica em setembro.
É branca, dúctil, dócil (como diz a Lucy)
e, em março, venenosa.

O cobre é um metal que se extrai da flor do fumo.
Tem o azul do açúcar.
É turvo, doce e disfarçado.
O ouro é híbrido - flor e alfabeto.

Osso de mito, quando oiro é teia-de-abelha.
A precisão do maduro. Dele se fabricam a urina e a velhice. (f.gullar)
(foto: Gullar no seu escritório, autor: Rogério Faissal)

Poesia Intacta

Ancoro-me em palavras, quando em mim pouco ou nada habita.
Entrego-me a vozes, quando meus momentos me traem.
Nessas horas, pressinto a vida, a eternidade, e sobretudo a morte : poesia intacta. (pura eu)

14 de fevereiro de 2008

Por amor...a Guiné

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Um grupo de jornalistas e artistas de Cabo Verde e Portugal participaram com poemas de amor no livro Amar com amor a ser lançado, hoje, em Portugal, evocando o dia de S.Valentim. A iniciativa é da Organização Não Governamental para o Desenvolvimento Saúde em Português. « A ASP quis aproveitar a efeméride para convidar à prática de um acto de amor ao próximo, concebendo uma campanha com esse nome destinada a angariar fundos para apoiar um projecto de três anos na área da saúde que este mês se inicia na região de Bafatá, na Guiné-Bissau » referencia a nota de imprensa.
O acto em si é carregado de simbolismo, porquanto assinala a cumplicidade que ao longo da história existiu entre Portugal, Cabo Verde e Guiné Bissau.
«Com desenhos de António Alves (Portugal) e Tchalê Figueira (Cabo Verde), Amar com amor reúne a poesia dos caboverdianos Vasco Martins, Lay Lobo, Chissana Magalhães, Eileen Barbosa, Tchalê Figueira, Margarida Fontes, Elisa Schneble, Edmir Ferreira e J.H. Brito Pereira. Os poetas portugueses são Alluos Sollau, Rosa Costa, Pintor Abrunheiro, Duarte Klut, Joana Patrício Pereira e Fernando Gomes.»

13 de fevereiro de 2008

Trilha e thriller

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1. Deixamo-nos levar, por vezes, e a estrada nos confunde, por mais dominada que a tenhamos. O bom, é que cada caminhada, ainda que em devaneio, tem as suas luzes e sombras. A cada passo, quando assim nos propusermos, descobrimo-nos a nós, e às pedras. E o destino, sempre intrigante, fica à nossa espera.

2. Já circula pelo mundo uma edição de luxo CD/DVD do Thriller de Michael Jackson, para comemorar os 25 anos daquele que foi um marco na produção de videoclips. Pela primeira vez um realizador, em 1983, desenhou um enredo para um clip de televisão. Só a partir desse lançamento, é que músicos e produtores do mundo todo começaram a se preocupar em ter pequenas histórias narrando as músicas. Antes, não se tinha essa inclinação narrativa e estética da canção na tela. Para muitos, Thriller tem muito de cinema, uma curta-metragem autêntica. Para recordar aqui.