No calor do debate sobre a
'Crioulização' ocorrido no âmbito da Atlântic Music Expo, um participante
oriundo do nosso continente apresentou-se como parte de uma determinada etnia,
e disse que tinha dificuldade em entender essa ideia de crioulização, em que a
pessoa é um coisa e outra ao mesmo tempo. Para atenuar a sua inquietação o
músico haitiano, Erol Josué, numa inabalável crença, explicou que se trata de
um estado de espírito que nasce dessa tal África mítica que, em dinâmicas
diversas, acaba por unir as diásporas negras mais saudosas. Com olhar
complementar, Mário Lúcio revisitou a tese do intelectual antilhano Édouard
Glissant que desconstrói o princípio de identidades unitárias e fixas com a sua
tese de identidade construída ‘na relação’, aberta, e interdependente...Do
Brasil, o músico Chico César trouxe sublinhados sobre (o problema) das
dinâmicas identitárias e rácicas naquele país de dimensão continental, e nesse
aspecto Mário Lúcio é da opinião de que ‘eles’ tem algo a aprender connosco,
nestas ilhas perdidas no meio do atlântico.
Na relação ...
No primeiro dia do Kriol Jazz Festival a ‘americana da
Brava’, Cândida Rose, dona de uma voz imponente e com o pano sobre a coxa,
surpreendeu com um batuco/jazzi, a seguir Ismael Lo do Senegal cantou
Áaaafrica, aquela imensa mamãe preta, a tal solteira da lida e da labuta, de
quem ontem, no último dia do festival, mestre Chico César nos lembrou.
Agrada-me que em Cabo Verde um dos
berços que deu novos mundos ao mundo, se dê passos interessantes para uma
imparável mundialização em construção. Mais do que a globalização, a
mundialização confere às novas sociabilidades propostas pelo encontro dos
mundos o humanismo que a presente era demanda.
Há dias a imprensa avançou que Gloria
Stefan e Carlos Santana interpretaram uma música de Boy Gé Mendes num
espectáculo no México. A isso gostava de acrescentar que a esposa do Santana, a
Cindy Blackman Santana esteve com a sua banda no kriol Jazz festival de 2012.
Vejam só o resultado da tal ‘relação’ com o outro!
Gostava, sim, que Glissant estivesse vivo e
participasse nesses dois eventos de ‘todo o mundo’ que a capital cabo-verdiana
acabou de sedear neste imenso Abril! Bem haja…
Na foto: Ismael Lo e banda