28 de agosto de 2006

momentus


Creio ser o show de Maria de Barros, ocorrido no Sábado passado, uma celebração da cabo-verdianidade no sentido mais puro e simples da questão. O país global e diasporizado estava ali naquele palco. A cantora que nem nasceu nas ilhas ofereceu-nos uma noite cabo-verdiana, das mais genuinas vistas por estas bandas. Morna, coladera, funaná, presença, voz, charme, simpatia, the last, but not the least, competência. A cantora que nasceu no Senegal, canta também em francês, e balança o corpo dir-se-ia que dos ventos da Mauritânia, onde cresceu. Celebra a sua latinidade. Abraça as suas origens.
A banda de Maria de Barros é também uma pérola. Além dos Cabo-verdianos Djim Job (baixo), Zé Rui (cavaquinho) e Calú Monteiro (drums) supreende com o californiano Mitchell Long (guitarra e pandeiro) os brasileiros Sandro Rebel, e Grecco Buratto (teclado e guitarra, respectivamente). Antes de terem sido apresentados pela diva, dava para imaginar que eram estrangeiros, mas o ritmo cabo-verdiano, e o coro num criolo perfeito confundiam um bocado. A dúvida só foi dissipada mesmo com os esclarecimentos da cantora.
Mitchell Long, o americano da banda, disse que foi fácil tocar a música de Cabo Verde, porque adora o Brasil e vai lá muitas vezes. Vejam só o paralelo! Achei curiosa essa relação, para ele quase que natural. Grecco e Sandro (os brasileiros da banda) igualmente estão à vontade com os ritmos destas ilhas. Justificam-se como sendo brasileiros. São detalhes desses que comprovam, uma vez mais, a proximidade do nosso país com as terras de Vera Cruz. Uma relação que ao nivel cultural devia ser mais explorada.
A cantora e, já agora, a banda do momento prometem estar no Tabanka Mar no dia 1 de Setembro.

Bónus

O show de Maria de Barros foi aberto por Djoy Amado. Reportou-me às actuações do nosso cameraman Tcheka na cantina da TCV. Hoje, nos palcos do mundo. É este o percurso natural dos talentosos.

Post...

Resolvi mudar a foto deste post, para não pensarem que corresponde ao show de Sábado. A minha amiga Tânia ainda não mas passou (dommage!). Ela me acompanhou no show, e depois fomos ao Black Cat que eu adoro! (juro que publicava as fotos). A selecção musical do Peter (menino irlandês que cresceu na Itiópia), e as fórmulas mágicas do seu Malibu... vou ficar com saudades da minha amiga que está de malas prontas...

25 de agosto de 2006

As belas histórias de África


Assistia, ontem, pela Televisão Nacional, à entrega do prémio Jornalista Africano CNN Multichoice. Uma iniciativa de 10 anos que tem prestigiado a competência e a ousadia jornalísticas em África. Uma boa ideia, sem dúvida. Em Cabo Verde também a associação dos jornalista, AJOC, já criou um prémio para distinguir a qualidade. Perfeito! No decorrer da entrega, percebi, com alguma inquietação, que todas as reportagens premiadas falavam de pessoas violentadas, crianças estrupadas, vítimas da Sida, dificuldades mil. Até o prémio destinado às Artes e Cultura estava relacionado a uma agrura qualquer. Não se sabe de que lado está o pessimismo. Se do lado dos concorrentes que acreditam mais no impacto desses trabalhos, ou do júri que só premeia desgraças bem narradas. Sem qualquer desprimor pelos assuntos premiados, que indiscutivelmente fazem parte do quotidiano de alguns países, e devem ser denunciados, questino a uniformidade da agenda, num continente tão diverso como o Africano. É motivo de belas reportagens, o modo de vida singelo de milhares de povos deste continente, é motivo de reportagem a diversidade artística única "desta nação", é motivo de belas histórias a vida de estrelas africanas que saíram de aldeias recônditas e se fizeram ao mundo. A nossa poesia, a nossa literatura, os nossos homens... temos tantos motivos outros! Nunca ganharei um prémio em África... prefiro contar as belas histórias.

