29 de dezembro de 2007

Dezembro

Example
















Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.

poem: Carlos Drummond
Ilust: Pedro Pamplona

12 de dezembro de 2007

Sem tempo

Example


















Tua música.
À volta, nada é,
os meus sentidos, todos,
pelo teu balanço agitam.

é da voz, dos sons, das flores, do cheiro,
da lembrança, da viagem, sem tempo.

Teu mar

A água
O brilho
O céu
E o azul do mar

11 de dezembro de 2007

A brava ilha perde nhô Mundinho





















"As bandeiras em Cabo-Verde são festas seculares, e sobrevivem ao longo dos tempos por obra de gentes como nhô Mundinho. Clarimudo Ascenção nasceu na Ilha Brava, há 92 anos".

Assim começava uma reportagem televisiva assinada por mim no dia 24 de Junho de 2006, na Ilha Brava. Falava das figuras homenageadas pela edilidade, no âmbito das festividades de S. João, em que nhô Mundinho, ontem falecido, fazia parte.

Clarimundo Ascensão foi pedreiro, padeiro e pintor. À par disso, construiu tambores desde os 15 anos e pela vida dentro, e foi, sem dúvida, um dos personagens mais emblemáticos da bandeira de S.João, já que também os tocava.
Era o mais velho entre as duas últimas pessoas que ainda faziam tambores na ilha. Tambores que também entoavam as bandeiras da Brava e das outras ilhas. No ano da nossa conversa/entrevista, nhô Mundinho, ainda trabalhava por encomenda.

Este ano já fiz sete. Mandei vender no Maio. Uma pessoa da Furna comprou-me uma. Faço tambores para crianças. Ainda tenho em casa. Já ofereci alguns. Já vendi outros. Todos os anos, se puder, faço”, contou-nos.

Os bravenses não terão mais o toque manso característico do nhô Mundinho nas bandeiras de S.João. A Brava, a bandeira e a cultura de Cabo Verde perdem mais um nome.

foto: Pedro Moita

8 de dezembro de 2007

Teledramaturgia...

Nelson XavierAcompanho com interesse as telenovelas brasileiras, por razões várias. Primeiro, porque são, de um certo prisma, as melhores do mundo. Também porque é uma das formas de acompanhar o pulsar da complexa realidade social do Brasil. As telenovelas, sobretudo, as da Globo permitem isso, ainda que delas tenha uma perspectiva crítica. A depender do realizador, do elenco e da tipologia (urbana, regional, época), vai variando o nível de interesse. Sem contar a minha paixão para ler o enredo e a trama. Acompanho, sim, as telenovelas com preocupações muito particulares e próprias, mas de forma despretensiosa.

Da actuação, não apenas nas telenovelas, tenho a mania de me atentar nos actores secundários e acredito que, quase sempre, são eles as chaves para os grandes enigmas. Depende muito do faro do director e do carisma do actor, claro está. É nessa óptica que queria destacar o brilhantismo na actuação da personagem Bento (foto) na telenovela Belíssima, interpretado por Nelson Xavier. Só agora, passados cinco meses do início da emissão desta telenovela pela Televisão de Cabo Verde, é que Bento começa a se revelar, remexendo em pistas chaves que permeiam toda a história. As suas esporádicas aparições anteriores foram igualmente marcantes. Confesso que no início estranhei que um actor como Nelson Xavier estivesse a desempenhar um papel tão aparentemente secundário. Depois, comecei a ver que estava enganada. O mesmo direi do seu companheiro de quarto: um miserável de olhos tristes que engendra sofisticados golpes e crimes horrendos. Independentemente da pertinência da história, que deve intrigar à priori, é fascinante a capacidade funcional das redes conflituais, principalmente se for uma obra, à partida, fechada. Não sei se foi o caso da telenovela em questão.

O problema é que o potencial de uma telenovela pode se diluir no seu próprio formato: histórias prolongadas que se fragilizam com o tempo, por exemplo. É um desafio.

Voltando à telenovela, é também pela acertada colocação dos actores secundários que uma boa trama se desenrola. Secundário nada tem a ver com o eventual papel marginal que se depreende de um enredo ou de uma narrativa...

Natal

Pelos braços de um anjo, entrei na dança
Desde o toque inicial, o balanço (bom)
A música, tua e minha
E todo o Natal...

3 de dezembro de 2007

A clareza dos dias

Example













De regresso à Terra da Claridade. Para trás, fica a Terra da Luz. A semana que passou ficou marcada por um exercício interessante nas relações entre Cabo Verde e Brasil, mais propriamente Cabo Verde e Ceará.
A Secretaria da Cultura do Ceará organizou, em parceria com a Embaixada de Cabo Verde no Brasil, um certame literário - Claridade na Terra da Luz - tendo como matriz uma feira de livros cabo-verdianos e uma série de palestras, bem como propostas videográficas, tudo girando em torno do Movimento da Claridade.
O Movimento Claridoso advém provavelmente da Revista Claridade, publicada em 1936, em torno de uma trindade intelectual - Baltazar Lopes da Silva, Manuel Lopes e Jorge Barbosa. Essa "verdade" é sabida por todos, mas na Terra da Luz todos estavam ansiosos por saber o que afinal liga essa gente ao Brasil.
Dentre as várias correntes de influência, convém aqui recordar que a literatura dos nordestinos do Brasil foi uma ideia-tipo, de ordem histórico-sociológica, para os intelectuais de Cabo Verde .
Alguns quiseram saber como essa influência/identificação é vivida cá - nas escolas, mais propriamente. Outros divagaram sobre a Semana de Arte Moderna de São Paulo e sobre o Romance Nordestino dos Anos Trinta.
Os debates aconteceram com menor ou maior intensidade. Os vídeos apresentados caíram no agrado de todos, que passaram (ainda que num cenário puramente temático) a visualizar um certo Cabo Verde.
Em alta mesmo ficaram os ânimos dos presentes perante o aforismo "Nem África, nem Europa, mas Cabo Verde". Sim, porque nele fica uma "fina recusa" do continente negro. E não faltou quiproquó na questão do crioulo. Dava para ler a estupefacção dos cearenses, perante o embaraço de alguns dos nossos intelectuais em relação à oficialização do crioulo – a nossa língua materna.

Em mim

De novo, a canção. A mesma que sempre amei…