31 de março de 2010

Horace Silver é patrono do Kriol Jazz Festival

horace silver















Horace Silver nasceu em 1928 com o nome Horace Ward Martin Tavares Silva. É pianista e compositor, fundador do hard-bop e galardoado em 2005 com o Grammy Awards. António Correia e Silva num programa de televisão em 2005, falava da necessidade premente de Horace Silver ser homenageado pelo estado de Cabo Verde. Uma homenagem que também será de um tempo histórico ligado à pesca da baleia. Isso, porque Já à volta de 1780, muitos barcos, oriundos de New Bedford e de Nantukect, portos baleeiros dos EUA, começaram a escalar com regularidade as ilhas de Cabo Verde, e, em particular, a ilha do Maio, onde se abasteciam e engajavam tripulantes, dando início à imigração cabo-verdiana para os EUA. Foi desta forma que o pai de Horace Silver viajou para os Estados Unidos.

Silver apesar da distância (muito fisica, já que nunca esteve em Cabo Verde) e da sua agenda determinada pelo showbizz, não perdeu a ligação à ilha e aos seus ascendentes, como afirmam as suas composições The Capeverdean Blues e Song for My Father. Ou mesmo a carta que escrevera, em 1980, a um tio radicado na ilha do Maio. Sobre este pianista de dimensão mundial, fica este trecho lapidar.

“Some of the most influential horn players of the '50s, '60s, and '70s first attained a measure of prominence with Silver -- musicians like Donald Byrd, Woody Shaw, Joe Henderson, Benny Golson, and the Brecker Brothers all played in Silver's band at a point early in their careers. Silver has even affected members of the avant-garde; Cecil Taylor confesses a Silver influence, and trumpeter Dave Douglas played briefly in a Silver combo.”

curiosidades:

O pai de Horace Silver chamava-se João Tavares Silva e nasceu em Calheta, ilha do Maio, onde ainda residem muitos familiares seus. O pianista é primo do conhecido compositor maiense Adalberto Silva (Betú).

Vasco Martins arranca Kriol Jazz Festival

vasco martins














A anteceder os dois dias da segunda edição do Kriol Jazz Festivall, um concerto de piano com Vasco Martins será realizado no Centro Cultural Português, dia 8, às 20H.

A 9 e 10 de Abril de 2010, a praça António Lereno no Plateau receberá um leque diversificado de artistas, (Vasco Martins, Kora Jazz Trio, René Lacaille, Ralph Thamar Mario Canonge, Kim Alves, Manhattan Transfer, Jaques Morelenbaum & Cell...Tumi & the Volume, Princezito) equilibrando as participações nacionais e estrangeiras, cujas actuações não deixarão ninguém indiferente, pela sua qualidade incontestável.
Cada dia de festival começa com a actuação de um artista cabo-verdiano e continua noite adentro com os convidados estrangeiros. Ver site: www.krioljazzfestival.com. Ao se focalizar nessa referência internacional que é o Jazz, este projecto propõe criar um reencontro cultural baseado na crioulidade.
Paralelamente, haverá uma série de workshops com artistas, com o intuito de promover encontros entre os artistas nacionais e estrangeiros, de modo a partilharem conhecimentos e experiências, e também entre o público e os artistas. Os workshops são feitos, tal como em 2009, quando se verificou grande interesse e adesão, em parceria com a Universidade de Cabo Verde, e é no auditório desta que se realizam, em três dias.
Como novidade este ano, há a colaboração da Organização Cultural dos Países de África, Caraíbas e Pacífico (ACP) fazendo com que vários organizadores de festivais internacionais estejam presentes na Praia. A organização do Kriol Jazz Festival pretende promover encontros entre esses profissionais internacionais e os responsáveis da cultura nacional, managers e produtores locais.

Informações úteis:

Bilhetes: 500 esc. /dia ou free-pass para os dois dias: 800 esc.
Locais de venda dos bilhetes: Já à venda na Harmonia; na próxima semana, estarão também no Café Sofia e Espaço K.
Horários: 1º concerto a cada noite tem início às 20h.
Concerto de abertura, Vasco Martins: Centro Cultural Português, dia 08 de Abril, às 20h.

