23 de maio de 2023

A PANDEMIA QUASE ESQUECIDA E A NECESSÁRIA ESCOLHA DOS PROBLEMAS


Foto: Existencial Mirror - Chaos by Primedia

O mundo jogou a toalha durante a pandemia, tirou as vestes, esteve nú, vulnerável, mergulhado num verdadeiro pânico, e volta a vestir-se aos poucos. Nós, homens, mulheres, crianças e velhos, pequeníssimas partículas desta imensa casa comum, os métodos das previsões sobre o futuro tremiam, as manhãs iam perdendo sentido diante dos nossos olhos fixados nos noticiários, enquanto éramos assaltados pela angústia, a cada encerramento de aeroportos. Do outro lado, dos tantos lados existentes nesta vida, havia alguém na antecâmera da situação, em busca de soluções, a investigar as vacinas, a procurar, a tentar, a correr contra a corrente das incertezas que o desconhecido provoca. Outros só tinham ouvido falar de Pandemia nos livros de história, e acreditavam ser um episódio do passado.

A fragilidade da vida é um dado. Nos aventuramos, a cada amanhecer, quando saímos para ir trabalhar, quando regressamos a casa, quando pensamos nos nossos. O telefone toca, os carros transitam em curvas e linhas retas, numa espécie de cruzada existencial. As ruas enchem-se, e todos os dias voltam a ficar desertas. Anoitece, em todo lado. Há campos, aldeias, ilhas, e montanhas que só conhecem o silêncio.

Longe da Pandemia, e com as novas vestes que recolocamos aos poucos, regressam os dias, de desafios, encontros e desencontros, Os problemas, como diz o poema, são necessários: como viver sem eles? Como seria? Mas eles, os problemas, devem ser cuidadosamente escolhidos por nós, e nunca inventados. Devem também ser resolvidos, com razão e sensibilidade, porque foram selecionados por nós pela sua promessa e relevância latente.  

Um dos apports expressivos da nossa ancestralidade apregoava a celebração do tempo do outro, como um ritual de espera, ambientada numa serenidade necessária à gesta de um novo tempo. Não vale a pena engolir o outro.