11 de maio de 2009
Nem Europa, nem África (again)
A semana passada foi interessante para o dossier parceria especial Cabo Verde União Europeia. A Troika ministerial e o Fórum para a construção de um consenso nacional funcionaram como núcleos de esclarecimentos e divulgação desse feito da política externa cabo-verdiana.
Sobre tudo o que se disse, retive uma questão, digamos, que permeia a maior parte dos debates que ocorrem em Cabo Verde. Polarizam-se duas tendências dissonantes e politicamente bem situadas sobre as integrações regionais e geográficas, também relativamente a esta parceria. E no meio de tais alinhamentos que se tripartem entre CEDEAO, Macaronésia e (MERCOSUL?), têm surgido contradições.
Uns defendem reiteradamente que a parceria especial Cabo Verde União Europeia será ampla se, à par dos atributos internos, o país reforçar a sua presença na CEDEAO. Poucas vezes, os defensores desse pressuposto demonstram como isso se dará na prática. Chegar à presidência da comunidade?! Eventualmente, sim. Mas isso, como se sabe, é difícil, para não dizer impossível. Há estados membros com mais vantagens nesse sentido.
A ala que apoia a euro atlantização (?) de Cabo Verde prefere apenas lembrar-nos da necessidade de reforço da nossa presença na macaronésia.
Os argumentos são muitos. O de que partilhamos com a Europa os mesmos valores humanos e cristãos, os mesmos princípios políticos; o festejar da história comum, etc. Mas nunca é demais lembrar que essas justificações, se usadas em excesso, podem entibiar o tão propalado reforço de CV na CEDEAO, por razões óbvias.
Existem aqueles que claramente não querem saber da CEDEAO, sabemo-lo, e estão mais à vontade para defender a Euro atlantização de Cabo Verde, e usar os mais atlânticos argumentos possíveis. Entretanto, os que, por justiça histórica, questões de pele, ou até políticas, são favoráveis à densificação da presença de Cabo Verde na sua sub-região devem conter-se mais.
O país deve encarar essa parceria como uma reconfiguração processual e normal da sua relação com a Europa (um espaço seguro); potenciar a sua importância para a economia e para a segurança do país neste mundo de rápidas mudanças; responder com eficiência aos novos desafios que se lhe colocam. Mas sem grandes emoções. Não podemos, sob pretextos outros, perder a nossa noção de pertença.
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4 comentários:
Acho que Cabo Verde nunca ganhou muito na parceria com a CEDEAO e ganhou muito mais com a Europa.
A meta dos seis pilares imposta - i) boa governação, ii) segurança e estabilidade, iii) integração regional, iv) transformação e modernização; v) sociedade do conhecimento vi) luta contra a pobreza - acaba por ser positiva. É um ganho.
Mas também acho que devia haver maior engajamento (3º pilar) com a CEDEAO, pois não deixa de ser um mercado próximo, ideal para as exportações.
Mas essa dicotomia que você fala acho que tem a ver com complexos mal resolvidos.
Cabo Verde é membro da CEDEAO, e não parceiro. Tem obrigações para com a Comunidade, e enquanto não se entender isso "os complexos", e os problemas ficarão por resolver.
A própria Parceria Especial não estará livre disso.
Um belissimo texto, o qual subescrevo quase por inteiro. Este blog foi uma agradavel descoberta. Ja tinha reparado que voce é uma das senão a melhor jornalista que actualemente temos em Cabo verde e o seu programa deve ser premiado.
Continue com motivação, força, determinação e coragem.
Muitíssimo obrigada e volta sempre.
MF
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