27 de dezembro de 2006

Feliz Ano Novo


© Adenor Gondim

Nossa Senhora da Conceição é a Santa mais presente na minha memória. É a padroeira do meu Concelho, e "xará espiritual" de Iemanjá, minha divindade de eleição e mãe de todos os Orixás. Iemanjá é a orixá do nascimento e da morte, e de todas as transformações que resultam em bonança, em felicidade e progresso. Nas vésperas do Ano Novo são estes os meus votos (para si) que visita este espaço... a água, a mãe, a felicidade, o trabalho, a luz ...

22 de dezembro de 2006

Nhara Santiago

Frederico Hopffer Almada, mais conhecido por Nhônhô Hopffer, lança agora o seu primeiro álbum, intitulado “Nhara Santiago”. É um trabalho que vem agregar ao mercado discográfico algo de novo e de qualidade. Nhônhô Hopffer faz uma viagem panorâmica sobre os vários estilos da música cabo-verdiana, com paragens mais demoradas pelos ritmos da Ilha de Santiago, cujo título faz uma dupla homenagem, tanto à Ilha, aqui mater, como à própria filha. O músico, que é arquitecto tem um cunho próprio e pessoal. Inconfundível. Quem conferir, confirmará estas palavras. “Nhara Santiago”, uma prenda para este Natal e qualquer ocasião. Apetece gritar “Viva a Música”…

"Nhara Santiago" é disco que lança o arquitecto Frederico Hopffer oficiamente nas lides musicais. Como é que explica o binómio músico-arquitecto?
Sinto-me perfeitamente bem na pele de um ou de outro, aliás acho que as duas áreas se complementam, é difícil encontrar um arquitecto que não goste e muito da música ou de tudo que é arte e cultura. Alguém já dizia que a arquitectura é a mãe de todas as artes. Entretanto, considero-me mais como intérprete do que músico. Este meu disco me completa espiritualmente. Nunca teria paz até realizar este sonho. Eu, a minha família e Deus sabemos.

"Nhara Santiago", tal qual "Traz di Som", de Ângelo Barbosa, parece ser um projecto federador de artistas e suas sonoridases. Que razões o levaram a elencar um sem número de músicos neste disco? Qual é a causa sentimental deste trabalho?
Como disse no projecto que apresentei aos financiadores tinha já havia a garantia técnica do exímio Kim Alves e seu Kmagic Digital Studio. Contudo, quis sempre ter o grande “abraço”, o máximo possível de amigos músicos nesta “aventura” séria. Eu sou assim. Quis que viajassem comigo neste disco. O resultado penso que está à vista e todos os músicos que participaram, incluindo os compositores, estão satisfeitos. Espero também que principalmente o público venha a gostar deste projecto.

Entre Santiago, maternal e matricial, e a sua filha, há um fio condutor evidente e razão onde emerge o título deste trabalho. Fale-nos um pouco desta relação e desta simbiose.
É verdade. O disco chama-se Nhara Santiago. Eu dediquei este disco ao Caboverdiano, mas sobretudo à ilha de Santiago. Eu adoro Santiago. Como nome e como ilha. Tanto adoro que a minha primogénita chama-se Nhara Santiago que também deu nome ao disco e é também o título de uma das 12 faixas que compõe este CD.
A letra e música pertencem ao amigo e compositor Mário Lúcio oferecido e cantado na noite de “sete” da Nhara.

Um disco de mornas e funanás. Como é o processo criativo de Nhônhô Hopffer?
Escolhi os dois ritmos que no meu entender, mais força possuem em Cabo Verde. A morna, pela sua expansão e ao mesmo tempo por acalentar a saudade e o romantismo, e o funaná pela sua explosão, sobretudo no período pós independência, transportando-nos, assim, para as nossas origens e hoje indiscutivelmente música nacional.
Queria também dizer que as mornas e funanas serviram também de homenagem à memória de algumas personalidades da nossa cultura como; Eugénio Tavares, Carlos Alberto Martins (Catchás), BLeza, Orlando Pantera, Zequinha, Ildo Lobo, Ano Nobo, Caetaninho e Bibinha Cabral.

A selecção foi muito cuidada. Ao seleccionar artistas e composições, já estaria a formular uma mensagem particular ao público cabo-verdiano? Trata-se tão só de música ou há algo mais a ser revelado?
Depois de tanto tempo à espera para a gravação do meu primeiro CD, não queria deixar de compartilhar com o merecedor povo Cabo-verdiano o que considero ser entre os melhores: músicos e compositores.

Quando e como vai ser o lançamento de "Nhara Santiago"?
Está previsto para o início do próximo ano, e julgamos poder ser em diferentes momentos e locais e em jeito de divulgação da nossa cultura.

E depois do lançamento, quais os planos futuros?
Quem sabe?! Um novo CD intitulado Frederika Santamaria, mantendo, pelo menos, a mesma qualidade.

20 de dezembro de 2006

Bailarina Negra


A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz

A noite
Sempre a noite
Sempre a indossolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz

Um perfume de vida
esvoaça
Adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão

Amor,
Vénus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece

Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãns de fogo
amor.

António Jacinto ... C.T. Chão Bom, 4.9.70

19 de dezembro de 2006

Da Cor


"Da Cor do Pecado" é o título da nova telenovela da Globo, agora emitida pela TCV. Para começar, não gosto do título. Em segundo lugar, sou contra a emissão desregrada de telenovelas, principalmente se vermos seus custos. Numa dessas sessões de reflexão, que ultimamente tem povoado a Comunicação Social local, me disseram que são exigências do mercado... e essa! “Da Cor do Pecado” é a primeira novela da Globo, depois de décadas de produção, a trazer uma protagonista negra. Curiosamente, o director era um novato. Outra inovação dessa produção é o cenário. Todas as novelas e séries que discutem questões raciais no Brasil eram produzidas na Bahia, o mais densamente “africano” de todos os estados brasileiros. Desta vez, escolheram acertadamente o Maranhão: um grande Estado, com o maior património colonial construído do Brasil. São Luís, sua capital, é considerado um museu a céu aberto, com um legado arquitectónico português, o mais marcante das terras de Vera Cruz. Alcântara, outro cenário dessa novela é também património mundial da UNESCO. A cultura afro-brasileira tem no Maranhão um berço fecundo. Tudo a ver…
O enredo é leve, aliás como todas as novelas das 7 da TV Globo. E a abordagem racial é feita de forma um tanto preconceituosa... mais do mesmo. Porque é que a Preta, negra, linda e pobre tem dificuldade em acreditar que Caco, branco, rico, pode estar apaixonado por ela!? Qual é a pertinência dessas questões para a realidade cabo-verdiana? Afinal, porque consumimos, surda e acriticamente, todas as telenovelas que nos chegam da poderosa e preconceituosa Rede Globo de Televisão? Como diria Noam Chomsky, precisamos ponderar criticamente a maneira como estamos diante da televisão…

18 de dezembro de 2006

A canção em mim


Termina o 2006 ... e são estes os meus versos.
Roubei-os da doce voz da Zélia Duncan...

Jura Secreta

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada que eu quero me suprime
De que por não saber 'Inda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Sol que me cega
O que me faz infeliz
É o brilho do olhar
Que não sofri.

15 de dezembro de 2006

A África que criamos

(...) A desilusão com o “Messias brasileiro”, Gilberto Freyre, pai do luso-tropicalismo de tão grande influência e reverência entre os claridosos, e detractor confesso do crioulo caboverdiano, que, segundo ele, seria, como acima se referiu, sintoma da “instabilidade cultural dos cabo-verdianos” e prova das ‘insuficiências luso-tropicais’ da cultura caboverdiana, propiciaria a Baltasar Lopes uma oportunidade histórica para assumir o idioma cabo-verdiano como o facto identitário mais relevante em Cabo Verde, “tão radicado na terra como o homem crioulo”, de modo tal que a sua extirpação premeditada equivaleria a “crime de genocídio cultural”. Mais tarde, designadamente no “Prefácio” para “A Aventura Crioula”, de Manuel Ferreira, pôde Baltasar Lopes transitar para a compreensão da cultura caboverdiana como uma cultura estabilizada, e não condenada à dissolução na cultura europeia.

(...) A transição de Baltasar Lopes da Silva foi grandemente facilitada pela teorização culturalista de Teixeira de Sousa e Gabriel Mariano, depois largamente difundida por Manuel Ferreira, particularmente no livro A Aventura Crioula.

(...) É Gabriel Mariano o intelectual caboverdiano que, a par de Baltasar Lopes da Silva, Félix Monteiro e Teixeira de Sousa, mais demoradamente se debruçou no tempo colonial sobre a cultura caboverdiana.

(...) Para esse intelectual, a cultura caboverdiana é fruto de circunstâncias específicas no quadro do império colonial português e do colonialismo, em geral. São essas circunstâncias específicas que teriam determinado, por um lado, a formação da identidade caboverdiana como nacional e teriam condicionado, por outro lado, a formação do povo caboverdiano como povo biológica e culturalmente mestiço. Escreve o ensaísta: “Em Cabo Verde, acontecimentos especialíssimos, e de nenhum modo preconcebidos, quase que anularam aquilo que é a essência própria da colonização: a subordinação integral do colonizado ao colonizador e a consequente destruição da personalidade em favor deste. Quer dizer, o que explica, possivelmente, o caso caboverdeano é a pouca consistência dos vínculos de subordinação colonial aí estabelecidos. Pouca consistência que me parece ser obra não dos métodos de governação, mas antes do simples fluir das coisas”.

