7 de maio de 2012

Depois da Bandeira























1. SÃO LOURENÇO continua a ser um dos lugares mais agradáveis da Ilha do Fogo. O cemitério casado com a igreja e a casa paroquial; um lugar quase ermo, com a cara voltada para o mar, e um punhado de terra no ventre. Terra boa que d...eu bons filhos à ilha. Nesse cemitério, sob a imagem de uma pirâmide, mesmo à entrada, fica a campa do médico e escritor, Henrique Teixeira de Sousa, natural de Outrabanda, freguesia do Santo. Dois passos à frente descansa eternamente Padre Fidelis Miraglio, o eterno pároco de S.Lourenço e um dos primeiros Padres Capuchinhos italianos a pisar Cabo Verde. Na residência paroquial, mesmo ao lado, vive outro pastor de S.Francisco: Padre Camilo Torassa, italiano, filho de Cuneo, a viver entre Fogo, S.Vicente e Brava há mais de 50 anos: apesar do mal que lhe aflige os olhos e as pernas, a lucidez o acompanha. Éramos quatro adultos e uma criança, e fomos expressamente a São Lourenço para o visitar. Conversa vai, conversa vem, desafiou a um dos visitantes que considerava um pouco apagado ultimamente, a não abandonar a luta: “afinal, luta é luta”, disse. Padre Camilo pronunciava uma palavra e sublinhava um sentido que conhecia bem. Essas três figuras, entre mortos e vivos, Teixeira de Sousa, Padre Fidelis, e Padre Camilo, fazem ferver a memória e reviver a Ilha do Fogo no seu melhor; obrigam a uma revisão de lugares e gentes; Tu me disseste que vai reler todos os livros de Teixeira de Sousa. Eu vou fazer o mesmo, e algo mais, porque 2 de Maio fez-me voltar a um estado de nostalgia e vontade do reencontro que só o futuro pode descortinar; é que, como sabes, apenas o futuro está encarregue de separar a razão do sentimento. Obrigada, aos vivos e aos mortos!

 2. 2 DE MAIO, Henrique Pires na Casa das Bandeiras a ultimar as pendências do “day after”. Waldomiro Dias, Nataniel e as outras coladeiras, uns sentados num banco comprido encostado à parede do quintal, outros dispostos na escadinha da praceta à frente do portão; todos, como nos anos passados, relutantes a aceitar o adeus à Bandeira: os tais personagens anónimos que Fausto do Rosário quer ver homenageados no Centenário da Bandeira de S.Filipe em 2017. Deus há de dar vida e saúde!