26 de junho de 2007

Poema de amanhã

(...) - Mamãe!

Sonho que, um dia,
Estas leiras de terra que se estendem,
Quer sejam Mato Engenho, Dacabalaio ou Santana,
Filhas do nosso esforço, frutos do nosso suor,
Serão nossas. (...)
ilustração: Mãe preta de Lasar Segall, 1930
poema: Poema de amanhã de António Nunes, 1945

25 de junho de 2007

Casas do Sol

















Este empreendimento turístico, à semelhança das construções tradicionais cabo-verdianas, fica em S.Filipe-Fogo, anexo ao Centro Sócio Sanitário S.Francisco, numa zona chamada Cutelo de açúcar, onde decorriam, num passado recente, as corridas de cavalo durante a Bandeira de S.Filipe. Quem não vai ao Fogo, há muito tempo, não consegue imaginar o paraíso erguido naquele chão, sem falar dos serviços médicos e das acções solidárias ali desenvolvidas…
Casas do Sol, sobranceiro a um extenso e envolvente mar, inaugura o turismo solidário na Ilha. É um dos projectos da Associação Solidária para o Desenvolvimento (ASD), apadrinhado pelos Padres Capuchinhos, criado para dar sustentabilidade ao Centro sócio – sanitário S.Francisco.
Divulgue esta ideia!

19 de junho de 2007

Manuel Lopes


Queria que chegasses, finalmente,
numa manhã qualquer,
– estrela fria de alva ou sol ardente
cujo sorriso bom
me pudesse prender...
Que tivesses o dom
de me encantar e conter
– que valesses o mundo
que sonhei ter...
A prosa consequente de Manuel Lopes, hoje, na TCV, no programa Claridade Incandescente, com Pires Laranjeira e Simone Caputo Gomes.

18 de junho de 2007

Do cinema


Gosto do Cinema, e alguns cineastas são, para mim, necessários para a tal fruição a que todos nos damos nesse acto de ver filmes. Spike Lee, (foto) por razões técnicas e existenciais, é um deles. Revejo, há dias, O Infiltrado (Inside man), na TCV, e foi fascinante descobrir novos elementos no mar de criatividade a que esse realizador já nos habituou. É difícil, senão mesmo impossível, catalogar os filmes de Spike Lee, mormente este, tão complexa a sua narrativa.
O assalto a um banco surge, à primeira vista, como o trama central do filme. E é de facto uma surpresa perceber que tal mote, que perpassa todo o enredo, é apenas um elemento que nos conduzirá a uma condenação fria e final de um banqueiro americano que se enriquece à custa do Holocausto. O assalto ali é um pretexto de abordagem para outras perspectivas (a do assaltante-protagonista, a do mágico-realizador e a do espectador em reconstituição da trama).
O filme é simplesmente complexo do ponto de vista narrativo. Não espanta que o realizador tivesse sido galardoado com o prémio 2006 Black Reel. Ele inova-se com uma espécie de flashfront, em clara oposição ao clássico flashback da narrativa cinematográfica. Os reféns aparecem, nesse recurso, a dar depoimentos aos detectives que trabalharam no caso, e aí, vale ressaltar a actuação exímia de Denzel Washington na pele de um dos detectives (consegue incorporar a implacabilidade, a ironia e o cepticismo que se vai densificando).
Os takes da câmara também falam alto no filme. Eles provocam, agridem, não pedem licença... há momentos que berram aos ouvidos daqueles que se recusam a ouvir.
Por tudo isso, reconfirma-se o já sabido: Spike Lee é um consagrado da filmografia contemporânea. Não só pelas causas, que defende, mas pela linguagem, que desafia, trazendo sempre o inusitado. Sem trair o Cinema…

15 de junho de 2007

Há poesia no Irão


“Elle rythme notre vie entiére. L´Iran est le seul pays au monde à dresses des mausolées aus poétes! Quand j´allais visiter des villages, les habitants me faisaient leurs demandes en vers. Quand nous entions enfants, ma mére avait un vers pour chaque événement de la vie. Et il y a un jeu en Iran oú les joueurs enchaînent à tour de rôle les vers, en reprenant la dérnière rime... Chez nous, tout le monde se prend pour un poéte!”