Excertos de uma profunda indagação identitária, e fundamentalmente política de José Luis Hopffer Almada. Ler na íntegra, aqui!

5 de dezembro de 2006

Para além da arte



O livro Kab Verd Band do jornalista, Carlos Gonçalves, tem como mérito trazer a questão musical da perspectiva não só de um músico, mas de um musicólogo. Diferenciar esses dois espaços terá sido o grande desafio com que o autor se terá deparado ao longo das suas pesquisas e dos seus escritos, aspecto que não deixará de saltar à vista do leitor mais atento. Abordar a música, para além da arte, mas assente na ciência, nos recoloca a novos olhares da música cabo-verdiana contemporânea. A todos os títulos, importa ler este livro, tal curiosidade levou-nos a entrevistar o seu autor.
Que razões o motivaram para um olhar científico, acrescido ao seu olhar artístico sobre a questão musical?
Esta é uma questão difícil de responder em poucas palavras. Julgo que na introdução ao livro respondo a esta questão em pormenor. Mas vou dizendo que foi um processo... primeiro fazia programas e escrevia sobre música por uma questão artística, mas a pouco e pouco foram surgindo questões e eu queria saber as respostas... E foi na procura das respostas que acabei por vestir um pouco a pele de investigador... Mas considero-me um curioso que quiz compartilhar com o grande publico muitas respostas que fui encontrando... ao longo da minha vida profissional.
Como foi o processo de pesquisa para a escrita de Kab Verd Band? Que desafios enfrentou?
Bem, Kab Verd Band é antes de mais uma compilação de muitos escritos que fui produzindo desde 1975 até sensivelmente 1996. Como digo na introdução do livro, depois de ter classificado toda a documentação que eu tinha guardado, verifiquei que faltavam algumas respostas, alguns elos.... Fui então à procura das respostas. É o caso dos capítulos sobre os géneros musicais, onde andei à procura de respostas. Mas as respostas não são definitivas, trata-se apenas do começo de uma grande aventura, pois eu esboço caminhos, indico pistas... aos mais jovens e mais curiosos que continuem à procura e a investigar.
Como encara a música cabo-verdiana nesta era contemporânea? Quais são os seus grandes desafios?
Olha toda gente anda neste momento apreensiva, com o Zouk, o Rap e o Hip Hop etc. A grande verdade é que ao longo dos tempos desde o século XIX, que esta preocupação tem perseguido a música de Cabo Verde. Mas a nossa música sempre tem resistido... digo tem digirido toda as espécie de influências e aí é que está a sua vitalidade. Devemos lembrar que a nossa cultura é fruto do cruzamento de diversas culturas, um processo que julgo continua nos nossos dias... a verdade é que as influências forçadas acabam por ser rejeitadas... é o caso de músicos que fazem experiências forçadas (tentando inovações) que não pegam... Olha lembro-me agora, num artigo escrito em meados dos anos 90, eu perguntava: Quem será o Carlos Alberto Martins dos anos 90? Qual será a próxima revoluçao? A resposta surgiu nos finais dos anos 90 com Orlando Pantera e a eclosão da moda do Batuque... Portanto, há-de surgir novidade e inovação nos próximos tempos.
A música ocupa um lugar destacado no mosaico cultural de Cabo Verde. A que se deve esta força?
Julgo que só agora é que nos tomamos consciência da força da nossa música, a potência que nós somos, porque antes, havia a noção do clássico... a literatura era arte nobre, a música nobre seria a música clássica e nós não tinhamos a música clássica, música erudita.... É após a independência que surgem movimentos, por um lado de valorização do tradicional (criar uma nova música para sair do binómio estreito Morna-Coladeira) e por outro visando criar uma música erudita ou então uma música segundo as últimas correntes estéticas em voga pelo mundo (caso de Vasco Martins que começa primeiro com o clássico "tout court" e depois se envereda por outras linguagens). Mais tarde, depois do sucesso do movimento de revalorização do tradicional (movimento Funaná) e o triunfo do "pau e corda" (Cesária e o binómio Morna-Coladeira), a força da nossa música revela-se com tal amplitude que ultrapassa outros géneros artísticos... O trabalho abnegado de muitos músicos e compositores, o seu talento, aliado a grandes intérpretes, o profissionalismo, uma abertura de horizontes e muita ousadia, julgo está na base deste destaque da música de Cabo Verde.

Lançamento: 7 de Dezembro, Quinta-Feira, 18:30, Centro Cultural Português
Apresentadores: Manuel Brito Semedo e José Maria Semedo
Edição: Arquivo Histórico Nacional
Distribuição: Biblioteca Nacional

20 de novembro de 2006

Capote

ExampleUm dos filmes que mais desejei ver desde o seu lançamento. Mas confesso que esperava outra coisa. Truman Capote (jornalista e escritor) escreveu A Sangue Frio, em 1966, o livro que marcou terreno no jornalismo literário. Um romance não ficcionado que narra um crime múltiplo e horrendo que vitimou quatro membros de uma família, em Kansas, Estados Unidos, em 1959. Truman Capote, enquanto jornalista da Revista The New Yorker, foi destacado para cobrir a investigação, e a repercussão desses crimes. Presos e sentenciados que foram os assassinos, o jornalista resolveu fazer um outro percurso. Descobrir as reais motivações dos autores de tamanha atrocidade. Levou anos a entrevistá-los, estabeleceu uma estreita relação com Perry Smith, um dos assassinos, cujos relatos acabaram por dar corpo ao livro que chocou a América - In Cold Blod.

Já o filme Capote (2005, Bennett Miller) é diferente. Centra, do principio ao fim, na personalidade excêntrica de Truman. Sente-se pouco os assassinos, tão presentes no romance, pouco ou nada se sabe da família assassinada, ao contrário do livro. Foi um caminho escolhido, dentre tantos. A actuação de Phillip Seymour Hoffman é a pedra de toque da narrativa. A fotografia é igualmente muito cuidada. Um dos momentos altos da realização, na minha percepção, é a tensão provocada pelo movimento de câmera no corredor da morte, quando Truman conversa com Perry, pela última vez. Capote é, no meu ponto de vista, o filme que resulta ser visto antes da leitura de A Sangue Frio. Frustra menos.

13 de novembro de 2006

Retalhos


Jackson Pollock
É recorrente o uso do titulo acima neste blog, e acontece, normalmente, quando não consigo encontrar um tema fechado. Terá que ser fechado?! Pergunto, não com pouca frequência. O certo é que quando assim é, desenho retalhos, ou simplesmente confesso-os. Se interessam ou não, é uma outra história. Agradam-me, simplesmente.

Na confusão dos meus retalhos, leio as últimas páginas do Aonde o Vento me Levar, acabado de sair do forno, do jornalista e escritor, Manuel Jorge Marmelo. Serei a primeira leitora, creio. As viagens errantes de M. são proprocionais à quantidade de mundos, meta(físicos) que se nos oferece no romance. Apraz revisitar as cidades dos livros e saber que elas nunca poderão ser como nos livros. Macondo de Garcia Marquez, Praga de Kafka, Lourenço Marques de Francisco José Viegas e Santiago de Cabo Verde de M. só existem nos livros. Sobre o obcessivo amor de M. pela Atla, darei a minha opinião ao autor, no fim da linha, quando tudo ficar mais claro.

Do Brasil, dir-se-ia que do lado esquerdo do peito, recebo 25 anos do Movimento Negro no Brasil, um livro prefaciado por Gilberto Gil que reúne textos e fotografias que ilustram as várias vertentes dessa luta titânica pela igualdade racial naquele pedaço de América. O livro documenta, com fotografias, todos os momentos altos desse combate como O primeiro encontro internacional de arte negra, Kizomba, no Rio de Janeiro e o dircurso de Nelson Mandela, na Praça Castro Alves, Salvador, em 1991. Os autores dos textos são personalidades e estudiosos que lideraram as lutas raciais no Brasil, sob perspectivas diversas.

Os infiltrados de Martin Scorsese
"Os infiltrados não é um de seus grandes filmes; ele não usa a câmera para revelar as dimensões psicológicas e estéticas de todo um universo, como em Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável e Os Bons Companheiros. (...) Scorsese tenta fazer com as palavras o que costuma fazer com a câmera, e não chega a produzir o tipo de envolvimento emocional que tornava seus filmes tão exaustivos e, ao mesmo tempo, tão satisfatórios".
The New Yorker citada pela Bravo!

Sobre Oliver Stone, e o seu último World Trade Center, tirando a crítica internacional, li a coluna da Kamia no jornal A Semana. Já agora, faço um pedido público à Kamia. Preciso ver esse filme.

Nesse fim de semana revi o Pollock, com Ed Harris. Desconcertante, doloroso e intenso.

7 de novembro de 2006

Ideologia...quero uma

ExampleO movimento “Slow Food”, criado há 20 anos por uma organização internacional que tem hoje cerca de 100 mil adeptos, nasceu na Itália, onde acaba de promover um encontro do qual participaram centenas de cozinheiros. Contrário ao fast-food norte-americano, o movimento tem origens em militantes de esquerda que buscam recuperar os “valores ecológicos e culturais da gastronomia”. A idéia é constituir uma visão humanista da nutrição que se opõe ao avanço da agroindústria globalizada.
Leia mais no mínimo

Cabo Verde esteve nesse encontro. O artista plástico Leão Lopes foi mostrar a cozinheiros de todo o mundo o que Lajedos tem. Uma experiência bem sucedida de transformação de alimentos, numa região pobre e isolada da Ilha de Santo Antão. O projecto foi idealizado pelo Atelier Mar, e visa também a crianção de uma economia local, através da promoção e modernização da agricutlura, do artesanato e, mais recentemente, do turismo solidário. Atelier Mar foi uma das primeiras ONG´s surgidas depois da independência e contribuiu, em grande medida, para uma tomada de conciência cultural (endógena) do homem das ilhas.