KJF Comunicação

28 de março de 2010

SUBVERSIVA

subversiva














A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

Ferreira Gullar

25 de março de 2010

Rio e rio...

media




















O debate sobre o pacote legislativo relativo à comunicação social dominou o parlamento esta semana.
Habituados que estamos à falta de consenso entre o MPD e o PAICV, creio que poucos se deram ao trabalho de perceber quais são as novidades desse pacote, e os pontos de desentendimento entre as duas bancadas, particularmente no que tange às novas preocupações do executivo no quadro dos media.

Introduziu-se um item no rol das funções da comunicação social denominado de função social e económica com o argumento de que “existe um sentimento generalizado de que a comunicação social está à margem do desenvolvimento…” e que “no estado actual de desenvolvimento nacional esta função deve ser enaltecida”. Ou seja, “A comunicação social tem que ter um papel activo na vigilância da qualidade dos serviços que o País presta, incentivando e até premiando boas práticas nesta matéria, mas também, criticando e censurando as más práticas.”
Tudo isso consta na exposição de motivos da lei que regula o exercício da actividade da comunicação social, aprovada na terça-feira.

Os motivos continuam e “assim preconiza-se, na presente proposta, que a comunicação social passe agora a competir incentivar e apoiar políticas económicas de qualidade, estimular os agentes económicos para as boas práticas em matéria de prestação de serviços, apoiar os organismos de defesa dos consumidores na protecção dos interesses dos associados, exercer censura pública contra as más práticas em matéria de prestação de serviços e facilitar o acesso dos agentes económicos aos meios de comunicação social para divulgação dos seus produtos e serviços.

2. Esta mesma lei inova em sede do direito de resposta. A pérola seguinte chega a ser surpreendente: “ fica estabelecido um inequívoco direito de esclarecimento que consiste na faculdade que deve ser reconhecida a uma pessoa de, perante referências, alusões ou frases equívocas, passíveis de constituir calúnia ou injúria, instar o meio de comunicação social para proceder à necessária aclaração da informação veiculada.

3. Não pretendia entrar nos meandros específicos de cada Lei, mas a proposta para a aprovação da Lei da Imprensa Escrita e de Agência de Noticias ficou aprovada ontem, e o susto continua. O novo capítulo da Lei regula o exercício do jornalismo on-line. Tenta-se esforçadamente perceber a essência desta regulação, mas o que fica patente é que o executivo está muito incomodado com os comentários feitos por leitores anónimos. Esses comentários, e outros “crimes de imprensa” podem contribuir para perturbar a “harmonia social”, uma expressão ontem largamente debatida no parlamento.

4. A AJOC mostrou-se muito preocupada com a Proposta de Lei que aprova o Estatuto do Jornalista, e quer porque quer que haja um representante da associação no Orgão Regulador. Até chegarmos lá, o estrago já estará feito.

5. E a lei que regula a Televisão? …” entende-se hoje que o serviço público de televisão, que tem por objectivo educar, informar e distrair, é um serviço que pode ser prestado tanto por órgãos do Estado como pela própria sociedade civil.” Sociedade civil a prestar serviço público de Televisão?, porque não assume logo o privado, onde as obrigações e os deveres não extensamente menores?

Não concluiria esta nota, e nem teriam paciência de a ler, são muitas as novidades.

18 de março de 2010

Poesia segundo Neruda

anima poetica
















Há uma passagem do discurso proferido por Pablo Neruda quando recebeu o Prémio Nobel que particularmente me agita a alma: e como caminhamos para o dia da poesia, nada melhor do que partilhá-la:

"Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum."

11 de março de 2010

intermezzo existencial

intermezzo




















Sempre apreciei a máxima de Voltaire "ama a verdade e perdoa o erro"...

ainda que navegue por mares conturbados...
ainda que caminhe entre pedras,
e contorne íngremes montanhas,
ainda que caia…
vou continuar
sempre
a acreditar
que o choque da verdade
é menos sofrível do que
a chaga da mentira.

9 de março de 2010

Perdemos o missionário













*Aprecio o silêncio de certas ilhas, como de S.Nicolau e da Brava, e é precisamente nesses lugares onde, por razões pessoais, tenho tido maior contacto com a fé, particularmente com alguns padres.

O dedo de prosa que tive com o Padre Mauro, de 88 anos de idade, 45 em Cabo Verde, foi particularmente fascinante. Desta feita, fomos além do mero cumprimento e a nossa troca de ideias fez brilhar os olhos desse eterno habitante do Seminário-Liceu.

