30 de setembro de 2009

A Idade de Ser Feliz

elle




















Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

(…)

Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.

autor: desconhecido

29 de setembro de 2009

1, 2, 3, 4, 5 gaffes...

etrange












1. Estados Unidos emitem um mandato de captura contra o realizador polaco Roman Polansky, e Suiça cumpre. Sem dizer que o cineasta foi participar no Festival de Cinema de Zurique onde era o homenageado (falta de decoro!). Impossível de perceber é a motivação, hoje, do país de Barack Obama em capturar e prender um homem como Polansky.

2. Até quando Sílvio Berlusconi irá continuar com as suas “gaffes”?! (é este o doce termo que usa a imprensa europeia). Na sua última derrapagem pública, incluiu Michelle Obama na lista dos “bronzeados”, onde pôs Obama há muito. Desta feita, o que se depreende “da fala” de Berlusconi é uma manifesta inaptidão para conseguir ombrear com uma diva como Michelle. Freud explica...

3. Porque será que o Papa Bento XVI da sua Basílica (que não fica longe) não condena o racismo primário de Sílvio? Não o percebe?

4. O Ministério da Cultura de Cabo Verde, a crer nas últimas aparições, persegue novos objectivos e demonstra novas ambições, sem nos darmos por isso.

5. Logo a seguir à reunião dos G20, de onde não saiu decisão alguma (mas sobre isso, nem uma palavra), eis que surgem os media de sempre a escreverem que a Cimeira América Latina/África na Venezuela não deu em nada.

28 de setembro de 2009

Polansky, preso?!

Roman





















Gosto de Roman Polansky, por isso fiquei triste com esta notícia, e decidi recupar o texto que escrevi há dois meses aqui.

Saio de uma mente brilhante para entrar numa outra: a do realizador polaco Roman Polanski (foto). Dos vários filmes que adensam a excelente carreira cinematográfica de Polanski, creio que “O Pianista” condensa o que de “definitivo” esse realizador desenhou para o seu percurso. O próprio reconheceu, aliás, esse feito.Varsóvia, 1937, Segunda Guerra Mundial. Um pianista judeu e sua família sobrevivem ao aperto do certo alemão. É um tempo de privação e de provação dos judeus. As restrições de circulação e acesso. A versatilidade e a genialidade do Wladyslaw Szpilman. A paixão deste por uma jovem alemã. O surgimento dos guetos (a retirada de Varsóvia), os assassinatos à calha e, finalmente, o campo de concentração e o extermínio. A esse destino, escapa o pianista para um sofrimento mais pausado, dilacerante e humilhante. A música e o piano salvam-no. E é ajudado, inclusive, por um oficial alemão que no fim, no reverso da situação, vai precisar da mesma compaixão.

O Pianista arrebatou Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2002. Um enredo de diálogos esparsos e definitivos, impressionou o Júri. O silêncio, os espaços entre o tempo, a cor acinzentada, a música sempre presente anunciando algo que nunca chega, capta a sensibilidade de todos que enfrentam este filme, diga-se. Polanski, ele próprio, cresceu num dos guetos de Varsóvia e perdeu os pais num Campo de Concentração. Entretanto, ele não assume que O Pianista tenha algo de autobiográfico. Wladeck, o protagonista ficcionado, existiu realmente e é autor de O Pianista, Romance. Só veio a falecer no ano 2000. Com 88 anos.

São alguns factos de que recordo”, afiança, entretanto, o cineasta. A intensidade (ainda que fria) do filme O Pianista chega a ser sensorial, dir-se-ia que somos transportados pelas ruas de Varsóvia e, por um instante, experimentamos as excrescências da desumanidade: a indignidade, a morte e, mais que isso, ao verdadeiro extermínio da alma humana…

Em fuga...

Como tem dado conta o desenrolar da situação, há mais de 30 anos que Polansky não pisa os Estados Unidos, país onde realizou os filmes mais emblemáticos da sua carreira. Esse alegado crime sexual faz do cineasta um fugitivo e só agora na Suiça, por intermédio de um mandato de captura americano de anos, Roman Polansky foi preso. O caso já beira a incidente diplomático e os admiradores de Polansky dizem-se envergonhados.

Saudade do futuro

saudades do futuro






















O presente e o passado
estão talvez ambos presentes no futuro
e o futuro está contido no passado.
Se todo o tempo está eternamente presente
todo o tempo é irredimível.