4 de novembro de 2006

Música

Cabo Verde está de parabéns. A música cabo-verdiana soma e segue. É este o sentimento que me invade depois de assistir ao lançamento de Fragmentos de Ricardo de Deus. Um pianista brasileiro, que reside em Cabo-Verde, desde 1999, e resolveu documentar com Bossa Nova, Lundú, Morna, Jazz e outras viagens, anos de vivências, trocas e energias musicais.
Ricardo assume a sua condição de ser musical no Fragmentos – seu primeiro trabalho. Um disco sem selo, porque brasileiro, cabo-verdiano, atlântico… universal. Um trabalho feito por degraus. “Fazer um CD instrumental, independente, não comercial, não é fácil, mas o resultado está aí”, diz.
Fragmentos conta com a participação de uma plêiade de cv músicos e brasileiros e não dispensa a voz. Tété Alhinho canta a Morna Brasileira, composição de Vera Lúcia, esposa do músico.
O músico Djinho Barbosa prefere falar da contribuição estética e académica do Fragmentos e do próprio Ricardo para à música cabo-verdiana, já que ensina na escola Pentagrama. Um artista que merece todo o nosso carinho, acrescenta a cantora Isa Pereira.
Ocorreu-me, também, falar do disco, também instrumental, de Kim Alves – Dança das Ilhas. Um trabalho admirável que demonstra a verdadeira dimensão da música cabo-verdiana. Situa e explora a morna, a coladera, o batuque, o funaná, a bandeira... Outros instrumentistas cabo-verdianos souberam dignificar o ritmo das ilhas, mas creio ser de justiça referenciar a versatilidade e o domínio do conjunto demonstrado por Kim Alves nesse disco.

Foto 1 - Omar Camilo
Foto 2 - A Semana

31 de outubro de 2006

No mínimo Mayra

ExampleDá a maior vontade de cravar aquele lugar comum: “você ainda vai ouvir falar de Mayra Andrade”. Como não sou bobo nem nada, vou me abster. Mas enquanto escrevo este post, o dedo coça quando volto a alguma faixa de “Navega”, o disco de estréia desta caboverdeana de 21 anos, com talento e beleza suficientes para tornar-se musa instantânea. (Como o disco foi lançado na França em julho deste ano pela Sony, tenho minhas esperanças de que aporte por aqui e, mais ainda, faço campanha para que isso aconteça o mais rápido) ...

Leia mais no mínimo

27 de outubro de 2006

Só pamodi bó

Só pamodi bó (um recordai pa Luís Morais) é o título de uma exposição do Mito inaugurada, ontem, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Lisboa. Os momentos aproveitou a deixa e ensaiou um dedo de prosa com o artista plástico.

Sendo as tuas exposições temáticas, qual o fio condutor a que assiste a todos os teus trabalhos? Haverá um tema maior que seja o denominador comum da tua Arte?
O meu bordão é a minha condição de CV e a forma de lidar com o mundo. A partir deste mote vou abordando as várias nuances desta mesma temática. Todavia, a música é um pólo sempre presente em todos eles. Podemos chamar a isto tudo: a cor do som.
O tributo a Luís Morais conota aqui a uma grande identificação com esse Artista. O que representa para ti a vida e a obra de Luís Morais?
Quando tinha os meus 4 anos (mais coisa, menos coisa), enamorei-me da música do Luís Morais, que na altura era muito popular. Ficava colado à rádio, nos serões em família, torcendo, para que tocasse uma faixa do Luís Morais. Sempre adorei a energia da música dele e, quando pela 1ª vez tive a oportunidade de o ver ao vivo, em 1974, tocando o seu instrumento às fatias, como ele fazia sempre nos shows ao vivo, fiquei extasiado. Em casa comecei a imitar o mestre, fabricando cornetas de PVC, com teia de aranha. A minha 1ª experiência pelo universo do scat, foi imitando os sons do seu clarinete.
Utilizas técnicas mistas e recursos combinados na feitura dos teus quadros. Em que medida os elementos compostos são meio ou fim da tua linguagem plástica?
Nos tempos que correm o mixed media parece ser a técnica ideal para se comunicar. Sempre utilizei todas as ferramentas q me estivessem ao dispor. Fotocópias, stencil, betão armado, computadores, os recursos são vários e todos eles servem. Por uma questão de sobrevivência, não existe em mim uma opção estanque.
És muita coisa – pintor, poeta, gráfico, fotógrafo, documentarista, enfim. Como definir o Mito em uma palavra? Já agora, um artista é definível em uma palavra? Justifica-te.
Em inglês diz-se: visual artist - uma definição particularmente feliz, para definir os propósitos da profissão de quem trabalha a imagem. Em português não soa tão bem. Artista visual em português, dá sensação de ser, quem ensina ballet aos ceguinhos, com o devido respeito aos portadores da deficiência. Por isso, digo sempre que sou um artista da imagem. Desde pequeno soube que seria um artista da imagem quando crescesse. Não sabia porém, os caminjos turtuosos a que isso me obriga a trilhar. Ter que lidar com um mundo desleal, oportunista, invejoso, desinformado, e pouco dado à reflexão. Sou apenas um artista visual, e não um insuspeitado anjo branco polifacetado.
O Mito é uma artista plástico cabo-verdiano ou apenas de Cabo Verde? Há elementos intrínsecos da cabo-verdianidade nos teus traços e na tua linguagem?
As duas coisas servem. Todo o meu trabalho é uma busca incessante da espiritualidade CV, sem no entanto, recorrer ao cromo postal ou ao zouk visual.
"Só pamodi bó" é um título enigmático. Qual a história ou a lenda por trás deste título? Estamos aqui perante um Mito a dizer algo que o mundo desconhece?
Nada que seja muito complicado ou subliminar. Apenas uma prova de amor, para alguém que sempre admirei, embora tivesse privado com ele, apenas meia dúzia de vezes. Apenas um cartão postal para o mestre Luís Morais, ele q quando se aproxima a época do natal, brinda-nos sempre com a sua música festiva. Quando se fala de boas festas, lembramo-nos todos, nem que por um instante o nosso barba branca – Luís Morais. Não me esqueço, de q no dia 8 de Maio 1995, no Mindelo, encontrei-o num boteco q fica junto do palácio do povo, onde ía inaugurar a minha exposição MITOmorfoses, convidei-o a tomar parte e confessei pra ele de que seria uma honra. Ele foi pontual, visitou a exposição, escreveu no livro de visitas e à saída deu-me um grande abraço e disse-me: BÔ Ê UM BULDÔNHE! Esta é uma forma de retribuir o amor e o carinho com q ele sempre nos brindou.
Quais são as outras causas do Mito, para além da Arte?
Família, desporto, comida vegetariana, computadores (...)

25 de outubro de 2006

O dia que passa


O percurso de alguém é feito de momentos, de emoções e de memórias. Nós somos a amálgama do que vivemos: o nosso passado, o partilharmos histórias, o encontramo-nos e o separamo-nos. Somos o que sorrimos e choramos... e tudo isso passa no tempo, sobrevivendo no nosso íntimo e nos molda para a vida.

Em verdade, somos o que vivemos e bastam pequenos sinais, sons fugazes - um halo apenas - para que haja em nós a confluência entre o passado e o presente. E nesse momento, nos apercebemos que nada passa, mas apenas adormece na bruma do tempo... na imensidão da existência, em espírito ou matéria. Os verdadeiros sentimentos perduram por toda a eternidade e se alimentam pela voz do passado.

21 de outubro de 2006

Laura ki sta mánda

Existem amigos e amigas, cujos convites funcionam como uma "doce intimação". Respondendo a um desses apelos, fui, ontem à noite, à Cidade Velha para assistir ao show do Beto Dias na “Gruta”. Era a primeira vez que ouvia falar nesse espaço, e andava curiosa com relação ao aspecto do novel empreendimento, erguido no berço das ilhas… modismos, diria.

A surpresa foi grande! O open space que pode ser um bar, um restaurante, ou outra coisa qualquer, nasceu no coração de um pedaço de rocha e sobranceia o mar, numa imponência admirável. A vista convida a uma viagem histórica transatlântica, ou não fosse a partir daquele mar o ataque do Corsário Inglês, Francis Drake, à Cidade Velha! Ao lado, entre casas e guentis di Cidade ergue-se uma pensão rústica, parte do projecto em andamento e com propósitos ambiciosos. A dona desse belíssimo empreendimento é uma jornalista italiana, com uma longa carreira na área desportiva, que depois de escrever histórias e mais histórias sobre estas ilhas, resolveu ser parte deste puzzle.

Laura reside na Cidade Velha e promove, dentre outras pérolas, autênticos bailes populares que já arrastam muita gente da Capital. O espaço "Gruta" merece um olhar demorado, porque é, no meu ponto de vista, um dos poucos projectos integradores existentes na Cidade Velha. Todos conseguem pagar pelos churrasquinhos, pelos ponches e pelos enérgicos bailes da “Gruta”.