Um pouco da sua fascinante trajectória. Padre Mauro saiu da Itália numa missão dos Capuchinos para a Ilha do Fogo com apenas 30 anos, em Março de 1949. “Vim num barco mercantil e o meu primeiro contacto com Cabo Verde aconteceu em S.Vicente”. O cenário de desolação foi o primeiro choque, diz. Não saiu do barco, e na noite de 31 de Março seguiu para a Praia onde foi recebido pelo bispo hesperitano, D. Faustino Moreira dos Santos.

Da Capital rumou para S.Filipe numa embarcação de nome Senhor das Areias, a 8 de Abril de 1949.À chegada em S.Filipe estava a ser aguardado pelo padre Luis, que vivia nos Mosteiros. “Foi a primeira vez que andei numa mula”, conta. Foram dois dias de viagem, de S.Filipe para os Mosteiros.

Esse missionário lembra, com detalhes, a erupção vulcânica, ocorrida a 12 de Julho de 1951. O agente agrícola na Ilha, Sr. Leonel, o administrador, Sr. Luis Rendall, e os reverendos Piu e Luis foram as primeiras pessoas a prestarem socorro aos sinistrados de Chã das Caldeiras. Conta, em tom jocoso, a saga dos trabalhadores que tiveram de abrir a estrada depois da erupção e que, na hora da merenda, aqueciam a comida nas lavas.

Ah, antes que me esqueça! Ele remata também que, na época, só existiam três automóveis na Ilha do Fogo, e que nos Mosteiros, onde vivia, não chegou a ver carro algum. Havia um velho camião que pertencia a Sr. Augusto Vasconcelos, precisa.

Do Fogo, o Missionário viajou para a Ilha do Sal, onde chegou a celebrar o centenário da Nossa Sra da Piedade, em Santa Maria, com a saudosa presença do Sr. Bonafoux, o empresário da Salins du Cap-Vert. Essa capela, afirma, foi construída por um senhor conhecido por Duro.

Permaneceu no Sal por 5 anos, num tempo em que as missas ainda eram rezadas em latim.
Esteve também na Boavista, por 4 anos.

Para S. Nicolau veio em dois tempos diferentes, perfazendo ao todo 23 anos, e é aqui, no silêncio da Vila Ribeira Brava, que pretende passar os restos dos seus dias.

Foi uma conversa onde se juntaram o passado e o presente. E as recordações fizeram-se naturalmente. “Gostava das pessoas. Tinham um respeito ilimitado para com os padres”, afirmou. “Havia uma radicalidade de fé no povo”.Transcrevo estas linhas soltas, tal como saíram da boca do Missionário. Ele teve necessidade imperiosa de as contar. E eu um grande prazer de as escutar. Pairando nesse diálogo, o élan do silêncio de certas ilhas…

* Este texto foi publicado n´Os momentos em 2006 com o título Conversa com o missionário. Padre Mauro faceleu, ontem, em Torino, Itália, onde se encontrava há quase dois anos em tratamento médico.

3 de março de 2010

Narciso e Narciso

magritte






















Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.
(...)
Ferreira Gullar

1 de março de 2010

Um desabafo

propaganda





















Permaneci em silêncio, sussurrando apenas com os meus botões, ouvi tudo o que se disse acerca da última remodelação de José Maria Neves, mas ninguém dizia aquilo que ansiava ouvir. Até que numa sexta-feira, en passant, li no jornal A Semana que a pasta da Comunicação Social continua sob a alçada do Ministro Sidónio Monteiro, agora tutela das Comunidades. Por um momento pensei que tivesse sido extinguida! Seria um rasgo de coerência sem precedentes …

Liberdade na propaganda

A questão é: para quê silenciar, se a propaganda é liberada nos mais públicos meios de difusão? Num país onde a propaganda flui com naturalidade, perante o silêncio da oposição que sonha fazer o mesmo quando ocupar o Palácio, o jornalista não passa de um lacaio vencido pelo cansaço… daí que eu defendo, criem um Gabinete de Propaganda do Governo (GPG) com legitimidade para ludibriar os cabo-verdianos e as cabo-verdianas, e extingam (melhor, mudem os estatutos) dos órgãos públicos de comunicação, começando pela TV pública.