24 de maio de 2005

Cinema: A Ilha dos Escravos

EscravosO novo filme do Realizador português Francisco Manso – A Ilha dos Escravos –, cujo início de gravação começa em Setembro próximo, vai contar com uma forte participação de cabo-verdianos em vários momentos.
A realização da banda sonora vai estar a cargo de Mário Lúcio e a consultoria histórica sob a responsabilidade de António Correia e Silva. O protagonista do trama, também ele cabo-verdiano, será o actor Mano Preto.
A Ilha dos Escravos narra uma história de amor e de relação humana entre um escravo (o João) e sua patroa. Um navio negreiro naufraga na costa da Ilha, e escravos fugitivos espalham-se por zonas afastadas, como forma de sobrevivência. Esta situação desencadeia uma repressão militar sem precedentes que estará na base de uma revolta de escravos, liderada por João. O trama levanta também a questão da miscigenação.
O filme decorre em Cabo Verde (Santiago), Brasil (Estado de Alagoas) e Portugal (Lisboa) em 1852.
Apesar da produção do trama estar fortemente centrada em Portugal, através da Cinemate, "A Ilha dos Escravos" é um filme que conta com participações equilibradas de actores brasileiros (Milton Nascimento; Zezé Mota e Thaís Araújo), portugueses (Diogo Infante, Vítor Norte), e cabo-verdianos (Mano Preto), estando alguns dos personagens ainda em processo de selecção.
A longa-metragem, com argumento de António Torrado, terá a duração de 110 minutos e será distribuída pela Lusomundo.
Francisco Manso é realizador, produtor e argumentista. Dentre as suas obras ligadas a Cabo Verde, destacam-se "O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo” e “Na rota da escravatura”.

19 de maio de 2005

Órfeu: tertúlia literária sobre Fernando Pessoa

ExampleUm grupo de intelectuais, que se autodenomina CDS, pretende organizar na Residência do Embaixador do Brasil, Victor Gobato, um dos promotores da iniciativa, uma tertúlia literária sobre o poeta Fernando Pessoa. A tertúlia que acontece neste Sábado, 20 de Maio, contará com a participação de mais de duas dezenas de intelectuais que abordarão em poesia, prosa, e outros testemunhos a complexidade do poeta Fernando Pessoa. Desde a decoração ao recital em si, passando, naturalmente, pelo buffet a cargo da embaixatriz do Brasil, tudo recriará o ambiente onde Pessoa produzia sua poética universal. Os convidados de honra desta iniciativa são os embaixadores de Portugal e dos Estados Unidos, e o Ministro da Cultura.
O núcleo duro que promove a iniciativa é composto por Dolores Vasconcelos, Filinto Elísio Correia e Silva, Fátima Bettencourt, Joaquim Morais, Corsino Fortes, Victor Gobato e Sónia Gobato. Tudo isso vem na sequência da tertúlia literária organizada há um mês sobre Jorge Barbosa e Manuel Bandeira, animada pelo embaixador Lauro Moreira (Solo Brasil) aquando da sua vinda a Cabo Verde.

13 de maio de 2005

CCP/IC recebe exposição de obra gráfica

ExampleVai ser inaugurada, no dia 16 de Maio, uma exposição de Obra gráfica portuguesa contemporânea (serigrafia, litografia, gravura) no Centro Cultural Português/ Instituto Camões, na Praia. O Moçambicano Malangatana, e o cabo-verdiano Tchalé Figueira são alguns dos africanos que figuram no rol de artistas portugueses que integram a exposição, com destaque para Carlos Calvet, Cruzeiro Seixas e Júlio Pomar.
A exposição reúne uma colecção de obras notáveis produzidas nos últimos 20 anos em Portugal. São no total 40 obras da cultura e arte contemporânea de artistas de reconhecido valor, tanto portugueses, como africanos, embora estes sejam em menor número.
Entende-se que a obra gráfica contribui para uma maior divulgação da arte contemporânea junto do grande público, tendo em atenção o seu papel pedagógico. “Uma arte que… inventa uma intimidade irrepetível, quotidiana festa dos sentidos e do olhar…”
Esta exposição é uma iniciativa conjunta do Centro Cultural Português/Instituto Camões e do Centro Português de Serigrafia. Este Centro surgiu em 1985 pela iniciativa de António Prates, com o objectivo de facilitar ao amante e coleccionador de Arte o acesso à posse de obras de grande qualidade.