Laura ki sta manda, dizem pelas bandas da Ribeira Grande de Santiago.

18 de outubro de 2006

Brava Cultura

A esta ilha nunca chegará a guerra,
A antítese do canto.
Aqui a beleza foi radical e silvestre
E num princípio não coube no rosto
Nem na mão
Nem na palavra


Aprecio muito o Nascimento do Mundo, obra de Mário Lúcio, que descreve com amor táctil as ilhas de Cabo Verde. Toca-me na alma esse trecho referente à Ilha Brava, terra de Eugénio Tavares, ali conhecido por Nhô Eugénio. Hoje, Dia da Cultura é forçoso fazer referência (e reverência) a essa figura, patrono da efeméride.
Os estudiosos consideram Eugénio Tavares como um dos grandes cultores da língua portuguesa, trabalhada em suas diversas formas. Exímio na prosa e no verso, mas também como polemista consequente de panfletos cívicos e políticos, ele é sem dúvida um dos nossos grandes patrimónios humanos. Era igualmente um cultor singular, senão mesmo figura modal, da língua cabo-verdiana, sobretudo nas suas defesas em prol da língua materna e nas suas composições musicais.

Eugénio Tavares considerava o reconhecimento da língua crioula, à par da portuguesa, como uma questão da cidadania. O bilinguismo que simboliza, em todos os títulos, a complementaridade do homem cabo-verdiano, mas que até hoje, apesar do discurso político, não foi assumido oficialmente.
Em verdade, Eugénio Tavares interpela-nos a um olhar não apenas historiográfico como também mítico. Entre sua gente, ele foi bem mais do que poeta, compositor ou polemista. Ele é lembrado, sobretudo, como uma figura mítica, protagonista de vários episódios lendários na ilha.

É nessa ilha, hoje marginalizada, que está a ser assinalado o Dia da Cultura, iniciativa que merece ser louvada. As inaugurações da casa/museu Eugénio Tavares e de uma estátua feita por Domingos Luísa são os pontos altos da comemoração. Um atelier cultural montado pelo Ministério da Cultura e seus institutos também faz parte do programa.

Do meu ponto de vista, creio ser pertinente analisarmos alguns sinais. Pensar efectivamente a Cultura, através dos seus vários agentes, conhecer a matriz cultural crioula, na sua diversidade e intensidade, olhar a Cultura como uma disciplina transversal e incontornável no desenvolvimento do país. Não apenas evocar de forma simplista a vertente mercantil, ou industrial, deste sector numa realidade como a nossa, em que comer e o emprego ainda são os grandes desafios.

Um recuo ao passado com a perspectiva do futuro é outro grande desafio. Perdemo-nos, muitas vezes, porque não conhecemos suficientemente o nosso passado. Não olhamos na sua plenitude legados como os de Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Baltazar Lopes da Silva, Amílcar Cabral e tantos outros. Precisamos cuidar dos nossos patrimónios, quer humanos, quer materiais. Com respeito e competência. Amor, principalmente.

E por que o desenvolvimento sócio integrado passa também pela Cultura, olhemos a Brava, ilha que recusa a antítese do canto, com outro senso e sentido. Um arquipélago frágil, como Cabo Verde, não pode cultivar tantas assimetrias. É desintegrador. Perigoso!

11 de outubro de 2006

Lugares


Ontem conversava com alguém sobre a emotividade. Confesso que fora uma conversa desconcertante. Susceptibilidades à parte, mas os lugares também são sujeitos de reflexão e diálogo. Ocorrem-me sempre os lugares, sobretudo aqueles que vou seleccionando como "meus lugares". São uma espécie de contrapartida aos "meus momentos". Quem sabe até sejam a mesma coisa.
Cabo-verdiana de condição, e sobretudo de opção, amo de forma muito própria os pedaços desta terra. Tenho sido recorrente, senão mesmo obstinada, no expressar o meu amor pelo Fogo, ilha que me viu nascer e crescer. Também amo, de paixão por resolver, as ilhas de Santiago, Maio e Brava. Por sinal, todas de Sotavento, mas "sem conotação alguma", como dizia o músico Cazuza.
A esses lugares, me ligam todos os sentidos a funcionar. Percepção total. Ou quase total, pois o absoluto, além de improvável, é detestável.

Guardo réstias de encontros e diálogos. Com os mais velhos. Com as histórias incríveis. Das catequeses. Das festas. Com as bandeiras e as cavalhadas. E os tambores que ainda repicam na minha lembrança…

Confessei, na referida conversa, que achava mágico o anoitecer em São Filipe. Na Ilha de Santiago, a Ribeira da Barca me faz recuar aos tempos das ligações marítimas com a ilha do Fogo. Veleiros fantásticos que sulcavam mares heróicos dos anos de antanho. Penso também no meu amor memorial pela Achada Falcão, pronunciada em quilombos, revoltas e quadras da escravatura. Talvez isso me tenha impelido a editar um documentário sobre as revoltas de Santiago. As tais razões que a Razão não explica…

Falando nisso, adoro o Porto Inglês, no Maio. O navio Essex ali parado no tempo, em escala para a longa saga da pesca da baleia. Os ianques e os cabo-verdianos, juntos, na conquista do Pacífico. No cristalino da Calheta, ainda no Maio, a aridez sisuda de Lém Tavares...a terra ulterior de Horace Silver. Aquele pianista…"The Capeverdean Blues", diria.

6 de outubro de 2006

Djarfogo na net

Ultimamente tem-se falado muito no turismo rural em Cabo Verde. Um turismo atento às especificidades locais, garante de tranquilidade, do silêncio que tanto precisamos, e de um "ar de vida" mais terra à terra. Alguns privados solitários tem dado passos nesse sentido, mas nem sempre conseguem ir longe. Há ilhas onde o transporte ainda é um problema e as infraestruturas não se adequam minimamente às exigências do turismo. Apesar disso, existem casos de sucesso. O Djarfogo, na Ilha do Fogo é um deles. Uma empresa de turismo personalizado, cujas ofertas centram-se basicamente nas valências locais. Agnelo Vieira Andrade, um filho da ilha que viveu muitos anos em Lisboa, regressou para mostrar ao mundo o que é que o Fogo tem: um património natural e construído riquíssimo, paisagens únicas, um café como poucos, e uma tranquilidade que convida a tudo de bom. Djarfogo já tem un site na Internet. Aqui, pode fazer uma visita virtual a uma das casas mais antigas da ilha, pertencente à família Vieira Andrade. O sítio à volta é fabuloso. Só vendo! A empresa também promove tours pela ilha, por circuítos vários. Quero voltar a tomar o café da manhã na Quinta das Saudade em Achada Lapa, e tenho cá uma ideia...

4 de outubro de 2006

Da imagem


Ontem assistia com prazer à entrevista do infecciologista brasileiro, Anástácio Queirós Sousa, no Jornal da Noite, da TCV. Este demonstrou ser um profissional de referência na sua área, estando de parabéns todos aqueles que estiveram por detrás da sua vinda a Cabo Verde, sobretudo nesta hora crítica para a Saúde Pública. Mas o homem surpreendeu-me também pela sua postura frente às câmaras de televisão: respostas curtas e fechadas, e sentido atento à jornalista. O entrevistado que dá respostas longas e cheias de ideias intercalares, o que se tornou norma nestas paragens, diga-se, cansa o público e quebra o ritmo da entrevista. Forçoso que se saiba que o entrevistado que olha para a câmara em vez de olhar para a jornalista está mal assessorado.

E falando em assessoria, dá para perceber que existe uma lacuna crescente nesta matéria em Cabo Verde, o que tem dado azo a outras leituras, um tanto ou quanto errôneas, do meu ponto de vista. Pessoalmente, gostaria de direcionar a atenção para a música, por exemplo. Todos os profissionais de comunicação que tiveram um mínimo de experiência no exterior (ainda que em estágio) perceberam, por exemplo, o nível de exigência marqueteiro que envolve a produção e o lançamento de um disco. Qualquer artista digno desse nome nunca pensaria em lançar um disco, sem antes ter preparado um package press e uma estratégia de mediatização do mesmo.

Não basta ser jornalista para fazer boas reportagens sobre música, sobre religião ou sobre saúde. Exige algo mais, embora a técnica profissional e domínio acadêmico sejam condições importantes. A especialização é outra coisa, e isso acontece na maioria das vezes no exercício da profissão. Mas para isso, há que existir ambiente. Ou seja, quem produz deve estar em sintonia com quem intermedeia o consumo. Uma sintonia, não necessariamente de mestre, mas sim, de parceria - tipo cada um faz a sua parte. A interdisciplinaridade e a complementaridade. Os músicos precisam de se equipar para vender o seu produto. Hoje é assim. Os jornalistas, estes devem ser interessados, muito interessados, e investigar sobre o campo, mas os músicos, os políticos, os economistas, devem, hoje mais do que nunca, equipar a sua assessoria especializada, ao invés da “deseconomia” de apontar o dedo para o vazio bizantino...do nada.

3 de outubro de 2006

Baden Powell


Todas as quintas feiras, à tardinha, o Centro cultural Francês da Praia organiza um Open Bar Café com projecções, no âmbito do Ciclo de Música Brasileira. Nesta quinta vai ser exibido o documentário Velho amigo - O Universo musical de Baden Powell. Um trabalho do realizador francês Jean Claude Guiter, velho amigo do artista. Baden Powell foi um exímio e respeitado guitarrista que conseguiu com suas pesquisas e execuções que muitos ritmos brasileiros, predominantemente de raízes negras, não caíssem no esquecimento. O documentário foi produzido durante três anos, e revela o percurso de um homem notável. Baden Powell já fez parcerias musicais com Vinícius de Morais, Pixinguinha, João da Bahiana só para citar alguns nomes. Morreu aos 63 anos, no dia 26 de Setembro de 2000.

