6 de maio de 2005

"Tabanca di Quitalona" em Tombatoro

ExampleAs festividades de santo em Cabo Verde são um fenómeno pouco estudado, disse-nos, certa vez, numa entrevista, Padre Sanches, Pároco de S.Filipe-Fogo. Nessa ilha as festas de Santo, como sincréticas que são, se entrelaçam, na sua maioria, com as famosas bandeiras (manifestação cultural de forte raiz popular).
No caso de Santiago e Maio, essas simbioses dão-se com as famosas tabancas (festejadas sempre num dia de santo). As múltiplas cores, o ritmo quente, as canções alegres, o batuque, os tambores, que acompanham os búzios são signos marcantes da Tabanca. Uma manifestação que terá originado do caos social, nas ilhas, provocado pelas secas e fomes cíclicas.
O que queremos mesmo, é falar um pouco da tabanca de Tombatoro, localidade vizinha de Ribeirão Manuel, Concelho de Santa Catarina. Conversamos com Manuel Varela, “Rei di takanca di quintalona”, desde 1951. Pareceu-nos pouco esperançado no futuro dessa tradição, mas com um vigor que dá inveja aos mais novos. “Nu carrega tabanka ti li, má jovens di goci ca crê sabi de tabanca”, lamenta. Estávamos em casa da Rainha, Armelinda Gomes da Veiga, mas esta permanecia quase sempre calada, enquanto Varela narrava partidas da tabanca de anos que não voltam mais. O mais falador era um senhor dos seus 40 anos, “tomado de cana”, que repetia vezes sem conta ter sido a rainha, a doadora do terreno para se construir a casa da tabanca, erguida mesmo ali em frente.
É verdade, confirmou-nos a rainha. Manuel Varela (o rei) brincou tabanka desde criança, tendo a partir de 1951 substituído o então rei, marido de Armelinda, que partira para Angola como emigrante, mas que hoje, com idade já avançada, vive à míngua numa cama.
Armelinda Gomes da Veiga, cuja mãe, em vida, também tinha sido “rainha di tabanca”, das poucas vezes que fala é para reclamar da vida. Quis deixar uma marca dessa tradição que lhe é quase familiar. Por isso cedeu um pedaço de terreno para a construção da casa da tabanka. O espaço está construido, com cobertura, portas e janelas. As obras avançaram muito, mas pararam. O Vereador da Cultura da Câmara de Santa Catarina, Higino Fernandes, pediu mais rapidez, já que foi a Camara quem doou todo o material de construção.
Os dinamizadores da tabanca prometeram avançar. É que no próximo dia 29 de Junho, dia de S. Pedro, a tradição se cumpre: Haverá “festa bedju na Tombatoro e Rubon Manel". Que viva a tradição!

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