28 de fevereiro de 2007

O comopolitismo em Cabral


… Cabral não hesita em defender que fossem eliminados os “aspectos negativos da nossa cultura” e preservados os eventualmente positivos deixados pelos colonizadores. E isto constitui um dos mais expressivos indicadores de que Cabral orientava-se menos por um princípio fundacionista – marcado pelo passado e inextrincavelmente atrelado ao lugar – que por uma trilha virtual, a ser completada no futuro, num campo de relações mais societárias que comunitárias, e que teriam o cosmo como parâmetro e base inspiradora.


In: Em busca da NAÇÃO (notas para uma reinterpretação de um Cabo Verde criolo). Gabriel Fernandes. Pg. 208.

27 de fevereiro de 2007

Da janela


De vez em quando eu o via na janela, picando tabaco e enrolando o cigarro, o olhar na rua dos Barés, seus quiosques, camelôs, mendigos e bêbados em meio a urubus, atento para o burburinho da rua que era uma extensão do Mercado e do atracadouro do pequeno porto.


In: Dois irmãos. Milton Hatoum. pg. 99

26 de fevereiro de 2007

Flashback


Quer regressar
recorda

sente o presente
imagina o que não foi
e nunca será…

revive o sonho
tenta o reencontro

she needs to go back
para rever ruas e casas

e o resto, quem sabe!

23 de fevereiro de 2007

Temores


Humildes famílias
dos pescadores
no seu medo ancestral
ao céu e ao mar

ficam atentas
e contritas a ver
as manchas distantes
dos barcos velejando.

No decurso dos anos
é raro mas há
um bote qualquer
que nunca mais volta!

Jorge Barbosa

16 de fevereiro de 2007

Claridade o ano todo

Baltazar Lopes da SilvaO ministro da cultura anunciou, hoje, a celebração, neste ano, do centenário do nascimento da primeira geração da Claridade, movimento literário e cultural, em torno da Revista Claridade, inaugurada em 1936. Em verdade, alguns Claridosos completariam cem anos, se estivessem vivos, entre estes dois dos seus três fundadores: Manuel Lopes (foto) e Baltasar Lopes da Silva.
Manuel Veiga anunciou uma complexa programação, com vários momentos e em vários pontos do país. O ponto alto será o Simpósio Internacional Geração Claridade, que acontece na cidade da Praia, entre os dias 20 e 22 de Abril, com dezenas de conferencistas, nacionais e estrangeiros.
Outubro vai ser o mês de Mindelo onde serão publicadas as actas do Simpósio do Cinquentenário da Claridade, ocorrido nessa cidade, em 1986. O Fogo e a Brava também acolhem, em Outubro, a comemoração com os lançamentos da reedição da revista Manduco de Pedro Cardoso e Memória de um Pobre Rapaz, livro de Guilherme Dantas.
O anúncio de Manuel Veiga acontece depois do posicionamento do edil de Ribeira Brava, Amílcar Spencer Lopes, a criticar a iniciativa do Ministério da Cultura, no referente à data do Simpósio, já que a própria edilidade vai realizar entre os dias 18 e 23 de Abril, o Primeiro Centenário do Nascimento de Baltasar Lopes da Silva, na sua ilha natal. Veiga minimizou tal posicionamento, alegando que todas as celebrações são bem-vindas e não excludentes.

O marco...

O Movimento Claridoso, que mudou o panorama literário de Cabo Verde há mais de setenta anos, nasceu em torno da Revista Claridade, fundada na cidade do Mindelo, pelos intelectuais Jorge Barbosa, Manuel Lopes e Baltasar Lopes da Silva. Antes do lançamento da revista, a tertúlia sobre um novo paradigma das letras fervilhava, tanto na cidade da Praia como no Mindelo, e Jorge Barbosa lançara, em 1935, o livro de poemas “Arquipélago”, com os signos poéticos do evasionismo, dos pés fincados na terra e da idiossincrasia crioula.
A partir da Claridade, a literatura cabo-verdiana ganha mais notoriedade e passa a ser classificada como singular. Tanto que muitos analistas ainda hoje dividem a literatura das ilhas em três momentos: a pré claridosa, a claridosa e a pós claridosa. Divisão que não deixa de suscitar alguma polémica entre os estudiosos.

9 de fevereiro de 2007

Por uma arte visível

Misá vai estar presente na Feira Internacional de Arte Contemporânea (ARCO), que acontece de 15 a 19 de Fevereiro, em Madrid. Ela levará as suas obras eivadas de um telúrico ruidoso e policromático. Ao lado desta artista apaixonada pela vida e a sua fruição, vão estar as obras dos Rabelados (foto), as fotografias de César Schofield e as esculturas à base de sapatos velhos, de Albertino.

ARCO simboliza a arte contemporânea, no seu esplendor. "o seu prestigio internacional, aliado ao atractivo cultural de Madrid, se converteu a cada ano num centro de atenção de galerias, artistas, coleccionadores, críticos, comissários, conservadores, gestores de museus, especialistas e teóricos de todo o mundo", evidencia o site do evento.

As obras dos artistas cabo-verdianos vão ser expostas num stand denominado "Artes Invisíveis", promovido pela Agência Espanhola de Cooperação. A ideia é dar aos visitantes uma noção da arte contemporânea africana. À par da mostra, os participantes estarão envolvidos em várias conferências de Imprensa, seminários e reuniões de trabalho, tendo por temática a Arte Africana.

O pólo nevrálgico da Feira Internacional de Arte Contemporânea vai albergar uma colecção artística central com obras de peso histórico, das grandes galerias da arte moderna e de outras mais actuais.

O grande objectivo da organização é transformar a ARCO numa importante plataforma mundial de comércio e convergência das artes. A presença de artistas cabo-verdianos e de outras paragens como a América Latina e a Ásia insere-se nessa política de internacionalização e - porque não? - de inclusão. Uma luz sobre o invisível, diria!

7 de fevereiro de 2007

Quero ser


O Ser torna-se, por vezes, consigo próprio implacável. Ele se elabora numa excessiva exigência. Mas, quero crer que somos, na maioria das vezes, pedaços, instantes e sensações. No fundo, perseguimos a suprema humildade, quem sabe, a felicidade. Afinal, é uma dádiva termos direito a sensações - das mais simples às mais esquisitas. Elas emanam de uma profundeza qualquer. Quero ser livre, sem amarras, para ter saudades, para gostar e para amar...

Os anos sucedem-se. Os meses caem vertiginosamente sobre o pensamento. De um ápice, mal começou o ano, já estamos em Fevereiro. Jamais esquecerei desse 2 de Fevereiro, no Rio Vermelho, em Salvador da Bahia. O Andenor Gondin também lá estivera a fotografar a magia sagrada das águas da deusa Iemanjá. No próximo dia 8, o meu amigo Jorge publicará o seu romance “Aonde o Vento me Levar”. Este título quererá dizer muito para o jornalista escritor. Oxalá esse “vento” o traga até nós, um dia desses.

Quero, pois, sentir o que sinto ao escutar a música “Innocent”, de Andreas Vollenweider . Quero ainda ter a liberdade de fazer um post onde nada digo. O estado da alma de nada dizer e de apenas sentir... Celebrando, nesse puro mutismo, o existir.

A elaboração sistemática... Tem hora que mata a música.