20 de novembro de 2006

Capote

ExampleUm dos filmes que mais desejei ver desde o seu lançamento. Mas confesso que esperava outra coisa. Truman Capote (jornalista e escritor) escreveu A Sangue Frio, em 1966, o livro que marcou terreno no jornalismo literário. Um romance não ficcionado que narra um crime múltiplo e horrendo que vitimou quatro membros de uma família, em Kansas, Estados Unidos, em 1959. Truman Capote, enquanto jornalista da Revista The New Yorker, foi destacado para cobrir a investigação, e a repercussão desses crimes. Presos e sentenciados que foram os assassinos, o jornalista resolveu fazer um outro percurso. Descobrir as reais motivações dos autores de tamanha atrocidade. Levou anos a entrevistá-los, estabeleceu uma estreita relação com Perry Smith, um dos assassinos, cujos relatos acabaram por dar corpo ao livro que chocou a América - In Cold Blod.

Já o filme Capote (2005, Bennett Miller) é diferente. Centra, do principio ao fim, na personalidade excêntrica de Truman. Sente-se pouco os assassinos, tão presentes no romance, pouco ou nada se sabe da família assassinada, ao contrário do livro. Foi um caminho escolhido, dentre tantos. A actuação de Phillip Seymour Hoffman é a pedra de toque da narrativa. A fotografia é igualmente muito cuidada. Um dos momentos altos da realização, na minha percepção, é a tensão provocada pelo movimento de câmera no corredor da morte, quando Truman conversa com Perry, pela última vez. Capote é, no meu ponto de vista, o filme que resulta ser visto antes da leitura de A Sangue Frio. Frustra menos.

13 de novembro de 2006

Retalhos


Jackson Pollock
É recorrente o uso do titulo acima neste blog, e acontece, normalmente, quando não consigo encontrar um tema fechado. Terá que ser fechado?! Pergunto, não com pouca frequência. O certo é que quando assim é, desenho retalhos, ou simplesmente confesso-os. Se interessam ou não, é uma outra história. Agradam-me, simplesmente.

Na confusão dos meus retalhos, leio as últimas páginas do Aonde o Vento me Levar, acabado de sair do forno, do jornalista e escritor, Manuel Jorge Marmelo. Serei a primeira leitora, creio. As viagens errantes de M. são proprocionais à quantidade de mundos, meta(físicos) que se nos oferece no romance. Apraz revisitar as cidades dos livros e saber que elas nunca poderão ser como nos livros. Macondo de Garcia Marquez, Praga de Kafka, Lourenço Marques de Francisco José Viegas e Santiago de Cabo Verde de M. só existem nos livros. Sobre o obcessivo amor de M. pela Atla, darei a minha opinião ao autor, no fim da linha, quando tudo ficar mais claro.

Do Brasil, dir-se-ia que do lado esquerdo do peito, recebo 25 anos do Movimento Negro no Brasil, um livro prefaciado por Gilberto Gil que reúne textos e fotografias que ilustram as várias vertentes dessa luta titânica pela igualdade racial naquele pedaço de América. O livro documenta, com fotografias, todos os momentos altos desse combate como O primeiro encontro internacional de arte negra, Kizomba, no Rio de Janeiro e o dircurso de Nelson Mandela, na Praça Castro Alves, Salvador, em 1991. Os autores dos textos são personalidades e estudiosos que lideraram as lutas raciais no Brasil, sob perspectivas diversas.

Os infiltrados de Martin Scorsese
"Os infiltrados não é um de seus grandes filmes; ele não usa a câmera para revelar as dimensões psicológicas e estéticas de todo um universo, como em Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável e Os Bons Companheiros. (...) Scorsese tenta fazer com as palavras o que costuma fazer com a câmera, e não chega a produzir o tipo de envolvimento emocional que tornava seus filmes tão exaustivos e, ao mesmo tempo, tão satisfatórios".
The New Yorker citada pela Bravo!

Sobre Oliver Stone, e o seu último World Trade Center, tirando a crítica internacional, li a coluna da Kamia no jornal A Semana. Já agora, faço um pedido público à Kamia. Preciso ver esse filme.

Nesse fim de semana revi o Pollock, com Ed Harris. Desconcertante, doloroso e intenso.

7 de novembro de 2006

Ideologia...quero uma

ExampleO movimento “Slow Food”, criado há 20 anos por uma organização internacional que tem hoje cerca de 100 mil adeptos, nasceu na Itália, onde acaba de promover um encontro do qual participaram centenas de cozinheiros. Contrário ao fast-food norte-americano, o movimento tem origens em militantes de esquerda que buscam recuperar os “valores ecológicos e culturais da gastronomia”. A idéia é constituir uma visão humanista da nutrição que se opõe ao avanço da agroindústria globalizada.
Leia mais no mínimo

Cabo Verde esteve nesse encontro. O artista plástico Leão Lopes foi mostrar a cozinheiros de todo o mundo o que Lajedos tem. Uma experiência bem sucedida de transformação de alimentos, numa região pobre e isolada da Ilha de Santo Antão. O projecto foi idealizado pelo Atelier Mar, e visa também a crianção de uma economia local, através da promoção e modernização da agricutlura, do artesanato e, mais recentemente, do turismo solidário. Atelier Mar foi uma das primeiras ONG´s surgidas depois da independência e contribuiu, em grande medida, para uma tomada de conciência cultural (endógena) do homem das ilhas.

4 de novembro de 2006

Música

Cabo Verde está de parabéns. A música cabo-verdiana soma e segue. É este o sentimento que me invade depois de assistir ao lançamento de Fragmentos de Ricardo de Deus. Um pianista brasileiro, que reside em Cabo-Verde, desde 1999, e resolveu documentar com Bossa Nova, Lundú, Morna, Jazz e outras viagens, anos de vivências, trocas e energias musicais.
Ricardo assume a sua condição de ser musical no Fragmentos – seu primeiro trabalho. Um disco sem selo, porque brasileiro, cabo-verdiano, atlântico… universal. Um trabalho feito por degraus. “Fazer um CD instrumental, independente, não comercial, não é fácil, mas o resultado está aí”, diz.
Fragmentos conta com a participação de uma plêiade de cv músicos e brasileiros e não dispensa a voz. Tété Alhinho canta a Morna Brasileira, composição de Vera Lúcia, esposa do músico.
O músico Djinho Barbosa prefere falar da contribuição estética e académica do Fragmentos e do próprio Ricardo para à música cabo-verdiana, já que ensina na escola Pentagrama. Um artista que merece todo o nosso carinho, acrescenta a cantora Isa Pereira.
Ocorreu-me, também, falar do disco, também instrumental, de Kim Alves – Dança das Ilhas. Um trabalho admirável que demonstra a verdadeira dimensão da música cabo-verdiana. Situa e explora a morna, a coladera, o batuque, o funaná, a bandeira... Outros instrumentistas cabo-verdianos souberam dignificar o ritmo das ilhas, mas creio ser de justiça referenciar a versatilidade e o domínio do conjunto demonstrado por Kim Alves nesse disco.

Foto 1 - Omar Camilo
Foto 2 - A Semana