2 de outubro de 2006

Outubro



sem margens
Roubei de ti o titulo acima, diante de uma assumida preguiça de nomear a minha livre, dir-se-ia que pássara, condição neste blog. Reservar-me ao direito de nada dizer, e sorrir apenas, quando assim me der na telha. Sorrio para as boas almas que me visitam, simplesmente.

fragmentos
Decididamente não sei se fazer anos, significa, de facto, algo nas nossas vidas. Juro que não sei. Já pensei muito neste assunto, e até já tentei ler algo a esse respeito. Nunca soube de nada. Não sei se com os anos tornamo-nos mais felizes ou infelizes, mais maduras ou amargas, mais calmas ou receosas, mais bonitas ou nem por isso. De repente, dei-me conta que não tenho grandes noções dos anos que passaram por mim. Tenho lembranças fragmentadas de momentos importantes da minha vida... também não sei se cresço com a idade. Apenas sei que do menino poeta recuso fragmentos... quero tudo, até ao fim da linha. Meus parabéns, sempre.

ainda fragmentos
A eles e elas que conseguiram surpreender.

p.s
Bem vindo Outubro. És o começo e o fim... em mim.

27 de setembro de 2006

O livro e a cidade


“Ao acordar-se e eram dez horas, sentiu-se afortunado com a sua nova manhã, que era de sol e de uma leveza que abstraía a materialidade das coisas.”

“… o sorriso amável trocado entre um homem e uma mulher significa o fim de qualquer paixão. As pessoas que se desejam são muito sérias.”

Dois trechos que me ficaram de uma aventura romanceada pelo escritor brasileiro (de Porto Alegre) L.A de A.B no livro “O pintor de Retratos”.

Ela regressa e nada a prende às matérias daquela Cidade, apesar de bonita. É grande a repulsa que sente por aquele lugar… é lá onde as tristes lembranças todas se afloram. É lá onde ela retoma as lágrimas e com a dor volta a conviver.

22 de setembro de 2006

Perdão se pelos meus olhos


Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
- monótomo é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.

Pablo Neruda - Últimos Poemas -

18 de setembro de 2006

Saudade do futuro

No embalo da lembrança das tardes que eu vivi, penso nas tardes que quero viver e duas cidades me vêm à mente: Rio de Janeiro, (conheço e das tardes não me recordo) e Nápoles. Essa cidade italiana é considerada o Rio de janeiro do mediterrâneo, o que sela a minha paixão por longas e apaixonantes bahias, e por cidades banhadas. Nesse grupo não entra a bahia de todos os santos, cujas tardes de mim também fazem parte. Dessas lembranças vivo, e outras persigo. É a tal saudade do futuro que um dia a todos invade.

1.1. Nada é mais sublime do que as lembranças ... nas minhas vivem muitos momentos, lugares e pessoas... ele não. Nada ficou da imensidão dos dias que passaram por nós.

2. A música toca no rádio depois da meia noite... aquela voz ecoa dir-se-ia que só para ela, a quem um dia cantara. É eterna e separa-a do abismo da dor.

3. Gosto da tua voz, da tua boca, das tuas mãos, dos teus olhos ... gosto, sem mesmo saber se gosto. Quero gostar mais, depois de gostar.

15 de setembro de 2006

12 de setembro de 2006

Um domingo qualquer

À primeira vista, e desprevenido, quando alguém se dispõe a assistir Um domingo qualquer de Oliver Stone, acha que vai perder o seu tempo com um filme violento sobre o futebol Norte-americano. Longe disso. O filme tem como pano de fundo os bastidores de uma partida de futebol americano nas suas várias vertentes: a imprensa sensacionalista, as apostas milionárias, os treinos, a vitória a qualquer preço, sonhos desfeitos, a ilusão do sucesso, enfim! Um conjunto de situações que perfazem o apetecível mundo do sucesso.
Para mim, o encanto desse filme reside na narrativa, na montagem, e na actuação de Al Pacino, claro!
Um olhar nada linear, (muito flashback, muito paralelismo) fortemente apostado em planos fechados (expressões, detalhes), uma luz confidente, ritmo, poucos planos abertos (longos). A montagem é de uma mestria tal de que não ousaria aqui falar, mas sim recomendar, por isso escrevo esta nota, e por esta mesma razão volto sempre ao trama.
Al Pacino é o homem de sempre. Agarra para si a história e dita-a até ao final. Toda a actuação dos outros personagens depende da sua ironia, da sua implacabilidade, da sua firmeza. É o risco que se corre quando se tem esse poderoso chefão como protagonista.

Tenho uma grande admiração por realizadores de cinema, e Oliver Stone é um deles. Um autor fechado, de impacto, que mostra a humanidade a partir de uma ruela. Um domingo qualquer é também uma crítica sobre a situação dos negros nos Estados Unidos. Num primeiro olhar não parece.

Da escravatura

Ver o documentário Cabo Verde na Rota da Escravatura, de Francisco Manso, pela descrição franca e humana desse crime histórico, feita pelo historiador António Correia e Silva. Passa sempre na TCV.

11 de setembro de 2006

Dois...

Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.
Pablo Neruda

8 de setembro de 2006

Aos santos e à noite



O disco Ao vivo e aos outros de Mário Lúcio é um gesto confesso de gratidão para com as pessoas, vivas e mortas, que influenciaram e olharam para o seu percurso. Um desafio ao tempo mostrado ontem no Farol da Praia.

O CD é uma homenagem a lugares fisicos e simbólicos: Tarrafal, Mindelo, Cidade Velha, Santiago, orixás da Bahia, Cuba, ancestrais...

O vulcão do Fogo foi o cenário que Mário Lúcio escolheu para gravar o seu teledisco. Uma escolha, a todos os níveis, significativa. Esse sítio, mercê da sua força cultural, das suas gentes, do seu café, do seu vinho, é segundo o músico, o único lugar de Cabo Verde que poderá ser declarado “amanhã” património mundial. Ao pé do vulcão do Fogo Mário Lúcio atravessou também a crise dos quarenta. São as razões de uma escolha.

A noite

Os santos da noite continuaram a ser evocados na Casa Bela, no Plateau, na tal porta 29. Um espaço à primeira vista acolhedor, com propósitos nobres. Acho que todos gostaram de ouvir aqueles que ousaram exprimir os seus perigos e tentações na noite.

7 de setembro de 2006

Top Criolo


A música cabo-verdiana está definitivamente in top. Vários lançamentos, muitas criações e inovações, ousadias, jovens artistas a despontarem. Ousados são igualmente alguns produtores da praça. O programa da TCV, Top Criolo, apresentou-nos, ontem, Augusto Gugas Veiga. Além de um produtor que podemos apelidar de bom, nunca é demais evidenciar a sua sóbria personalidade: fina estampa, como dizia a minha dor antiga, e ciente daquilo que quer, dentro das limitações de um mercado como o nosso.

Gugas teve um "faro de cão" quando há dez anos produziu os Ferro e Gaita, levando para as ilhas e para o mundo, os sons de um funaná vibrante, uma tabanka que nunca morre, a força de Santiago. Há dois anos, dentre outras ousadias, uniu, num só CD, as vozes dos dois únicos pilares do Finaçon, Nácia Gomi e N´toni Denti Doro. Agora, com uma fina percepção de um novo movimento urbano pungente, está a apostar, inteligentemente, no hip hop. Capital Produções é uma referência na música Cabo Verdiana.

O programa de ontem trouxe uma interessante visão sobre a produção musical nas ilhas, crescente em qualidade e quantidade, pelo que se podia depreender da conversa. O terreno, nesse particular, é fértil, tendo em conta o número de estúdios que vão surgindo por aí, mas os problemas, também eles, muitos são novos. A questão da pirataria é séria, os produtores pedem um sinal de vida da SOCA, enfim, pedem das autoridades na matéria acções consentâneas (sobretudo legais) na eminência de uma explosão discográfica no país (querendo eu falar de indústria).

Voltando ao Top Criolo é desejar mais sorrisos à Carlota Barbosa e à equipa de produção coordenada pelo grande M.C.

Lugares...

... em mim são, porque neles vivi.

6 de setembro de 2006

Ao vivo e aos outros

O músico Mário Lúcio lança amanhã, dia 7, o seu segundo álbum intitulado Ao vivo e aos outros. Um trabalho exclusivamente a sólo (guitarra e voz) que certamente dar-nos-á a conhecer uma outra faceta desse multi instrumentista.

O show de lançamento acontece no Farol Maria Pia, na Cidade da Praia, às 18 H30. Além de canções inéditas, o disco traz-nos novas sonoridades da emblemática Doce Guerra do compositor Antero Simas, e Rifan Baré de Codé di Dona. Hásta Siempre Comandante Che Guevara de Carlos Puebla é outra canção desse trabalho inovador.

Mário Lúcio é um dos fundadores dos Simentera, o grupo que liderou a viragem acústica da música cabo-verdiana, e resgatou uma certa vertente africana (lírica e sonora) da identidade cultural das ilhas. Ao vivo e aos outros é mais uma pedra na carreira a sólo do artista que arrancou em 2004, com o lançamento do disco Mar e Luz. Um trabalho que contou com as prestigiadas participações de Gilberto Gil e Luís Represas.

