10 de janeiro de 2011
Reinventar o Futuro
Afinal, o «ano maldito» não foi ainda este 2010. Vem aí, segundo dizem as previsões mais optimistas, um 2011 ainda pior. Mas a atitude certa para quem queira contrariar o destino dos tempos não é a de entregar-se ao desconsolo destes presságios. Sempre que olho para estas previsões, apetece-me voltar a dizer: afinal, o futuro foi ontem. O futuro foi ontem, porque o presente não nos anima para o que aí vem. A prometida Europa, a «revolução dos cravos» de uma democracia em liberdade, com bens melhores distribuídos, saúde, educação e justiça mais garantidas, foram promessa. E as promessas incluem sempre grande percentagem de futuro À medida que vão falindo, o futuro fica para trás.
Somos chegados aos tempos que não deveremos delegar só nos outros, seja no Estado, seja nas instituições de quem dependemos, o contrariar estes destinos. Cada um de nós, o que quer que faça, onde quer que esteja, terá de ser co-autor de procurar o futuro. Não estamos no «fim da História». Mas estamos no fim de um ciclo. Não é a História que acaba, mas é o paradigma que se esgota. O paradigma de um dito «modelo ocidental» que nos trouxe, em coisas boas e más, até aqui. Como dizia Braudel, as «ondas da História» podem ser breves, médias ou longas, mas mudam. E baseado nesta interpretação, Domenico de Masi, conjecturava: estas mudanças não são apenas o resultado de uma guerra, de uma revolução; só acontecem na coincidência de três inovações: novas fontes energéticas, novas divisões do trabalho e novas divisões no poder. E por isso, relendo a filósofa húngara, Zsuzsa Hegedus, dizia: o único garante da mudança de uma sociedade é a criatividade, a invenção.
Numa sociedade sem emprego para todos, sem segurança social capaz de assegurar a longevidade, com a democracia a exigir «meses de suspensão», com liberdades ameaçadas, com valores de pernas para o ar, com economias liberais sem créditos assegurados, com Estados ou Uniões a demolirem-se, vamos ter de ser criativos, inventivos. Individual e colectivamente.
Não enjeitemos a culpa que quase todos tivemos. Uns mais do que outros. Estamos sem qualquer espírito inventivo. Vejam-se as medidas de austeridade. Vejam-se as eleições que fazemos. Do fundo das nossas vitalidades reinventemos novos trabalhos, diferentes estados sociais, modelos de comportamento para «uma nova onda» da História. Não volta a haver a «arca de Noé». Mas pode haver o contributo de cada um de nós para reinventar o futuro.
J.M. Paquete de Oliveira
PS: Este texto pode parecer estranho. Mas é o voto que entrego a cada português para 2011.
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