Malangatana, sem titulo,
serigrafia, 1983,
coll.priv

12 de maio de 2005

George N. Leitão é nome de Correios na "Merca"

ExampleGeorge Neves Leighton (ou Leitão) é, a partir de agora, nome do Edifício dos correios de New Bedford, nos Estados Unidos. Um honorável juiz cabo-verdiano americano, e um dos primeiros juízes de origem africana nos Estados Unidos, nascido a 2 de Outubro de 1912 no estado de New Bedford. Esta alta homenagem que em muito engrandece o nosso país, e funciona como mais uma pedra de toque para a comunidade cabo-verdiana emigrada nas terras do Tio Sam, foi uma decisão da Câmara dos Representantes dos EUA.
George Neves Leighton, (ou Leitão) é filho de Anna Silva Garcia e António Neves Leitão, naturais da Ilha Brava. E como filho de emigrantes que era, a vida não lhe foi fácil.
Com idade para os estudos teve que ir trabalhar num petroleiro, tendo posteriormente retomado escolas nocturnas. Fez os estudos universitários na Universidade de Howard, em Washington DC, e na Faculdade de Direito de Harvard, em Massachusets. Mais uma vez Leighton interrompeu os estudos, desta feita para se alistar na Segunda Guerra Mundial, tendo sido agraciado com “estrela de Bronze”. No ano de 1946 conseguiu o seu diploma em Direito na prestigiosa Harvard.
Esse ilustre cabo-verdiano americano já foi Juiz do Tribunal da Comarca do Condado de Cook, em Illinois (1964) e primeiro juiz negro do Tribunal de apelação do Primeiro Distrito do Norte de Illinois (1969). Leighton foi também nomeado para o Tribunal do Distrito no Norte de Illinois em 1976, e leccionou na Escola de Direito “John Marshall”, durante 27 anos.

11 de maio de 2005

Cesária Évora com crise de saúde

ExampleA produtora Harmonia, Lda. informou, hoje, através de uma nota de imprensa, que a cantora Cesária Évora deverá ser submetida nos próximos dias, em França, a uma intervenção cirúrgica sem gravidade.
A mesma cancelou todos os espectáculos entre 10 de Maio e finais de Agosto. A embaixadora cultural de Cabo Verde no mundo deverá, segundo a Harmonia Lda., retomar, em Outubro próximo, a sua agenda normal.

9 de maio de 2005

Revoltas "na txom di morgadu"

ExampleA história da resistência das populações no interior da Ilha de Santiago de Cabo Verde é longa e penosa. A estrutura agrária em Santa Catarina, no século 19, é, segundo António Correia e Silva, muito particular, emergindo da decadente sociedade escravocrata que não só produziu uma enorme taxa de fuga de escravos, como criou, através do processo de alforrias, um número considerável de forros.
Revolta tipicamente camponesa, ocorrida em 1910, um mês depois da Proclamação da República em Portugal, e logo após a posse, na Cidade da Praia, do Governador Marinha de Campos, Ribeirão Manuel sintetiza, em razão profunda, um contexto em que o tipo de exploração agrária exacerba as estruturas de arrendamento em anos de intensa seca e de má colheita, polarizando tensões entre os morgados e rendeiros.
A razão imediata dessa revolta teria origem numa queixa do morgado Aníbal dos Reis Borges contra algumas mulheres, alegando que estas teriam invadido a propriedade da irmã para roubar a purgueira. A recolha e exportação destas sementes produtoras de sabão era monopólio oficial, note-se. Tropas estacionadas na então Vila da Assomada, chefiadas pelo temível sargento Machado, prenderam as mulheres e conduziram-nas para a Cadeia de Cruz Grande.

Mais Revoltas

Outra revolta importante foi a da Ribeira dos Engenhos, em Janeiro de 1822, num período de convulsões institucionais em Portugal e em Cabo Verde. A população local tem uma ideia muito remota desse acontecimento.

Em 1840, assiste-se a uma nova revolta, desta feita em Achada Falcão. Os amotinados, centenas de camponeses rendeiros e parceiros, avançam contra os solares dos morgados e gritam que as terras cultivadas eram suas. Estes atentam contra dois grandes morgados, Nicolau Reis Borges e Manuel Tavares Homem, presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina. A revolta que, ao tempo, demandava a reforma agrária, foi sufocada por soldados enviados da Cidade da Praia.
O Ministro da Cultura avançou-nos numa entrevista que o seu ministério tem um projecto de recuperação de alguns solares de morgado, no âmbito do resgate da contribuição dos sítios agrários à história das ilhas. O solar que pertenceu ao temível Carlos Coelho Serra na Ribeira dos Engenhos poderá ser um deles. A casa funciona como escola e encontra-se num estado avançado de degradação.

