13 de abril de 2014

Da Crioulização dos espíritos

No calor do debate sobre a 'Crioulização' ocorrido no âmbito da Atlântic Music Expo, um participante oriundo do nosso continente apresentou-se como parte de uma determinada etnia, e disse que tinha dificuldade em entender essa ideia de crioulização, em que a pessoa é um coisa e outra ao mesmo tempo. Para atenuar a sua inquietação o músico haitiano, Erol Josué, numa inabalável crença, explicou que se trata de um estado de espírito que nasce dessa tal África mítica que, em dinâmicas diversas, acaba por unir as diásporas negras mais saudosas. Com olhar complementar, Mário Lúcio revisitou a tese do intelectual antilhano Édouard Glissant que desconstrói o princípio de identidades unitárias e fixas com a sua tese de identidade construída ‘na relação’, aberta, e interdependente...Do Brasil, o músico Chico César trouxe sublinhados sobre (o problema) das dinâmicas identitárias e rácicas naquele país de dimensão continental, e nesse aspecto Mário Lúcio é da opinião de que ‘eles’ tem algo a aprender connosco, nestas ilhas perdidas no meio do atlântico.

Na relação ...

No primeiro dia do Kriol Jazz Festival a ‘americana da Brava’, Cândida Rose, dona de uma voz imponente e com o pano sobre a coxa, surpreendeu com um batuco/jazzi, a seguir Ismael Lo do Senegal cantou Áaaafrica, aquela imensa mamãe preta, a tal solteira da lida e da labuta, de quem ontem, no último dia do festival, mestre Chico César nos lembrou.

Agrada-me que em Cabo Verde um dos berços que deu novos mundos ao mundo, se dê passos interessantes para uma imparável mundialização em construção. Mais do que a globalização, a mundialização confere às novas sociabilidades propostas pelo encontro dos mundos o humanismo que a presente era demanda.

Há dias a imprensa avançou que Gloria Stefan e Carlos Santana interpretaram uma música de Boy Gé Mendes num espectáculo no México. A isso gostava de acrescentar que a esposa do Santana, a Cindy Blackman Santana esteve com a sua banda no kriol Jazz festival de 2012. Vejam só o resultado da tal ‘relação’ com o outro!

Gostava, sim, que Glissant estivesse vivo e participasse nesses dois eventos de ‘todo o mundo’ que a capital cabo-verdiana acabou de sedear neste imenso Abril! Bem haja…

Na foto: Ismael Lo e banda