Farol Maria Pia
Um espaço infinito e enigmático que se ergue numa das pontas da Praia Cidade.

4 de setembro de 2006

Retalhos


1.

À noite sempre escuto a Rádio Educativa. Fazem uma boa seleção musical, o que denota uma certa noção do momento e do silêncio. Mesmo durante o dia, quando a ocasião se impor lá estou eu a sintonizar essa frequência. Numa época em que os profissionais da imprensa cabo-verdiana são tratados por alguns iluminados como ignorantes franciscanos vale trazer este e outros exemplos. Fico por aqui...

2.

Depois de tudo,
ela retoma o seu caminho
e segue sorrindo

ele, da dor é vizinho cativo
dá e recebe, sempre
é a lei da vida.

2.1

Os escritores que escrevem sobre livros deveriam ser lidos repetidas vezes por todos aqueles que prezam a leitura. Não só aconselham os caminhos existenciais da leitura (nada que se assemelha às 100 obras imperdíveis), como apresentam os autores, a sua humanidade, a sua relação com a vida. Isso é tudo muito mais complexo do que parece. Depois de ler esses homens (Ítalo Calvino e Henry Miller são alguns) os livros que lemos (e sobretudo aqueles que relemos) ganham novos significados.

2.2

Relendo "A Dor" de Marguerite Duras (tenho por ela amor) comecei a reflectir sobre a dor... em todas as suas formas. Percebi que nunca lidei com ela. Alguém ma apresentou, rapidamente despachei-a. Ela é insistente e eu resistente. Vi a sua face e não a sua alma, mas a dureza é a mesma. Nem tu, nem ninguém há de conhecê-la por mim. Já dele não poderei dizer o mesmo. É da dor vizinho cativo.

3.

O 31 de Agosto passou (data proposta para ser o dia do blog), queria dizer algo, mas sou péssima em assinalar datas. Por um impulso desconhecido deixo passar como uma onda os dias significativos para mim. Por falar em datas, vejo que Kamia lembrou-se de nós. Há dois anos nascia Lantuna, Albatrozberdiano e Os Momentos, dir-se-ia que movidos por um espírito concêntrico. Alguns nasceram antes, muitos depois. Muitos outros virão. Queremos poesia, humor, críticas, ideias, estilos, atitude... Precisamos disso para ser uma comunidade. Ainda falta muito.

28 de agosto de 2006

momentus


Creio ser o show de Maria de Barros, ocorrido no Sábado passado, uma celebração da cabo-verdianidade no sentido mais puro e simples da questão. O país global e diasporizado estava ali naquele palco. A cantora que nem nasceu nas ilhas ofereceu-nos uma noite cabo-verdiana, das mais genuinas vistas por estas bandas. Morna, coladera, funaná, presença, voz, charme, simpatia, the last, but not the least, competência. A cantora que nasceu no Senegal, canta também em francês, e balança o corpo dir-se-ia que dos ventos da Mauritânia, onde cresceu. Celebra a sua latinidade. Abraça as suas origens.
A banda de Maria de Barros é também uma pérola. Além dos Cabo-verdianos Djim Job (baixo), Zé Rui (cavaquinho) e Calú Monteiro (drums) supreende com o californiano Mitchell Long (guitarra e pandeiro) os brasileiros Sandro Rebel, e Grecco Buratto (teclado e guitarra, respectivamente). Antes de terem sido apresentados pela diva, dava para imaginar que eram estrangeiros, mas o ritmo cabo-verdiano, e o coro num criolo perfeito confundiam um bocado. A dúvida só foi dissipada mesmo com os esclarecimentos da cantora.
Mitchell Long, o americano da banda, disse que foi fácil tocar a música de Cabo Verde, porque adora o Brasil e vai lá muitas vezes. Vejam só o paralelo! Achei curiosa essa relação, para ele quase que natural. Grecco e Sandro (os brasileiros da banda) igualmente estão à vontade com os ritmos destas ilhas. Justificam-se como sendo brasileiros. São detalhes desses que comprovam, uma vez mais, a proximidade do nosso país com as terras de Vera Cruz. Uma relação que ao nivel cultural devia ser mais explorada.
A cantora e, já agora, a banda do momento prometem estar no Tabanka Mar no dia 1 de Setembro.

Bónus

O show de Maria de Barros foi aberto por Djoy Amado. Reportou-me às actuações do nosso cameraman Tcheka na cantina da TCV. Hoje, nos palcos do mundo. É este o percurso natural dos talentosos.

Post...

Resolvi mudar a foto deste post, para não pensarem que corresponde ao show de Sábado. A minha amiga Tânia ainda não mas passou (dommage!). Ela me acompanhou no show, e depois fomos ao Black Cat que eu adoro! (juro que publicava as fotos). A selecção musical do Peter (menino irlandês que cresceu na Itiópia), e as fórmulas mágicas do seu Malibu... vou ficar com saudades da minha amiga que está de malas prontas...

25 de agosto de 2006

As belas histórias de África


Assistia, ontem, pela Televisão Nacional, à entrega do prémio Jornalista Africano CNN Multichoice. Uma iniciativa de 10 anos que tem prestigiado a competência e a ousadia jornalísticas em África. Uma boa ideia, sem dúvida. Em Cabo Verde também a associação dos jornalista, AJOC, já criou um prémio para distinguir a qualidade. Perfeito! No decorrer da entrega, percebi, com alguma inquietação, que todas as reportagens premiadas falavam de pessoas violentadas, crianças estrupadas, vítimas da Sida, dificuldades mil. Até o prémio destinado às Artes e Cultura estava relacionado a uma agrura qualquer. Não se sabe de que lado está o pessimismo. Se do lado dos concorrentes que acreditam mais no impacto desses trabalhos, ou do júri que só premeia desgraças bem narradas. Sem qualquer desprimor pelos assuntos premiados, que indiscutivelmente fazem parte do quotidiano de alguns países, e devem ser denunciados, questino a uniformidade da agenda, num continente tão diverso como o Africano. É motivo de belas reportagens, o modo de vida singelo de milhares de povos deste continente, é motivo de reportagem a diversidade artística única "desta nação", é motivo de belas histórias a vida de estrelas africanas que saíram de aldeias recônditas e se fizeram ao mundo. A nossa poesia, a nossa literatura, os nossos homens... temos tantos motivos outros! Nunca ganharei um prémio em África... prefiro contar as belas histórias.

23 de agosto de 2006

"Maria cheia de graça"

ExampleHá cerca de dois anos, o jornal americano Boston Globe fez uma reportagem sobre esta mulher intitulada Maria full of grace. O que li aumentou o meu interesse por ela, e cada vez que a ouvia, gostava mais. Alguma coisa na sua música me transportava aos anos 80, periodo áureo da música cabo-verdiana. Ela é Maria de Barros - a diva cabo-verdiana na diáspora. Encontra-se em Cabo Verde para uma mega digressão pelas Ilhas de S.Vicente, Boa Vista, Santiago, Brava (provavelmente), Fogo e Sal. Esta cantora que em 2003 explodiu, pelas mãos da gravadora Virgin, só agora pôde mostrar às ilhas a sua música. Um encanto! São dois super discos gravados, Nhâ Mundo (2003) e Dança ma mi (2005) - compostos predominantemente por mornas e coladeras, interpretadas por uma voz límpida e singular, com estilo próprio, roçando ao de leve às grandes divas deste país.
Quando decidi gravar pensei na minha mãe. Queria que ela sentisse que gravei um disco genuinamente cabo-verdiano, disse-nos. Crioula cidadã do mundo, mas com os pés fincados na tradição do Arquipélago, Maria de Barros nasceu no Senegal, filha de pais brevenses. Depois, fez a sua infância na Mauritânia e a sua vida adulta nos Estados Unidos.
Maria de Barros é mais um sinal de que Cabo Verde, pelas malhas da Cultura, é uma nação sem fim. Um país que se afirma hoje no mundo pelo pulsar dos seus artistas e fazedores de Cultura, com destaque para os músicos. Ela é um exemplo deste vasto movimento que ganhou ressonância com o feito de Cesária Évora e retemperou atitude com o malogrado Orlando Pantera.
Por detrás dessa diva, e da sua face angelical, está uma mulher cheia de propósitos e de garra. Ela quer propagar Cabo Verde pelos quatro cantos do mundo, a partir da California onde vive. Fá-lo através da música e de um programa que apresenta, na Black Entertainment Television - BET, dedicado a músicas africanas.
Maria de Barros é, actualmente, uma das artistas cabo-verdianas mais celebradas a nivel internacional. Foi eleita personalidade World Music 2004 pela Revista afro-americana Essence e recentemente galardoada com o prémio Miriam Makeba de Excelência Musical.
Volto aos discos para dizer que Kalú Monteiro e Djim Job são dois produtores cabo-verdianos que asseguram o embalo criolo dos trabalhos da artista. A cantora diz que vai continuar com estes mesmos toques no terceiro disco, a ser gravado, durante a sua estada em Cabo Verde. Nos seus dois discos, além de composições próprias, traz músicas de Ramiro Mendes, Kalu Monteiro, Djim Job, Ano Nobo, Paulino Vieira e muitos outros.
À par do encanto criolo, vale ressaltar que de Barros interpreta ritmos e sotaques outros. No primeiro disco adoro o La gloria eres tu, um bolero. No segundo disco interpreta num francês assobiante a música Caresse moi.
Está feito o convite: dia 26 de Agosto, às 22 horas, no Auditório Nacional, Maria de Barros promete um show cheio de graça.