6 de maio de 2005

"Tabanca di Quitalona" em Tombatoro

ExampleAs festividades de santo em Cabo Verde são um fenómeno pouco estudado, disse-nos, certa vez, numa entrevista, Padre Sanches, Pároco de S.Filipe-Fogo. Nessa ilha as festas de Santo, como sincréticas que são, se entrelaçam, na sua maioria, com as famosas bandeiras (manifestação cultural de forte raiz popular).
No caso de Santiago e Maio, essas simbioses dão-se com as famosas tabancas (festejadas sempre num dia de santo). As múltiplas cores, o ritmo quente, as canções alegres, o batuque, os tambores, que acompanham os búzios são signos marcantes da Tabanca. Uma manifestação que terá originado do caos social, nas ilhas, provocado pelas secas e fomes cíclicas.
O que queremos mesmo, é falar um pouco da tabanca de Tombatoro, localidade vizinha de Ribeirão Manuel, Concelho de Santa Catarina. Conversamos com Manuel Varela, “Rei di takanca di quintalona”, desde 1951. Pareceu-nos pouco esperançado no futuro dessa tradição, mas com um vigor que dá inveja aos mais novos. “Nu carrega tabanka ti li, má jovens di goci ca crê sabi de tabanca”, lamenta. Estávamos em casa da Rainha, Armelinda Gomes da Veiga, mas esta permanecia quase sempre calada, enquanto Varela narrava partidas da tabanca de anos que não voltam mais. O mais falador era um senhor dos seus 40 anos, “tomado de cana”, que repetia vezes sem conta ter sido a rainha, a doadora do terreno para se construir a casa da tabanca, erguida mesmo ali em frente.
É verdade, confirmou-nos a rainha. Manuel Varela (o rei) brincou tabanka desde criança, tendo a partir de 1951 substituído o então rei, marido de Armelinda, que partira para Angola como emigrante, mas que hoje, com idade já avançada, vive à míngua numa cama.
Armelinda Gomes da Veiga, cuja mãe, em vida, também tinha sido “rainha di tabanca”, das poucas vezes que fala é para reclamar da vida. Quis deixar uma marca dessa tradição que lhe é quase familiar. Por isso cedeu um pedaço de terreno para a construção da casa da tabanka. O espaço está construido, com cobertura, portas e janelas. As obras avançaram muito, mas pararam. O Vereador da Cultura da Câmara de Santa Catarina, Higino Fernandes, pediu mais rapidez, já que foi a Camara quem doou todo o material de construção.
Os dinamizadores da tabanca prometeram avançar. É que no próximo dia 29 de Junho, dia de S. Pedro, a tradição se cumpre: Haverá “festa bedju na Tombatoro e Rubon Manel". Que viva a tradição!

4 de maio de 2005

Mendes Brothers Lançam novo CD

Example"Kabu Verdi" é o último álbum dos Mendes Brothers (Ramiro e João Mendes) acabado de dar à estampa nos Estados Unidos, e a ser lançado em breve em Cabo Verde. Disco emblemático porque aparece no trigésimo aniversário da Independência Nacional, razão porque a faixa kabu Verdi (que dá título ao álbum) não aparece por mera coincidência.
kabu verdi bó ten na mi…/ un fidju fiel/ un fidju amanti/prontu na morre pa bó/ num instanti” escreve Ramiro Mendes nessa linda toada folclórica. De resto, os irmãos Mendes permanecem iguais nessa preocupação de valorizar o folclore da Ilha do Fogo (neste álbum com algumas “talaia baxu”, de batidas progressivas, mas de estrutura tradicional de Cabo Verde (várias formas de execução das coladeiras) e de Angola (semba, sobretudo) numa aproximação assumida com as suas raízes africanas.
Mas a grande novidade, além da musical, está no assumir a padronização da escrita da língua cabo-verdiana plasmada nos versos que dão corpo ao álbum. A ulitização do alfabeto ALUPEK com o apoio da professora Nezy Brito é disso prova.
Os Mendes Brothers têm no mercado discográfico sete obras, designadamente o "Novo Método" (1983), "Palonkon" (1993), "Bandera" (1995), "Torre di Control" (1996), "Para Angola com Xi Coração" (1997), "Satélite Zambi" (1999) e “Kabu Verdi” (2005).