Setaro dixit...
A estética do videoclipe se espraiou, como metástase virulenta, na estrutura narrativa dos filmes oriundos da indústria cultural hollywoodiana. Nada contra, bem entendido, o vídeoclip, mas que a sua estética seja restrita a essa modalidade de expressão mais conveniente de ser aplicado dentro dos limites de sua configuração. Mas que seja uma tônica do cinema comercial contemporâneo é profundamente lamentável e bastante sinalizador de uma decadência flagrante na construção do espetáculo cinematográfico. Assim, as tomadas são rápidas, condicionando, com isso, o ritmo do próprio filme, que fica estilhaçado sem dar a oportunidade ao espectador da contemplação, porque tudo passa muito depressa. A aplicação, no entanto, vem a atender aos apelos de uma platéia aniquilada pelo império do audiovisual, uma platéia feita pela sociedade de consumo, pela pressa desenfreada, pela busca desesperada para a inserção no reinado da coisificação. O público desaprendeu a contemplar e é na contemplação que se inicia o processo cognoscitivo, que se dá a possibilidade de um maior conhecimento. Basta ver a maneira pela qual a platéia dos complexos denominados multiplexes reage ao espetáculo cinematográfico para se ter uma idéia da tragédia que os tempos pós-modernos estão a administrar o caos cultural, o caos criativo, o caos cinematográfico, restando pouco, muito pouco, àquele que pretende usufruir o cinema como uma manifestação de prazer e arte mithos e logos.
A tesoura está a parecer o fundamento da articulação narrativa, porque nos filmes contemporâneos, no lixo que se oferece no circuito comercial, o espectador não tem a oportunidade de contemplação de uma determinada tomada, de um determinado plano dada a rapidez em que se nos apresentam. A metástase, porém, se espalhou em obras de todos os gêneros e até mesmo um filme medíocre, é verdade como O sorriso da Mona Lisa, de Mike Newell, com Julia Roberts, a metodologia da tesoura é uma constante. Na feitura do produto, portanto, há como uma regra geral, senão explícita, implícita, que condiciona a instalação do estilhaçamento da construção narrativa. O cinema sempre foi feito por fragmentos, e a impressão de uma continuidade, ilusória, era decorrência de um processo que a sugeria, quando o que sempre houve foi a justaposição de fragmentos, de tomadas. Mas se um filme médio, vinte anos atrás, tinha, por exemplo, 600 tomadas, hoje possui em torno de 1000, excetuando-se, aqui, os ultra-rápidos como Moulin Rouge...
To be continued...