Foto: Existencial Mirror - Chaos by Primedia
O mundo jogou a toalha durante a
pandemia, tirou as vestes, esteve nú, vulnerável, mergulhado num verdadeiro
pânico, e volta a vestir-se aos poucos. Nós, homens, mulheres, crianças e
velhos, pequeníssimas partículas desta imensa casa comum, os métodos das previsões sobre o futuro tremiam, as manhãs iam perdendo sentido diante dos nossos olhos fixados nos
noticiários, enquanto éramos assaltados pela angústia, a cada encerramento de
aeroportos. Do outro lado, dos tantos lados existentes nesta vida, havia alguém
na antecâmera da situação, em busca de soluções, a investigar as vacinas, a
procurar, a tentar, a correr contra a corrente das incertezas que o
desconhecido provoca. Outros só tinham ouvido falar de Pandemia nos livros de
história, e acreditavam ser um episódio do passado.
A fragilidade da vida é um dado.
Nos aventuramos, a cada amanhecer, quando saímos para ir trabalhar, quando
regressamos a casa, quando pensamos nos nossos. O telefone toca, os carros
transitam em curvas e linhas retas, numa espécie de cruzada existencial. As
ruas enchem-se, e todos os dias voltam a ficar desertas. Anoitece, em todo
lado. Há campos, aldeias, ilhas, e montanhas que só conhecem o silêncio.
Longe da Pandemia, e com as novas
vestes que recolocamos aos poucos, regressam os dias, de desafios, encontros e
desencontros, Os problemas, como diz o poema, são necessários: como viver sem eles?
Como seria? Mas eles, os problemas, devem ser cuidadosamente escolhidos por
nós, e nunca inventados. Devem também ser resolvidos, com razão e
sensibilidade, porque foram selecionados por nós pela sua promessa e relevância
latente.
Um dos apports expressivos da
nossa ancestralidade apregoava a celebração do tempo do outro, como um ritual
de espera, ambientada numa serenidade necessária à gesta de um novo tempo. Não
vale a pena engolir o outro.