23 de julho de 2008

A Língua Portuguesa e o Brasil

a língua portuguesa















Ontem, no post anterior, limitei-me a anunciar e a enquadrar a afirmação do Ministro da Cultura de Portugal de que Cabo Verde estaria mais bem posicionado que o Brasil para contribuir na expansão da língua portuguesa no mundo. Fi-lo por uma questão de fidelidade ao discurso alheio, ainda que o Ministro não tenha demonstrado esforço algum para sustentar afirmação tão controversa. Dizer apenas que o ensino em Cabo Verde é eficaz não é suficiente.

Vale dizer que o grande desafio educativo de Cabo Verde é a Qualidade. Falta-nos, depois de grandes conquistas neste sector, o Salto de Qualidade. E um dos nossos condicionalismos é a diglossia entre o Português e o Crioulo, a alienar o Bilinguismo Cabo-verdiano.

Considerando sempre o esforço nacional no sentido da expansão e da qualificação do ensino, tenhamos sempre em vista o caso de uma potência como o Brasil, eu diria, o país que se perfila na linha da frente para a potenciação da língua portuguesa no mundo. De resto, os pobres e os ricos brasileiros referenciados pelo Governante português, também os há em Portugal (e em Cabo Verde), o analfabetismo idem.

A rede das universidades existente no Brasil, só para citar um exemplo, traduz-se num manancial de quadros qualificados incomparável à situação de Cabo Verde que apenas nos anos noventa começou a dar os primeiros passos para o ensino superior. A nível nacional, a alfabetização, ainda que considerável, não apresenta um cenário comparável ao Brasil em números absolutos. A literatura brasileira tem no seu portfólio obras e autores com dimensão equiparada aos grandes nomes da literatura produzida em Portugal. A editoração brasileira é mais de 80% de toda a lusofonia. A própria música brasileira tem levado a língua portuguesa a recantos que lusófono algum conseguiu penetrar. De modo que não se compreende o entusiasmo do Ministro de Cultura de Portugal a pretender dar a Cabo Verde um título que já pertence de modo incontornável ao Brasil, a pátria da maioria dos falantes da língua portuguesa no mundo. O Museu da Lígua em São Paulo (foto) é o corolário dessa força, que já conota enorme qualidade.

Terá chegado a hora de aceitar, sem complexos, nem ressentimentos (vejam o caso do Acordo Ortográfico), essa força numérica do Brasil, e convergir esforços também com os países africanos que falam oficialmente o português, em prol do incremento da lusofonia no mundo.

2 comentários:

M.J.Marmelo disse...

Ou seja: o que o ministro português faz é, mais uma vez, enterrar a cabeça na areia e não querer ver e reconhecer que o Brasil é hoje o grande país da lusofonia. Um dia ainda vamos acordar e perceber que os brasileiros resolveram falar uma outra coisa a que chamarão simplesmente brasileiro, deixando-nos a nós, os restantes utilizadores do português, reduzidos a palradores de uma língua extravagante e ultraminoritária. Cabo Verde, naquele programa, fez apenas o papel de peneira com a qual o ministro tentou ocultar o sol.

pura eu disse...

Esperemos que Cabo Verde não caia nessa, até porque o Brasil como escreveu o historiador Correia e Silva é um Caboverdão. Bem antes, o imortal B.Leza escrevera que "Cabo Verde é um Brasilin".

Emoções à parte, os dados estão lançados: Brasil é o que é hoje para a Língua Portuguesa, e as coisas vão acontecer naturalmente, com ou sem traumas. "The day after" será de sol e/ou de tempestade a depender da forma como Portugal se posicionar doravante perante esse português que já pertence ao mundo.