O que podia ter sido é uma abstracção
permanecendo uma possibilidade perpétua
apenas num mundo de especulação.
O que pode ter sido e o que foi
apontam para um fim único, que é sempre presente.

Elliot

nota pura: apesar das palavras que não te disse!

26 de setembro de 2009

Mário…em nós incluído

Example

















Morreu à meia noite de ontem, vítima de um AVC, Mário Fonseca, um dos maiores poetas cabo-verdianos, contemporâneo de Arménio Vieira, Corsino Fortes e João Vário. O autor do célebre poema “Quando a vida nascer” cultivou a poesia, tanto em língua portuguesa como em língua francesa, e deixa uma bibliografia de elevada referência para a literatura cabo-verdiana.

Sob o título“Mon Pays est une Musique” publicou em vida os livros de poesia: Près de la Mer, Mon Pays est une Musique e Poissons, deixando na calha a obra “Morrer Devagar”, em ponto de publicação.

Fonseca cultivava uma escrita universalista e não telúrica, de profunda inquietação humanista. Para além de poeta, era professor, ensaísta e colunista. Tinha uma coluna semanal no jornal Expresso das Ilhas, e colaboração dispersa em vários periódicos e revistas nacionais e estrangeiros. Foi Presidente do Instituto Nacional da Cultural, durante os anos noventa, e chegou a ser nomeado presidente do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, cargo que não chegou a ocupar por motivos de saúde.

Mário Fonseca foi também combatente da liberdade da Pátria, no período colonial, tendo sido não só preso político em 1961, como companheiro de Amílcar Cabral em Conacri.
Era admirador confesso dos poetas da língua francesa, de que se destacam os clássicos Charles de Baudelaire e Arthur Rimbaud, bem como dos mais contemporâneos como René Charr, Aimé Cesaire e Leopold Sédar Senghor, de quem fora amigo pessoal. Mário Fonseca exerceu uma pedagogia cultural junto aos poetas cabo-verdianos mais jovens, revelados nos anos 80 e 90.

No pórtico da obra “Se a luz é para todos”, Mário Fonseca escreveu o seu vaticínio essencial:

O que vos digo: nada me exclui
De nada. Estou incluído em tudo.
Tudo está incluído em mim. Mesmo
Depois de morto estarei em vós incluído
.


Foto: Mito Elias

25 de setembro de 2009

Tome nota ...
















A série Grandes Temas Cabo-verdianos (2009) produzida pela Televisão de Cabo Verde, e criada pela autora deste blog começa a ser emitida amanhã na RTPÁfrica. São doze episódios com emissão semanal aos sábados e repetição aos domingos.

Sábado: 10 horas (hora de Lisboa)
Domingo: 17:15 horas (hora de Lisboa)

Aos leitores, amigos e cabo-verdianos que perguntavam sobre a possibilidade de ver o programa a partir da diáspora deixamos esta informação. Tome nota dos temas:

1 .Descoberta de Cabo Verde
2. Na Rota dos escravos
3. Diáspora Cabo-verdiana
4. O Espectro da Fome
5. Independência de Cabo Verde
6. Abertura Democrática
7. Caboverdianidade
8. Bilinguismo em Cabo Verde
9. Cabo Verde na Subregião Africana
10. Ensino Superior e o Desafio do Conhecimento
11. O Encanto da Música
12. Kudi Baxon na Banderona

A conquista do véu...