21 de agosto de 2006

Dias se passaram...


Impressionante. Há momentos em que por razões várias (tristes ou insondáveis), optamos por uma hibernação tácita. Por uns dias é como se ausentássemos do mundo. Estranhas sensações. As coisas nos passam ao lado. A última semana, para mim, funcionou nesse ritmo. Desconectada mesmo! Mas aqui sei que estou à vontade para falar dos vacilos que sequer tive, das intenções desconhecidas, e porque não das imaginações (algumas metafísicas). Estou livre, inclusive, para me punir (não será decerto necessário) pelas ausências, ou pelos silêncios imperdoáveis. Tive os meus motivos e continuo a tê-los tenuamente.

Do final de semana, não poderei falar do show Trás de Son de Djinho Barbosa, no Palácio da Cultura, porque não fui. Já vi que perdi. Fiquei em companhia de Julie London, Dianne Reeves, Nina Simone...
Os livros da minha vida de Henry Miller, é outra companhia que venho apreciando há uns dias. Um escritor sem margens, de facto. Ler por prazer é a sua máxima. Não alinha em dogmas classissistas e outros...
Já ouviste I Can´t Make You Love Me na voz de Bonnie Raitt, no nascer de uma madrugada? É o lado bom da solitude.

post script

A voz de Nana Caymmi é tão parecida assim com a de Nina Simone? Ou será da minha paixão pelas duas?! Não falo apenas do timbre da voz... da dor e da clamação também.

9 de agosto de 2006

A nossa música...

"No que respeita à música cabo-verdiana, ela simplesmente “É”. O seu lugar está conquistado, já adquiriu estatuto. Faz falta à cultura portuguesa! Nas ruas, sem programação ou aviso, ouvem-se com frequência, das janelas de carros velozes, os sons do funaná ou os ecos da morna que saem das discográficas, em vozes bem identificáveis.
Nas chamadas “catedrais” da música cabo-verdiana - Casa da Morna, B.Leza, En’Clave, mas também “Musidanças” e “Speakeasy” - passam habitualmente Tito Paris, Bana, Celina, Titina, Ana Firmino, Maria Alice, Dany Silva, Leonel, Hermémio, Mayra, Nancy Vieira (foto), Lura, Sara Tavares."

Leia mais aqui.

8 de agosto de 2006

Bazofu


Beto Dias está a preparar o seu Best of, que deverá ser lançado em meados de Setembro. Um disco que revisita a sua carreira de dezassete anos, e traz para a actualidade temas como Santo Amaro, Unidade e amor, Sin Sabeba, Ki Vida e muitas outras surpresas. O cantor diz que este projecto responde, sobretudo, a anseios de alguns apreciadores da sua música, e fans do extinto grupo Rabelados de que foi lider durante anos. De referir que o artista gravou, ao longo do seu percurso, dois discos com os Rabelados, e quatro trabalhos a sólo. Dias encontra-se entre nós para participar de uma campanha da marca de roupas desportivas Bazofu, e participar no novo programa de TV produzido pela Agência Cabo-verdiana de Imagens, Top Criolo.

3 de agosto de 2006

Boy Gé

O sono tarda... Boy Gé Mendes canta. Preenche a noite. Embala...
Melodias, sons das ilhas e do deserto, a paixão, a beleza, a ancestralidade, os santos da Bahia, "elements"..., e finalmente a morabeza criola. A África na sua diversidade, cantada pelo mininu criolo di Senegal. Um músico universal e profundo que precisa cantar mais para nós. Escute os seus dois últimos discos: Lagoa e Noite de Morabeza. Doux Miel.

La nuit

Une voix... une présence...
une chaleur amie...
sont toujours souhaitées
dans les nuits oú
le temps nous trahit

Boy Gé

1 de agosto de 2006

momentu

Muitos dos meus posts surgem assim, do nada. De uma palavra, um olhar, uma situação, ao acordar... Assistia hoje à edição do programa musical "Top Criol". Era uma entrevista com a Danae. As suas respostas flutuavam, e ela falava sempre em momentos. De repente, surgiu-me a densidade dessa palavra, a depender, claro, de quem a pronuncie. Do Latim momentu, a expressão momentos significa, num primeiro sinal, tempo ou ocasião em que alguma se faz ou acontece, pode também significar instante. Surfando pela net, reparei que todos os blogs que adoptaram esta palavra retratam, sobretudo, os bons momentos, as sensações leves, retratam formas de beleza. E percebi, com a entrevista da Danae, e em outras situações, que independentemente da acepção original da palavra momentos, ela tem um sentido convencional positivo muito mais apropriado.
O meu blog é apenas mais um exemplo. Com um olhar pessoalíssimo, não descurando da jornalista (e as suas inerências) em mim, falo, aqui, de bons fluídos. A melancolia, a saudade, e outras molestias ganham neste espaço uma idealização qualquer, um olhar, que encaixa nesse mundo construido dos momentos.
Há dias, como hoje, entretanto, que me apetece falar da Electra e das suas mazelas... da lástima social em que gradualmente se tranforma a capital deste meu querido pais, da insegurança, da impotência das pessoas, da ausência de autoridade, dos momentos (maus) que se nos fogem à lembrança de tão chocantes, como a agressão contra o músico Vadú, por exemplo. Há dias e têm sido sucessivos.

Bónus Track
Decididamente terei de criar um outro blog, para sem mácula continuar este momentu prenhe de confidências. É, a tua dor antiga foi mesmo roubada.

31 de julho de 2006

À espera da luz


Volta e recomeça, apesar do imutável, apesar daquele ser eternamente seu, apesar de tudo, e por tudo. Volta para nas últimas palavras do poeta encontrar a resposta. Volta, à espera da luz.

"Não um caso doentio
nem a ausência de grandeza, não,
nada pode matar o melhor de nós,
a bondade, sim senhor, que padecemos:
- bela é a flor do homem, sua conduta
e cada porta é a bela verdade
e não a sussurante aleivosia.

Sempre ganhei, por ter sido melhor,
melhor que eu, melhor do que fui,
a condecoração mais taciturna:
- recuperar aquela pétala perdida
de minha melancolia hereditária
- buscar mais uma vez a luz que canta
dentro de mim, a luz inapelável".

Pablo Neruda. in: Últimos Poemas (O Mar e os Sinos)

23 de julho de 2006

Confidências

Vi o show em êxtase. A interpretação de Apocalipse de Manuel d` Novas, transportou-me aos momentos do primeiro disco de Dudu Araújo. Foi uma viagem. Pidrinha revisitado. Tanha de Renato Cardoso, e muitos outros.
De Nôs cantador, Dudu Araújo passou, definitivamente, para Nha cantador. Um estilo inconfundível e uma postura garbosa no palco. Interioriza a poesia lírica na sua plenitude e interpreta-a com alma. Fala com amizade e admiração dos seus compositores, fala das músicas, e interage com a plateia. Pareceu-me tímido, dir-se-ia que da sua densidade artística. Apetece-me também falar da voz, a voz do Dudu: convida a viagens, dá vida a lugares, a personagens, a detalhes do quotidiano...
Nhelas Spencer e Betú são, para mim, dois pilares fundamentais desse disco. Composições únicas numa sintonia perfeita com o intérprete. Nôs Cantador é um disco imperdível e Dudu no palco é uma outra história. Na banda que ontem acompanhou Dudu, destacava também Voginha e Bau. Um delírio bem ao estilo crioulo.

Ao meu confidente deixo um trecho de Carlos Drummond

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

22 de julho de 2006

Dudu

ExampleDudu Araújo é considerado, por muitos, o cantor da actualidade. Eu diria mais. Uma voz inconfundível, que desde os primeiros passos (início dos anos noventa, se não estou em erro) mostrou para que veio. O seu primeiro trabalho foi, durante anos, muito ouvido e apreciado entre nós, mas não aconteceu o mesmo com os dois seguintes, editados no Canadá onde reside. O quarto disco, "Pidrinha", foi muito celebrado, mas soube a pouco, tendo em conta a sua dimensão poética.
Neste momento o artista encontra-se na Capital cabo-verdiana a promover o seu último disco “Nôs Cantador” – título de uma morna do Betú incluída no disco, em tributo a Ildo Lobo. O último trabalho de Dudu Araújo é uma prenda e reúne, de uma sentada, os mais consagrados músicos e intérpretes cabo-verdianos: Bau e Hernâni na guitarra, Zé Paris no baixo acústico e Tey Santos na percussão. Dos compositores, Betú, Vlú, Nhelas Spencer, Teófilo Chantre e Manuel D`Novas impressionam com o seu lirismo.
"Nôs Cantador" segue a linha a que nos habituou Dudu. Mornas, coladeras, baladas. A nostalgia, o amor, a saudade, infortúnios dos ilhéus, a pobreza, a alegria são os sentimentos, puramente cabo-verdianos, que Dudu interpreta como ninguém.
Dudu Araújo é dono de um estilo próprio. Uma voz firme, definida e com personalidade. Escolhe a dedo as suas composições, ou melhor os seus compositores. Possui um primor estético pouco comum, e parece daqueles artistas sem pressa, metódicos, que esperam pelo dia do parto. São as impressões que me chegam dos discos, e de tudo que dele escuto cada vez que visita Cabo Verde. Certamente, terei algo mais a dizer, depois do show de hoje no Tabanka Mar.

