22 de setembro de 2006

Perdão se pelos meus olhos


Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
- monótomo é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
- assim é minha solidão -
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.

Pablo Neruda - Últimos Poemas -

5 comentários:

Anónimo disse...

demasiado previsível. experimente o joão cabral de melo neto.
JL

pura eu disse...

Que seja. Ainda que não desgoste de João cabral de Melo Neto...muito pelo contrário.

Kamia disse...

Não interessa se é previsível ou não. Pablo Neruda é para se gostar e mostrar.

Anónimo disse...

Neruda rules!

Anónimo disse...

Neruda (Pablo!!!) jamais seria previsível. Todos os signos desse Poeta Maior, mesmo aqueles coloquiais, estão eivados de enigmas. João Cabral de Melo Neto é outro: profundo, mineral e deserto. Em total mistério. As duas poéticas não se excluem. Antes pelo contrário, se diluem na louca e maravilhosa alquimia da leitura.