véu




















Henry Miller, Ítalo Calvino e Vladimir Nabokov são alguns dos meus autores preferidos por uma razão em comum. Muito além das suas escritas, individuais no percurso, esses autores oferecem ao leitor a possibilidade de alargar horizontes, pela forma peculiar como se referem aos livros que os marcaram. Qualquer leitor interessado pode, por essa via, elaborar uma lista curiosa de leitura recriando critérios de escolha.
O mesmo acontece com a escritora iraniana Nazar Nafisi no seu livro “Ler Lolita em Teerão”. Antes de iniciar a leitura, condicionada pelos últimos acontecimentos no Irão, imaginei que o livro se restringisse aos insólitos da obra Lolita, de Nabokov, e as proibições de leitura num meio revolucionário e dominado pelo radicalismo islâmico. Mas Nafisi vai muito além e propõe uma lista essencial entre títulos e autores: o próprio Nabokov, Henry James, Monte dos Vendavais, entre outros. Dos escritores sobressaem, à semelhança da autora, o paradoxo do tensionamento psicológico em face da (s) ideologia (s) da escrita.
Nafisi, no “Ler Lolita em Teerão”, traça uma radiografia não necessariamente linear da vida no Irão no período revolucionário: a divindade de Komeini, o papel desempenhado pelos jovens, os intelectuais, o lugar da universidade e do seu apoderamento político e islâmico, a guerra entre Irão e Iraque, etc. Percorrendo esses caminhos todos, a escritora demonstra o poder invencível das ideias, da convicção e da luta pela liberdade na qual acredita.
O que se percebe no livro e de modo incontornável é o lugar da América e do Ocidente como antítese conducente às radicalizações político-religiosas. E disso depreende-se uma disputa de civilizações com bases históricas muito enraizadas, mas bastante difusas.

Da actualidade africana...

Saindo do livro, mas continuando nessa dualidade, é curioso olhar o actual cenário islâmico em África (continente fortemente marcado pela colonização). Ascende no continente sorrateiramente um sentimento anti América, que, muitas vezes, em se tratando de religião, leva a questionar qual o lugar da crença e da profecia em si. O Islão, como religião oficial, configura-se como um claro objectivo no continente; as várias frentes radicais islâmicas criam terror sob pretexto do anti-americanismo, os apoios multiplicam-se, e caminhamos a passos largos para um confronto civilizacional.

Da diáspora ...

As ramificações do islamismo que percorrem o Sahra, e atravessam o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo banham toda a parte. Amin Malouf propõe, por exemplo, um “pacto laico internacional”, à semelhança do ocorrido em 1648 com o Tratado de Vestefália. A situação não se augura pacífica, pois uma parte do mundo ainda acredita que uma guerra pode ser santa…

imagem: autora do blog rendida ao véu na Líbia

22 de setembro de 2009

A escravatura, o jornalismo e o abismo

tempo















Ao longo dos cinco anos deste blog a escravatura tem sido um tema recorrente. Desde logo pelo peso histórico que a Cidade Velha teve na afirmação do tráfico de escravos, e do papel incontornável que desempenhou nesse comércio transatlântico. Mas a maioria dos textos que aqui escrevíamos fazia referência à não existência no país de um Comité de Rota de Escravos. O projecto da UNESCO sobre a Rota de Escravos nasceu em 2004 no Benin com o intuito de promover estudos e pesquisas sobre tal tragédia humana com vista a potenciar ao nível turístico, académico e outros os sítios que foram palcos da subtração, passagem, ou chegada dos escravos. A ideia de fundo passava pelo fim das lamentações, e pelo inaugurar de uma nova forma de se lidar com esse episódio horrendo da história que epicamente deu novos mundos ao mundo. Todos os países com passado escravocrata, mormente aqueles que ainda precisam de ajudas de terceiros para levar adiante os seus projectos, aderiram ao projecto Rota de Escravos criando os seus Comités nacionais. Paradoxalmente, Cabo Verde é uma excepção. Inclusive trabalhos esparsos nessa matéria foram produzidos por historiadores nacionais, mas no âmbito do Comité Português.

Estranhamente só agora, 15 anos passados, e depois de participar numa reunião sobre a escravatura na Guiné Equatorial, vem o presidente do INIPC (Instituto de Investigação e Promoção Culturais) que será eventualmente a primeira entidade responsável por essa matéria, falar da importância deste projecto e da necessidade de se recuperar o tempo perdido. De recordar que há mais tempo Cidade Velha poderia ser considerada Património da Humanidade, com mais sustentabilidade e de forma mais conseqüente, principalmente aos olhos de quem hoje a vê. É que o reconhecimento da história passa por encarar o presente.

Do jornalismo ao abismo

1. Pergunta – Em que medida a internet contribui para o jornalismo?

Daniel Jean director da `Nouvel Observateur`– Para os jornalistas, a internet traz o gosto pela velocidade. A possibilidade de qualquer pessoa responder a qualquer pessoa. Ou o fato de que todo mundo possa ser jornalista e, nesse caso, que os próprios jornalistas deixem de acreditar neles mesmos, porque são questionados a todo momento. Está se produzindo um descrédito na função do jornalista.
Daniel Jean falava a respeito do seu ultimo livro ´Com Camus – Como aprender a resistir´ (assunto para um post qualquer dia destes)

2. “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para nós”. (Nietzsche)

18 de setembro de 2009

Verde afã de uma palavra vã






















Cabo Verde!

