O americano Quentin Tarantino, actor, realizador e roteirista, é sobretudo um amante desvairado do cinema. Sabemo-lo do Pulp Fiction, filme que lhe abriu as portas para a imortalidade. Sabemo-lo também, já como consagração, pela obra À Prova de Morte (Death proof, 2007), trama de alta intensidade sobre as referências e as paixões fílmicas de Tarantino.
A história, aparentemente básica e linear, é um polígono de terror: um psicopata (Kurt Hussel) segue pela noite quatro lindas raparigas e acaba por assassiná-las num brutal acidente premeditado. O "crash" dos carros é propositadamente macabro. A recorrência a um psicopata, que se apresenta como duplo de filmes, é outra homenagem ao cinema dos anos 70, assim como a alusão à paixão dos australianos por carros, através de uma das personagens da segunda parte do filme.
Os diálogos entre lindas raparigas com telemóveis e revistas modernas repescam o cliché da cultura pop-anglo saxónica. Dir-se-á o mesmo da trilha sonora onde inclui "Laisser Tomber les Filles", popularizada por France Gall. Tais referências divertem e activam a memória.
A cena (inovadora) das perseguições de carro é também uma linda homenagem à Sétima Arte: o suspense é notório e prende-nos como parte do drama. Na primeira parte do filme, o embate mortal é sentido por cada uma das personagens: pontos de vista difíceis de conciliar (aos níveis da realização e da montagem). A segunda parte com outro grupo de meninas da moda é menos tensa, mais divertida e surpreendente, porque viram o jogo, e perseguem o psicopata até à morte.
A violência é definitivamente o elemento que excita Tarantino (Pulp Fiction como ápice). No Death proof , Tarantino retalha o tempo em nome do puro cinema.
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