13 de abril de 2010
Nós somos o jazz
No ano passado escrevi este texto sobre a minha percepção da dinâmica de socialização que o Krioll Jazz Festival traria à Cidade da Praia e a Cabo Verde. A edição deste ano só veio confirmar essa impressão: além de um cartaz de luxo, e sobretudo consequente, tendo em conta a proposta do festival – consolidar um jazz crioulo – o festival deste ano mereceu a cobertura da imprensa estrangeira e despertou interesse de produtores internacionais. Praia entrou na rota do jazz.
Creio ser de louvar o facto de um grupo como Manhattan Transfer (as lendárias 4 vozes) aceitar actuar na Cidade da Praia sem cobrar cache, ou, por exemplo, o arranjador e um monstro sagrado da música popular brasileira (MPB) como Jacques Morelembaum dizer alto e em bom som que sonhava pisar estas ilhas.
Insisto na proposta de uma música jazzi cheirando à raíz, e nessa perspectiva o Kriol Jazz superou todas as expectativas. É só ver o que Ralph Tamar faz em parceria com Mário Canonge - foto: um casamento perfeito. Tamar decide por uma carreira a solo, e fá-lo sem abandonar o tom e a estética que o caracterizavam nos Malavoi…prolonga-se em outras bases rítmicas. Mário Canonge é versátil, transita com mestria pelos vários géneros.
A mesma leitura se pode fazer do grupo Kora Jazz Trio. Djeli Diawara, o korista da banda, já actuou com grandes nomes do jazz, sem nunca perder a sua tradição sonora mandinga.
Foi, como afiançou o director artístico do festival, Djô da Silva, este repto que se lançou aos músicos cabo-verdianos: um novo show, outros voos. Kim Alves e Princezito, sem falar de Vasco Martins, provaram que, de facto, nós somos o jazz.
Falar da música
Outra marca do kriol jazz festival foi a inter modalidade entre a performance musical e a reflexão sobre a música, entre o espectáculo e o workshop, entre o entretenimento e o conhecimento.
Ao agregar a Universidade de Cabo Verde no rol dos promotores, este festival aporta uma complexidade que o torna referência para os músicos de Cabo Verde e de outras paragens.
Finalmente …
Horace Silver foi o homenageado do festival, e segundo as palavras de Ulisses Correia e Silva, “uma homenagem que terá chegado tarde” e Silver só não esteve presente no evento por motivos de saúde. Até aí, tudo bem. Que me recorde, apenas Mário Canonge interpretou uma das canções de Silver… ao longo do Festival, raramente se fez referência ao pai do hard – bop. Eu, e meus entrevistados, teremos falado muito mais dele nas reportagens que fiz para a televisão…
fotu: Omar Kamilo
5 de abril de 2010
Omar e a sua amante difícil
O fotógrafo Omar Camilo apresenta dia 6 de Abril, no Centro Cultural Português da Praia, uma mostra de 12 fotografias, intitulada “A Amante Difícil”. Um olhar intenso sobre a realidade cubana, em que a estética não recusa a ética de enunciar as múltiplas outras realidades subjacentes.
Omar Camilo nessa mostra não se dedica à imprudência do olhar acrítico, nem se deixa levar pela abordagem panfletária. Coloca foco nas múltiplas realidades do quotidiano da sua amante Havana, cidade de onde é natural, e nos apresenta detalhes sobre o belo e o grotesco, o que atrai e repugna, o que faz amar com risco calculado e dose de dificuldade. Além de tudo, o artista aborda Havana como uma mulher que deseja e ama intensamente.
“A Amante Difícil” é um conjunto harmónico que retrata a desarmonia por detrás do que se olha. Três elementos chamam atenção na mostra: o corpo da amante, uma Havana decadente mas atraente, a sua personalidade e o que fica para o artista desta relação de amor.
Omar apresenta-nos o desafio difícil de amar entre o ser e o parecer ser. Das muitas exposições já feitas, “A Amante Difícil” parece instituir o seu diferencial num dos grandes paradoxos do momento: Cuba que se ama, mas que se censura, ao mesmo tempo.
Nada é por acaso nesta mostra, foi tudo pensado, não friamente pensado, mas intelectualmente bem colocado, diz.
Omar Camilo, para além da fotografia, dedica-se também às artes visuais e à poesia. Como realizador especializou-se em documentários sobre a arquitectura antiga e as fotos para esta mostra foram sendo feitas mentalmente nesse percurso ….
2 de abril de 2010
Conceição Queiroz conta Morabeza
A TVI de Portugal vai apresentar na Segunda-feira uma grande reportagem sobre Cabo Verde feita pela jornalista Conceição Queiroz - foto, logo a seguir ao Jornal Nacional. O programa intitulado No País da Morabeza, aborda os 35 anos da Independência de Cabo Verde, com enfoque sobre os ganhos, a peculiaridade das ilhas, os índices e os contrastes.
Participam como entrevistados jornalistas, historiadores, portugueses residentes nas ilhas, além do Primeiro Ministro, José Maria Neves, e Carlos Veiga, este na qualidade de antigo Primeiro Ministro nos dois mandatos dos anos 90.
As ilhas do Sal, Santiago, S. Vicente e Fogo são os palcos das histórias de Conceição Queiroz, Ricardo Ferreira, (repórter de imagem), e Miguel Freitas (montagem).
A comunidade cabo-verdiana a residir em Portugal terá, assim, a oportunidade de, mais uma vez, rever o seu país, desta feita num programa que acentua a simplicidade de um povo humilde que acredita e batalha por um caminho próprio.
Para ver…
No País da Morabeza
TVI, 5 de Abril
20H55 (h de Lisboa)
18H55 (h de CV)
Subscrever:
Mensagens (Atom)