26 de maio de 2010

Ca tem ninguém sima él

mercury























Fiquei com o refrão “ca tem ninguém sima bó” na cabeça desde que ouvi a versão da música “One Love” de Sara Tavares, interpretada por Daniela Mercury: a diva baiana que encanta com a sua alma de artista a todos quantos reconhecem no chão da Bahia uma síntese cultural com selo atlântico. A origem desse encontro pela via atlântica, como se sabe, foi em Cabo Verde, em Santiago, o interposto do novo mundo, mas não existe corredor mais possante do que aquele que se vive em Salvador da Bahia.

Daniela Mercury, nas últimas duas décadas, tem sido uma das traduções (em seu tempo, a seu ritmo, e em semblantes diferentes) desse universo complexo e profundo que nos interpela a todos quantos existimos através desse (e nesse) corredor do mundo. Nós, a quem pouco interessa o centro ou a periferia. A música de Daniela Mercury, toda ela, tem raiz profunda nessas melodias atlânticas de que se fez o Brasil, ou concretamente, a Bahia de todos os Santos.

Um show de Daniela Mercury como presente do Brasil aos 35 anos da Independência de Cabo Verde é de uma simbologia profunda e comovente. Não foi por acaso que a rainha do axé music se encontrou com Sara Tavares, a autora dessas sabias palavras:

Um só povo
Um só coração
One love

Branco ku preto
Burmedjo ku marelo
Ka tem diferença não
Ama na fé
Ama bué
Amor grande no coração


2 de Junho, no Gamboa: é para conferir!

24 de maio de 2010

A minha insensatez futebolística

futebol












Este post cumpre um propósito sui generis: o de confessar a minha ignorância franciscana em matéria futebolística. No passado sabado, enquanto decorria o jogo Inter de Milão x Bayern de Munique, não tinha a mínima noção de que se estava no final da Liga dos Campeões da Europa.
Na estrada Milão, Torino, (aqui na Itália) depois de entrar em dois restaurantes diferentes, e ter notado a mesma euforia, cheguei à conclusão que, sim, estava realmente a passar ao largo de um grande evento. Em Fossano, no pitoresco “Mania di Pizza”, sugeri que parássemos e assistíssemos aos momentos finais da partida. Soletrei à entrada na camisola de um cidadão, a palavra Milito que na hora não me disse coisa alguma. Terminou a partida, e tudo o resto foi surpreendente: da reacção das pessoas à dimensão da transmissão na RAI 1. Aquele choro de Mourinho que não acabava mais, o treinador considerado pelos comentadores “o deus desta noite”. Curioso: o dono do restaurante, Toninho, que não ligava a nada disso, apenas disse que no Inter de Milano não havia italianos (juro que não sabia). Uns saíram para festejar, Toninho e outros conversavam à porta do restaurante sobre alguma coisa que não o futebol, e eu, sozinha dentro, continuei a a assistir a emissão, a ver se ganhava alguma sensatez em matéria futebolística.

13 de maio de 2010

Equívoco estético e ético

da imagem





















Quem de direito que mande suspender a emissão do spot intitulado “Cidadania em 1 mn” emitido insistentemente nas TV´s nacionais: a cena começa com o enquadramento de uma casa colorida, em off ouve-se uma discussão de casal seguida de agressão, gritos estridentes de filhos e da mulher vítima, e sons de objectos que se partem. Enquanto isso, do lado de fora, curiosos se juntam, e chegam finalmente colegas jogadores do agressor que o excluem da equipa e lhe dão um cartão vermelho.
No fim, fica em todos: jovens, adultos e crianças, homem e mulher: (tive o cuidado de perceber isso) uma sensação de muito desconforto, fruto da excessiva agressividade da cena que se ouve, para não falar em alguma banalização da violência (o cartão vermelho, que se pretende uma condenação, pouco convenceu) e da falta de subtileza, tão essencial no jogo de comunicar.

11 de maio de 2010

Sinais que ficaram!

mee
















Desde o Kriol Jazz Festival que não escrevo uma nota neste espaço, sem deixar, entretanto, de contar os dias em outras paragens:

1. (Bandeira S.Filipe) Passaram à história as festividades de São Filipe e não tive a oportunidade de escrever sobre uma das melhores bandeiras dadas nos últimos anos. Os festeiros (familiares de Dinis Dias da Fonseca) fizeram jus a uma das festas populares mais rijas e complexas deste país. Alguns momentos, principalmente aqueles do baile de violino e de homenagem aos coladores e tamboreiros, foram horas de boas recordações e rememoração de uma cidade que já foi, e pode vir a ser. Outra nota vai para o lado religioso que este ano, muito ao contrário dos anteriores, foi cuidado e celebrado com muito sentido de fé no Santo.

2. (media 1) A 3 de Maio celebrou-se o dia da Liberdade de Imprensa: daquilo que pude ler e ouvir, deu para perceber que não se fez, em momento algum, a ligação necessária entre o pacote legislativo da comunicação social aprovado no parlamento e a Liberdade de Imprensa nas Ilhas. Não se disse que a liberdade de imprensa em Cabo Verde sofreu, recentemente, em toda a linha, um atentado legal: agora temos uma imprensa parceira do desenvolvimento. É obra!

3. (media 2) As nossas redações assumem sem pejo o ditar exterior da sua agenda informativa: na RCV, por exemplo, ouvimos um spot que diz algo como: “para o seu pedido de cobertura informativa, escreva para *=*&^%%$$. Editores consequentes desconfiam, em toda a linha, das notas de imprensa, quando recorrem a elas fazem-na de forma crítica. Uma solicitação pública dessa é mais uma inovação das ilhas afortunadas.

4. (media 3) Ouvindo agora o Bom dia Cabo Verde, uma nota da correspondente dá conta que o Ministro da Educação vai estar no Tarrafal de São Nicolau: e os ouvintes com isso?

5. (Soul of music) No Fogo actuaram tantos grupos, num afã municipal de fazer da festa do município a maior de todas: dos grupos, ficaram-me as músicas de Vlú e banda, e até hoje ando a cantarolar os refrões das músicas do artista mindelense. Vlú ê propi nice!

6. (música) Melhoras para a nossa diva, Cize! A artista, depois do espectáculo que deu ao lado do angolano Bonga em Lisboa, seguiu para Paris onde foi surpreendida por um problema coronário, tendo sido submetida a uma intervenção cirúrgica no coração. Por conta disso, cancelou toda a sua agenda internacional (pela Europa, América do Norte e do Sul, e África do Norte).

7. (TV) 1 Mn de História já passa na TCV (antes do Jornal da Noite) e na RTP África (ao longo da emissão). Uma forma natural de contar a História das Ilhas. Será assim durante 66 dias.