Farah Pahlavi, ex-imperatriz do Irão

9 de junho de 2007

O eu, o Outro e o Colectivo

ExampleLedo engano esse de considerar o meu blog egocêntrico ou umbigocêntrico. Eu personalizo alguns posts na primeira pessoa, por opção estilística ou outra igualmente legítima. Tenho plena convicção de que nunca me resvalei pelas minhas intimidades. Não faço pensamento, nem discurso excludente. O meu eu não se reserva centrico e absoluto, excluindo o Outro e o Colectivo...
Ademais, quando alguém vai a uma aldeia remota e escolhe falar da vida de uma Joana e dos seus filhos, a ideia é falar da mulher ou das familias daquela região, por exemplo. Importa saber ler em perspectiva e em circularidade. São recursos que convidam, são opções que se fazem, principalmente quando se escreve com a intenção primeira de se comunicar.
Em verdade, este discurso do eu, não esgota o discurso do Outro. O pecado estaria na exclusão também do meu eu. O discurso que excluisse liminarmente o meu eu seria absolutista e fascista. Assim como seria oligarca o discurso hegemônico e exclusivista do eu em detrimento do Outro e do Colectivo. Visão monolítica essa de defender o predomínio do eu, do Outro ou mesmo do Colectivo.
Quando falo de mim, eu me posicioso no mosaico de todos, no direito à cidadania que me assiste e à sensibilidade de que não abro mão.
Não apreciei a classificacão aqui feita e não a assumo. Os Momentos é um espaço híbrido de comunicação... não para a promocão do meu ego, mas para as causas que descortino. A socialização de informação (ainda que, por vezes, personalizada) me parece ser a marca dos blogs, e não a egolatria dos seus donos. Seria bom que esse equívoco se desfizesse...

7 de junho de 2007

Fora de ocasião


Entre filas de livros, um título chama a atenção da Ísis. Uma capa branca com azul e vermelho de permeio, e, destacada, uma jovem triste em debruço. É estranho como tudo lembra aquela mulher. E era mesmo… Hiroxima, meu amor, de Marguerite Duras. O filme já vira, o livro nunca lera… ainda que dormisse menos horas, o que não quer é adiar mais este encontro com Duras.

Assim como Ísis

Eu não ´stou de nenhum lado
e no meio também não:
ando sempre deslocado
e fora de ocasião.

6 de junho de 2007

Notei que...


Escrevi sobre o Fogo, e poucos dias depois tive de lá ir. Quem conhece este blog, de há muito, sabe que referencio, com alguma regularidade, a minha ilha, e que, infelizmente, só tenho evocado o seu passado, porque no presente, com as devidas margens, pouca coisa interessante acontece por lá.
Já escrevi aqui sobre a Casa da Memória, sobre o Djarfogo (agora com os tempos livres aos Sábados), sobre as bandeiras, os coladores e coladeiras, as igrejas, etc. No finzinho da minha estada, fui apresentada a José Carlos Silva, o rosto daquele interessante programa de culinária Na Roça com os Tachos. O apresentador encontra-se no Fogo, com a sua equipa, a fazer gravações para o seu novo programa Sal na boca, a ser emitido pela RTP 1. Pelo que percebi, um projecto mais ambicioso e atento aos cruzamentos culturais, envolvendo os países lusófonos da África, Portugal e o Brasil: e o interessante é que isso também vai se reflectir nos pratos que confecciona. José Carlos Silva diz-se fascinado por Cabo Verde, “terei problemas com os outros países”, brinca. Já esteve em S.Vicente, Santo Antão, Santiago e termina a sua viagem ao nosso arquipélago na ilha do Sal.
Refira-se, que o programa Na Roça com os Tachos foi produzido em S.Tomé e Príncipe para a RTP África, e editado em livro pela Oficina dos Livros, estando já na 8ª edição.

Vejo também...
… que já existe na net uma ala marginal de crónicas sujas. A originalidade, para além da irreverência dos textos, está na composição balística das ilustrações do Abraão.