23 de agosto de 2006

"Maria cheia de graça"

ExampleHá cerca de dois anos, o jornal americano Boston Globe fez uma reportagem sobre esta mulher intitulada Maria full of grace. O que li aumentou o meu interesse por ela, e cada vez que a ouvia, gostava mais. Alguma coisa na sua música me transportava aos anos 80, periodo áureo da música cabo-verdiana. Ela é Maria de Barros - a diva cabo-verdiana na diáspora. Encontra-se em Cabo Verde para uma mega digressão pelas Ilhas de S.Vicente, Boa Vista, Santiago, Brava (provavelmente), Fogo e Sal. Esta cantora que em 2003 explodiu, pelas mãos da gravadora Virgin, só agora pôde mostrar às ilhas a sua música. Um encanto! São dois super discos gravados, Nhâ Mundo (2003) e Dança ma mi (2005) - compostos predominantemente por mornas e coladeras, interpretadas por uma voz límpida e singular, com estilo próprio, roçando ao de leve às grandes divas deste país.
Quando decidi gravar pensei na minha mãe. Queria que ela sentisse que gravei um disco genuinamente cabo-verdiano, disse-nos. Crioula cidadã do mundo, mas com os pés fincados na tradição do Arquipélago, Maria de Barros nasceu no Senegal, filha de pais brevenses. Depois, fez a sua infância na Mauritânia e a sua vida adulta nos Estados Unidos.
Maria de Barros é mais um sinal de que Cabo Verde, pelas malhas da Cultura, é uma nação sem fim. Um país que se afirma hoje no mundo pelo pulsar dos seus artistas e fazedores de Cultura, com destaque para os músicos. Ela é um exemplo deste vasto movimento que ganhou ressonância com o feito de Cesária Évora e retemperou atitude com o malogrado Orlando Pantera.
Por detrás dessa diva, e da sua face angelical, está uma mulher cheia de propósitos e de garra. Ela quer propagar Cabo Verde pelos quatro cantos do mundo, a partir da California onde vive. Fá-lo através da música e de um programa que apresenta, na Black Entertainment Television - BET, dedicado a músicas africanas.
Maria de Barros é, actualmente, uma das artistas cabo-verdianas mais celebradas a nivel internacional. Foi eleita personalidade World Music 2004 pela Revista afro-americana Essence e recentemente galardoada com o prémio Miriam Makeba de Excelência Musical.
Volto aos discos para dizer que Kalú Monteiro e Djim Job são dois produtores cabo-verdianos que asseguram o embalo criolo dos trabalhos da artista. A cantora diz que vai continuar com estes mesmos toques no terceiro disco, a ser gravado, durante a sua estada em Cabo Verde. Nos seus dois discos, além de composições próprias, traz músicas de Ramiro Mendes, Kalu Monteiro, Djim Job, Ano Nobo, Paulino Vieira e muitos outros.
À par do encanto criolo, vale ressaltar que de Barros interpreta ritmos e sotaques outros. No primeiro disco adoro o La gloria eres tu, um bolero. No segundo disco interpreta num francês assobiante a música Caresse moi.
Está feito o convite: dia 26 de Agosto, às 22 horas, no Auditório Nacional, Maria de Barros promete um show cheio de graça.

21 de agosto de 2006

Dias se passaram...


Impressionante. Há momentos em que por razões várias (tristes ou insondáveis), optamos por uma hibernação tácita. Por uns dias é como se ausentássemos do mundo. Estranhas sensações. As coisas nos passam ao lado. A última semana, para mim, funcionou nesse ritmo. Desconectada mesmo! Mas aqui sei que estou à vontade para falar dos vacilos que sequer tive, das intenções desconhecidas, e porque não das imaginações (algumas metafísicas). Estou livre, inclusive, para me punir (não será decerto necessário) pelas ausências, ou pelos silêncios imperdoáveis. Tive os meus motivos e continuo a tê-los tenuamente.

Do final de semana, não poderei falar do show Trás de Son de Djinho Barbosa, no Palácio da Cultura, porque não fui. Já vi que perdi. Fiquei em companhia de Julie London, Dianne Reeves, Nina Simone...
Os livros da minha vida de Henry Miller, é outra companhia que venho apreciando há uns dias. Um escritor sem margens, de facto. Ler por prazer é a sua máxima. Não alinha em dogmas classissistas e outros...
Já ouviste I Can´t Make You Love Me na voz de Bonnie Raitt, no nascer de uma madrugada? É o lado bom da solitude.

post script

A voz de Nana Caymmi é tão parecida assim com a de Nina Simone? Ou será da minha paixão pelas duas?! Não falo apenas do timbre da voz... da dor e da clamação também.

