Terminei de ler "Riso na Escuridão" de Vladimir Nabokov, releio "O Amante" de Marguerite Duras e inicío uma viagem por "Porque ler os clássicos?", de Ítalo Calvino. Este último livro fez-me pensar nas minhas leituras de adolescência. Leituras desajeitadas, porque não orientadas, leituras ao acaso, algumas indicadas, é certo. A minha grande decepção residia na memória nublada que tenho de alguns livros. Nos meus 13, 14 anos devorei a magra coleccão juvenil, e não só, da biblioteca municipal da minha cidade. Era conhecida do responsável pela Biblioteca, um rapaz que tomava conta apenas daquele espaço, já que mal sabia escrever. Tinha entrada e circulação livre pelas estantes, via e revia os titulos, lia e relia as introduções. Aquilo que me agradava à primeira, levava.
Revistas e jornais também contam. O pároco de S.Filipe era assinante da revista Família Cristã. Eu era a segunda leitora assídua de cada número daquela publicação. Ia à casa do Pároco, religiosamente, todas os meses, saber se tinha chegado a revista. Algumas ficavam para mim, outras não. O jornal Terra Nova era outro periódico que também fazia parte do meu mundo. Orientação, orientação, nunca tive. Pedro Cardoso e Eugénio Tavares figuravam como os únicos grandes homens de Cabo Verde. Pelo menos na região Fogo e Brava, onde todos tinham algo a dizer sobre esses homens. Acabei descobrindo os outros, assim como descobri muitos outros, de outras latitudes, outros mundos, outras raízes, e outras aldeias, iguais àquela onde nasci e cresci. Continuo nessa incessante caminhada em busca do "meu clássico", como, de resto, aconselha Calvino.
Dizia, entretanto, que ler o trecho abaixo foi reconfortante para mim, e originou este post...
"De facto as leituras da juventude podem ser poucas profícuas por impaciência, distracção, e inexperiência da instrução para o uso e inexperiência das instruções de vida. Podem ser (se calhar ao mesmo tempo) formativas no sentido de darem uma forma às experiências futuras, fornecendo modelos, conteúdos, termos de comparação, esquemas de classificação, escalas de valores, paradigmas de beleza: tudo coisas que continuam a agir mesmo que do livro lido na juventude se recorde pouquíssimo ou mesmo nada..."
in: Porque ler os Clássicos?, de Ítalo Calvino