Serás tu
vã expressão
neste diário afã
de te querer verde?

Serás tu
fútil alcunha
vilipendiando
os semblantes nossos
de rocha nua e agreste

fátuo cognome
deste chão basáltico
de perfil verde

mera denominação
deste torrão famélico
de espasmos verdes

ou tão só verde nome
espoliado à esperança

baptismal e irónica nomeação
da fraternidade da semente

que no pesadelo da erosão
da terra mulata e estéril
faz crescer acácias
nem verdes nem rubras?

Serás o verde
que nas áridas achadas
do seco lugar sonhado cabo verde

canta a mão que semeia
e faz germinar
pés árvores de sonho

ou tão só
o verde que acaba
e ressurge nos sonhos de amanhã
do retorcido cabo da enxada?

Caboverde!

Serás tu palavra vã
ou o infinito enredo
o íntimo desvelo
de um verde afã?
autor: Nzé di Sant’ y Águ (versão refundida)

17 de setembro de 2009

A Chuva e o Património




















A Vila da Ribeira Brava em S. Nicolau (fotos) foi elevada, no passado dia 6 de Agosto, à categoria de património histórico Nacional. Os argumentos do governo dizem que “a vila da Ribeira Brava tem monumentos que pela sua arte, pela sua beleza, pelo seu cunho histórico necessitam de uma especial consideração e preservação”.

Todos se lembram que a meio ano de mandato o actual presidente da Câmara de Ribeira Brava já fazia obras no sítio com o intuito de melhorar a cara de Stancha (como é popularmente conhecida) tendo em mente o sonho de património.

O espaço que há sensivelmente um mês completou 278 anos da sua elevação à categoria de vila, e considerada por muitos “o berço da intelectualidade cabo-verdiana”, passou por uma verdadeira catástrofe nos últimos dias, devido às fortes chuvas que caíram na ilha, causando danos impensáveis em todo o São Nicolau. O edil da vila chegou mesmo a dizer que “a chuva não é mais bem vinda nesta ilha”. O que não se sabe, é até que ponto esses estragos perigam o título recentemente conseguido.

Canção do amor imprevisto

tendre

















Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos…

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita…A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos

Mário Quintana

11 de setembro de 2009

Thaiti, e (os anos que passam)...

momentos




















Em homenagem a Amílcar Cabral, patrono da pátria cabo-verdiana, que, amanhã, faria 85 anos se estivesse vivo, três organizações da sociedade civil organizam esta tarde uma mesa-redonda sobre a zona do Thaiti, com enfoques no valor intrínseco do espaço e nas intervenções urbanísticas e outras em projecto. O debate na Biblioteca Nacional logo mais promete.
Várias são as margens e as virtualidades desse espaço onde outrora funcionara a Aguada da Praia e os armazéns da Companhia de Grão Pará e Maranhão, e hoje ostenta o Memorial Amílcar Cabral.
Alguns projectos de intervenção urbanística recaem, entretanto, sobre a zona do Thaiti. Apesar de aprovados pela edilidade, tais projectos enfrentam a desaprovação de certa franja esclarecida da população que não quer ver descaracterizada e alienada o potencial ambiental, histórico e patrimonial de um dos espaços mais emblemáticos da capital.
Um dos mais acérrimos críticos de intervenção urbanística no local é o arquitecto Pedro Martins que desaprova quaisquer intervenções que não se balizem pela reconstituição da área verde, com vocação de reserva botânica, a reconfiguração da antiga Aguada da Praia, marco fundacional da cidade, e a compatibilização dos vários aspectos potenciais desse espaço num quadro de um futuro Plano Urbanístico Detalhado.
A Associação Pró Praia e a Câmara Municipal da Praia são as outras instituições que irão ser parte desse debate.

Os anos ...

"Os Momentos" completou 5 anos no passado dia 30 de Agosto …e pensar que parece há dias em pleno 2004 quando tudo começou. A todos, amigos, conhecidos, visitantes, e já agora admiradores secretos (sim, os há) toda a ternura dos momentos vividos com poesia! Continuamos por aqui…

9 de setembro de 2009

A estrela e o crepúsculo ...