9 de agosto de 2006

A nossa música...

"No que respeita à música cabo-verdiana, ela simplesmente “É”. O seu lugar está conquistado, já adquiriu estatuto. Faz falta à cultura portuguesa! Nas ruas, sem programação ou aviso, ouvem-se com frequência, das janelas de carros velozes, os sons do funaná ou os ecos da morna que saem das discográficas, em vozes bem identificáveis.
Nas chamadas “catedrais” da música cabo-verdiana - Casa da Morna, B.Leza, En’Clave, mas também “Musidanças” e “Speakeasy” - passam habitualmente Tito Paris, Bana, Celina, Titina, Ana Firmino, Maria Alice, Dany Silva, Leonel, Hermémio, Mayra, Nancy Vieira (foto), Lura, Sara Tavares."

Leia mais aqui.

8 de agosto de 2006

Bazofu


Beto Dias está a preparar o seu Best of, que deverá ser lançado em meados de Setembro. Um disco que revisita a sua carreira de dezassete anos, e traz para a actualidade temas como Santo Amaro, Unidade e amor, Sin Sabeba, Ki Vida e muitas outras surpresas. O cantor diz que este projecto responde, sobretudo, a anseios de alguns apreciadores da sua música, e fans do extinto grupo Rabelados de que foi lider durante anos. De referir que o artista gravou, ao longo do seu percurso, dois discos com os Rabelados, e quatro trabalhos a sólo. Dias encontra-se entre nós para participar de uma campanha da marca de roupas desportivas Bazofu, e participar no novo programa de TV produzido pela Agência Cabo-verdiana de Imagens, Top Criolo.

3 de agosto de 2006

Boy Gé

O sono tarda... Boy Gé Mendes canta. Preenche a noite. Embala...
Melodias, sons das ilhas e do deserto, a paixão, a beleza, a ancestralidade, os santos da Bahia, "elements"..., e finalmente a morabeza criola. A África na sua diversidade, cantada pelo mininu criolo di Senegal. Um músico universal e profundo que precisa cantar mais para nós. Escute os seus dois últimos discos: Lagoa e Noite de Morabeza. Doux Miel.

La nuit

Une voix... une présence...
une chaleur amie...
sont toujours souhaitées
dans les nuits oú
le temps nous trahit

Boy Gé

1 de agosto de 2006

momentu

Muitos dos meus posts surgem assim, do nada. De uma palavra, um olhar, uma situação, ao acordar... Assistia hoje à edição do programa musical "Top Criol". Era uma entrevista com a Danae. As suas respostas flutuavam, e ela falava sempre em momentos. De repente, surgiu-me a densidade dessa palavra, a depender, claro, de quem a pronuncie. Do Latim momentu, a expressão momentos significa, num primeiro sinal, tempo ou ocasião em que alguma se faz ou acontece, pode também significar instante. Surfando pela net, reparei que todos os blogs que adoptaram esta palavra retratam, sobretudo, os bons momentos, as sensações leves, retratam formas de beleza. E percebi, com a entrevista da Danae, e em outras situações, que independentemente da acepção original da palavra momentos, ela tem um sentido convencional positivo muito mais apropriado.
O meu blog é apenas mais um exemplo. Com um olhar pessoalíssimo, não descurando da jornalista (e as suas inerências) em mim, falo, aqui, de bons fluídos. A melancolia, a saudade, e outras molestias ganham neste espaço uma idealização qualquer, um olhar, que encaixa nesse mundo construido dos momentos.
Há dias, como hoje, entretanto, que me apetece falar da Electra e das suas mazelas... da lástima social em que gradualmente se tranforma a capital deste meu querido pais, da insegurança, da impotência das pessoas, da ausência de autoridade, dos momentos (maus) que se nos fogem à lembrança de tão chocantes, como a agressão contra o músico Vadú, por exemplo. Há dias e têm sido sucessivos.

Bónus Track
Decididamente terei de criar um outro blog, para sem mácula continuar este momentu prenhe de confidências. É, a tua dor antiga foi mesmo roubada.