18 de julho de 2006

Em busca do "meu clássico"

Terminei de ler "Riso na Escuridão" de Vladimir Nabokov, releio "O Amante" de Marguerite Duras e inicío uma viagem por "Porque ler os clássicos?", de Ítalo Calvino. Este último livro fez-me pensar nas minhas leituras de adolescência. Leituras desajeitadas, porque não orientadas, leituras ao acaso, algumas indicadas, é certo. A minha grande decepção residia na memória nublada que tenho de alguns livros. Nos meus 13, 14 anos devorei a magra coleccão juvenil, e não só, da biblioteca municipal da minha cidade. Era conhecida do responsável pela Biblioteca, um rapaz que tomava conta apenas daquele espaço, já que mal sabia escrever. Tinha entrada e circulação livre pelas estantes, via e revia os titulos, lia e relia as introduções. Aquilo que me agradava à primeira, levava.
Revistas e jornais também contam. O pároco de S.Filipe era assinante da revista Família Cristã. Eu era a segunda leitora assídua de cada número daquela publicação. Ia à casa do Pároco, religiosamente, todas os meses, saber se tinha chegado a revista. Algumas ficavam para mim, outras não. O jornal Terra Nova era outro periódico que também fazia parte do meu mundo. Orientação, orientação, nunca tive. Pedro Cardoso e Eugénio Tavares figuravam como os únicos grandes homens de Cabo Verde. Pelo menos na região Fogo e Brava, onde todos tinham algo a dizer sobre esses homens. Acabei descobrindo os outros, assim como descobri muitos outros, de outras latitudes, outros mundos, outras raízes, e outras aldeias, iguais àquela onde nasci e cresci. Continuo nessa incessante caminhada em busca do "meu clássico", como, de resto, aconselha Calvino.

Dizia, entretanto, que ler o trecho abaixo foi reconfortante para mim, e originou este post...

"De facto as leituras da juventude podem ser poucas profícuas por impaciência, distracção, e inexperiência da instrução para o uso e inexperiência das instruções de vida. Podem ser (se calhar ao mesmo tempo) formativas no sentido de darem uma forma às experiências futuras, fornecendo modelos, conteúdos, termos de comparação, esquemas de classificação, escalas de valores, paradigmas de beleza: tudo coisas que continuam a agir mesmo que do livro lido na juventude se recorde pouquíssimo ou mesmo nada..."

in: Porque ler os Clássicos?, de Ítalo Calvino

14 de julho de 2006

Africa Rainbow

Africa Rainbow é o blog criolo mais recente da web. É suportado por uma banda de reggae que existe em Brockton, Massachussets, há 5 anos, formada por um grupo de jovens de origem cabo-verdiana. "Rapazis di Rainbow" estão com o pé na estrada, daí esta incursão bloguista, a promover o seu primeiro demo gravado no estúdio da própria banda. Esse lançamento tem um carácter puramente promocional, como frisa a banda na sua página. O grupo está aberto a espectáculos e espera o seu contacto.
De referir o espírito irreverente e a incondional ligação à terra do Africa Rainbow. É só visitar o blog e conferir.

6 de julho de 2006

Danae no Tabanka Mar

"Condição de Louco" é o título do primeiro CD da Danae, lançado no ano passado. Um disco diferente, solto, e sem selo. As músicas cantadas predominantemente com sotaque brasileiro revelam uma voz melódica e doce, ainda em processo de busca, pareceu-nos. Danae nasceu, há 26 anos, em Cuba, filha de mãe cubana e pai cabo-verdiano, cresceu nestas ilhas, e recentemente foi estudar em Portugal, onde conseguiu gravar o seu primeiro disco. Um trabalho que espelha essas geografias todas, numa síntese muito pessoal. O criolo, a bossa nova, um balanço que incide entre a coladera e o samba; uma certa manha e universalidade que atestam o nascimento de mais uma estrela cabo-verdiana com os olhos postos no mundo.
"Condição de Louco" dá-nos ainda a conhecer uma escritora de sons sem precedente. As composições do disco são simplesmente surpreendentes. Danae já actuou no Mindelo e vai estar na Sexta-feira e no Sábado no Espaço Tabanka Mar, na Praia, para dois shows que prometem.

Tabanka Mar

É para o Tabanka Mar onde se tem dado as almas vivas desta cidade. Pelas ofertas balançadas do Hernani, e também pelos sucessivos cortes de energia da Electra. A Praia é hoje a capital mais romântica do mundo. A Cidade onde todos jantam e se banham à luz das velas. É rir para não chorar.

3 de julho de 2006

Vidas passadas

As ladeiras
As calçadas
Os olhares
O mundo
O sonho
A saudade
A igreja
O terreiro
As lembranças
Vidas passadas

30 de junho de 2006

Sandjon na Brava

24 de Junho, Sábado, festa de S.João, Ilha Brava. É o dia mais importante para a Ilha das flores. Um dos poucos dias em que Cabo Verde lembra desse pedaço de arquipélago esquecido na bruma dos tempos. É o dia em que os filhos de nhô Tetei usam as suas melhores roupas, participam na passeata matinal com os presentes para o mastro, e celebram no meio a um colorido estonteante a missa dedicada a S.João Baptista, padroeiro da Ilha. É o dia de encontros entre os que ficaram e aqueles que partiram para sempre regressar.
É à volta dessa festa que a Câmara Municipal assinala o dia do município com actividades recreativas várias, inaugurações, e espectáculos musicais nos dias que antecedem o 24 de Junho.

A festa de Sandjon 2006, na Brava, reservou também espaços para homenagens: a título póstumo, o intelectual Luis Loff de Vasconcelos, pertencente à lista dos chamados protonacionalistas e contemporâneo de Eugénio Tavares, foi um dos contemplados. O seu bisneto Luís Vasconcelos viajou de S.Vicente para a Brava, em representação do pai, para celebrar o momento, e viu esse gesto como um merecido reconhecimento a um dos primeiros intelectuais que defendeu a independência destas ilhas, através da imprensa.

Nha Mádjinha de Candé, coladera e conhecida na ilha como "fazedera de rebuçados" e Nhô Mundinho, tocador e "fazedor de tambor" foram também homenageados.

Há quatro anos que o festeiro da bandeira de S.João tem sido a Câmara Municipal, mas este ano a tradição se cumpriu e à moda antiga. A própria comunidade tomou a bandeira, e promete sob coordenação do conhecido proprietário da Pensão Paulo, para o próximo ano, bandeira grande com muita animação, e muita ajuda, principalmente dos muitos filhos das ilhas e dos residentes na diáspora. Antigamente, as festas de Santo na Ilha eram dadas em cooperativa. Talvez seja o momento de resgatar em toda a sua dimensão esse passado, tal é o custo que envolve o patrocínio de uma bandeira hoje.

A Ilha de Nhô Eugénio permanece, entretanto, em sono profundo. O mesmo silêncio retratado, há um ano, neste espaço.

29 de junho de 2006

Mayra

ExampleA cantora Mayra Andrade encontra-se em Cabo-Verde, vinda de Paris onde reside, e traz na bagagem uma grande novidade: o seu primeiro álbum “Navega”.

A cantora surpreende pela interpretação e pela composição, pois o álbum marca a estreia de uma compositora a se afirmar.

As doze faixas do álbum “Navega” denotam uma Mayra Andrade mais madura e mais dona de recursos do canto e da interpretação. Enraizada nos valores musicais de Cabo Verde, ela acrescenta à cabo-verdiana um toque sofisticado de quem também já se habitou em outras claves, harmonias e arranjos. Para lá de tanta graça e alguma originalidade, é a Mayra Andrade compositora que nos surpreende desta feita. Este disco marca, nas suas nuances intangíveis, uma cantora já saída da adolescência e inaugurando a idade adulta com elegância e sentido estético.

Ressalta-se também em “Navega”, o bom gosto do repertório. Tanto na selecção de compositores como Betú, Pantera e Kaká Barbosa, como na ousadia dos arranjos, ora com simplicidade acústica e tradicional, ora com arrojo jazzy, própria de quem já é senhora do mundo. O naipe dos participantes no álbum é na sua maioria estrangeiro, mas a base criola do trabalho foi fielmente garantida por Kim Alves que tocou vários instrumentos e pela própria Mayra.

Mayra Andrade cantou desde pequena, um pouco por todo o lado por onde passou, quase sempre em ambientes restritos e familiares. Mas depois aconteceu o seu momento de glória – a Medalha de Ouro do Festival Internacional da Francofonia, em Quebéc, Canadá. Ela tinha apenas 17 anos, mas apostada em se fazer à roda de alguns dos músicos, como Mário Lúcio, Ildo Lobo e Orlando Pantera. Em Quebéc, ela encantou não apenas pela forma com interpretou a música “Lua”, de Princesito, mas também pela energia, alegria e inteligência. A Francofonia não resistiu aos mil encantos da jovem cantora e fê-la a sua mais jovem galardoada de sempre.

Habituada, tanto nas ilhas como no mundo, a compartilhar a sua arte, Mayra Andrade parte deste álbum para uma tournée internacional, que a ocupará na “estrada” nos palcos internacionais. Por isso, o retorno a Cabo Verde não é só o descanso merecido desta Diva, mas sobretudo um recarregar as baterias para novos encontros que o seu dinamismo impõe. Um perfume de Mayra Andrade é promessa para o próximo sábado, no Tabanka Mar, antes da sua partida.