Ilca Andrade
























Ilca Andrade vai participar hoje em mais uma sessão eliminatória, e está bem posicionada no concurso do Helbent for Hollywood. Tem a garantia de que irá continuar até o final da maratona, o que quererá dizer que aqueles que ainda não votaram poderão fazê-lo através da página http://www.hellbentforhollywood.com/ no nº 205. Vote for her!


Grita

(...)
Quando chegares,
Amor à minha fonte distante,
desvia-me as vertentes,
aperta-me as entranhas.
E uma destas tardes - Amor de mãos cruéis -,
ajoelhado, eu te darei graças.

Pablo Neruda, in "Crepusculário"

7 de setembro de 2009

O silêncio dos (não) inocentes

Example





















Aconteceu na passada semana em Tripoli, capital da Líbia, uma Cimeira extraordinária da União Africana (UA) que “coincidiu” com a comemoração dos 40 anos da Revolução Líbia. O tema central do encontro incidiu sobre a questão dos conflitos em África, algo crucial para a União. Os países membros são unânimes em quererem ultrapassar a questão e assentar as energias no desenvolvimento do continente. Justíssimo e a questão é urgente!
Mas não terá sido essa a perspectiva de algumas agências noticiosas e de imprensa europeia. Estes centraram os seus olhares críticos sobre o presidente líbio Muahamar Kadhafi, também presidente em exercício da UA, e minimizaram a intervenção de Hugo Chavez, presidente da Venezuela, (foto) que sobre a questão deixou pistas interessantes para a convergência de blocos em prol de uma nova frente política credível e alternativa. Este anunciou o encontro de Caracas, em Setembro (26), sempre na linha do princípio da Cimeira de Tripoli, reiterando o convite a todos os Chefe de Estados africanos presentes no acto. Uma espécie de “aggionarmento” dos Não-Alinhados, bloco nascido depois da famosa Conferência de Bandung.
A própria comemoração dos 40 anos da Revolução Líbia aconteceu sob o signo da União. Uma simbologia bem conseguida que pode reforçar os ideais da UA e motivar os africanos para a “próxima etapa”, momento que o continente bem necessita.
Se fizermos um browsing pela Internet iremos encontrar em termos de notícia muito pouco esforço, pouca crença ou, então, os mesmos ataques, os mesmos exercícios de agendamento e de silenciamento a que já nos habituaram algumas agências noticiosas e alguma imprensa de grande alcance.
Não que venha aqui defender a Cimeira, até porque todos sabem quão inócuos são alguns encontros internacionais, inclusive os da ONU, por exemplo, sobre infindáveis assuntos, sejam relacionados com a África, sejam os com outras regiões do planeta. A situação dos conflitos em África ou noutras paragens não foge à regra.
Muhamar Kadhafi disse, por exemplo, que os conflitos em Darfur são sustentados por organizações israelitas com o apoio de França. No caso do Congo, sabe-se de empresas estrangeiras que exploram os minerais e alimentam conflitos, porque percebem que enquanto isso enriquecem à custa da miséria e da morte das populações. A tragédia consegue ser um grande negócio. Mas, perante tais acusações feitas de forma directa e à cara das centenas estadistas e jornalistas, provoca enorme melindre o silenciamento e/ou a reacção desviada. Estranha atitude a dos media a permitirem que assaz acusação descaia para a “normalidade”...
É que, no fundo, como mostrou o realizador belga Renzo Martens em Enjoy Poverty, alguns interesses instalados não estão interessados no fim dos conflitos em África. Para Martens, os fotógrafos não teriam barrigas desnutridas para fotografar, as televisões não teriam assuntos para directos, as organizações humanitárias perderiam as suas causas. Sobretudo, o Ocidente não criaria o muro que o separa do Inferno, criado, em parte, pela sua ferocidade imperial. O status quo interessa. É o silêncio dos (não) inocentes. Ademais, é muito, mas muito mais, excitante continuar a atacar Kadhafi, Chávez, Fidel, Mugabe, e, com isso, prolongar os modelos, as perspectivas, e os olhares dominantes. Até quando?

nota pura: a autora do blog acompanhou a Cimeira de Trípoli