21 de dezembro de 2009
17 de dezembro de 2009
(Ainda) a mensagem, e a obsessão do Narciso
1. A eficácia de uma campanha não se mede pela sua repetição desenfreada. Quando isso acontece, os telespectadores e/ou ouvintes começam a perder interesse na própria campanha em questão, independentemente da pertinência do conteúdo. Já é hora do staff do Ministério da Saúde mudar a publicidade que alerta sobre os sintomas da dengue, e apela à procura imediata dos centros de saúde ou hospitais em caso de contaminação. Certamente, que, com o decorrer dos acontecimentos, outros tipos de mensagem tornam-se mais actuais do que outros. É pensar nisso.
2. O jornal que chama para si o epíteto de todas as qualidades mediáticas das ilhas, não faltando a da isenção e da imparcialidade, estará a organizar no final da tarde de hoje uma mesa redonda sobre o campo mediático cabo-verdiano. Assim decidiu a publicação assinalar mais um ano de vida. Tentamos, mas não deu para ir ouvir os sermões de uma bíblia com tantos poucos seguidores por estas bandas. Com sérios e absolutos problemas de consciência vive alguma imprensa, com o agravante de tal qual Narciso, adorarem o espelho.
3. “Nunca parti deste cais”, escreveu o meu poeta …
15 de dezembro de 2009
Da imagem à mensagem
1. Chamaria a isso os pequenos vícios da província, e tem nome e tudo: O vaso da abertura. Certamente, lá em casa já teve a oportunidade de ver na TV as tantas aberturas oficiais de encontros, ateliers e outros, que acontecem em Cabo-Verde, presididas por membros do governo e/ou Presidente da República. Nunca faltam aqueles vasos compostos de flores artificiais, muito vistosos. Os organizadores desse tipo de evento preferem tamanho grande, de preferência aqueles bouquets que tapam a cara de quem está a falar.
2. As instituições (mormente as públicas) que financiam as publicidades para TV entre nós deveriam ter mais noção e começar a escrutinar com conhecimento de causa as mensagens que deixam passar nessas publicidades. O último filme sobre a Casa do Direito que está a ser emitido na TCV é um exemplo de como essa avaliação crítica não é feita. Além de ser um spot longo, passa uma mensagem preocupante relativamente à responsabilidade paterna (que entre nós já é deficitária). A senhora, mãe de três filhos, triste, angustiada, lamenta porque a “ajuda?” do pai para os três filhos que tiveram juntos tem faltado. A mensagem subliminar dessa publicidade, sem querer, acredito, reforça a irresponsabilidade paterna, (porque naturaliza o distanciamento) e fere o orgulho da mãe e até dos filhos.
3. Deve estar a pensar na ligação (que não existe) entre a ilustração que usei e o conteúdo deste post…são os tais desvios (ruídos) comunicacionais.
3 de dezembro de 2009
Natal sem Dengue??! Veremos…
Não gostaria aqui de ser repetitiva relativamente ao surto e posterior epidemia da dengue que assolou Cabo Verde, até porque este sítio é conhecido por assuntos de outra casta. Mas a dimensão do susto e as circunstâncias que ditaram, em partes, o meu afastamento prolongado justificam o conteúdo.
Comecemos pelas vítimas: o Primeiro-Ministro, tu, grande parte dos nossos amigos e familiares, eu, todos, ou quase todos... 70 % dos profissionais do Hospital Agostinho Neto (Hospital Central da Praia). Mais de 20 mil cabo-verdianos foram picados pelo mosquito aedes aegypti…
Às vezes, as doenças vêm vagarosas e tacteantes, instalando-se no meio, de forma tão insidiosa que chegam a surpreender as autoridades sanitárias e, com mais propriedade, toda a população. Foi o que aconteceu com a dengue. Também à vítima, a dengue se manifesta de forma insidiosa … o mal estar inicial nunca é evidente, insinua para depois atacar e dominar.
Não que o Arquipélago não tivesse o aedes aegypti. Esse mosquito, encontrado nas regiões tropicais e intertropicais, existiu em Cabo Verde desde há muito tempo, e não chegou a ser erradicado totalmente do país.
A grande questão neste momento (e os prognósticos são muitos) prende-se com o evoluir da epidemia para o ciclo endémico, o que irá mexer profundamente com os hábitos, e não falo aqui apenas do saneamento, sabendo nós que o desafio mister é erradicar os focos vectores…
O caso do Fogo
Desde a época colonial a única ilha de Cabo Verde que continuou com o mosquito aedes aegypti foi o Fogo. Sabe-se que na ilha existem alguns hábitos típicos como as cisternas caseiras, sem falar dos bebedouros dos animais e reservatórios que são o sustento de algumas regiões encravadas. Um dos especialistas que lida com a dengue há 20 anos na Martinica, Laurent Tomás, disse durante a sua estada entre nós que essas cisternas têm de ser protegidas urgentemente por mosquiteiros especiais sob pena de continuarem a ser autênticos viveiros larvais. Acrescentou que o caso dos bebedouros dos animais é mais preocupante. Coincidência ou não, é de salientar que enquanto os casos suspeitos diminuíam em Santiago, o Fogo continuava a ter uma média relativa alta que rondava 30 casos dia. Uma questão ainda não muito bem esclarecida.
Barlavento
Além de erradicar os focos nas ilhas de Sotavento e travar a epidemia, outra preocupação das autoridades de saúde é proteger as ilhas de Barlavento onde não se registaram casos autóctones. Boa Vista foi a excepção com alguns casos notificados. E por fim, a ocorrer a endemia, aprender a conviver com a situação.
Queremos um natal sem dengue, disse o Primeiro-Ministro. Veremos! Ontem, 2 de Dezembro, registaram-se a nível do Sotavento 79 novos casos. Os lugares mais afectados foram a Cidade da Praia (43), Santa Cruz (11), Maio (9), e S. Filipe (6). No dia 1º de Dezembro, registaram-se 53 novos casos na Cidade da Praia e 20 em S.Filipe.
Saber mais na...
Grande Reportagem Dengue: uma pandemia que chega a Cabo Verde, Segunda-feira, 7 de Dezembro, depois da telenovela A Favorita, na TCV.
Eu aqui me despeço
Eu me despeço.
Volto à minha casa, em meus sonhos.
Volto à Patagônia, aonde o vento golpeia os estábulos e salpica de frescor o Oceano.
Sou nada mais que um poeta: amo a todos, ando errante pelo mundo que amo.
Em minha pátria, prende-se mineiros e os soldados mandam mais que os juízes.
Entretanto, amo até mesmo as raízes de meu pequeno país frio.
Se tivesse que morrer mil vezes, ali quero morrer.
Se tivesse que nascer mil vezes, ali quero nascer.
Perto da araucária selvagem, do vendaval que vem do sul,
das campanas recém compradas.
Que ninguém pense em mim.
Pensemos em toda a terra, golpeando com amor a mesa.
Não quero que volte o sangue...
a molhar o pão, os feijões, a música:
quero que venha comigo o mineiro,
a criança, o advogado, o marinheiro, o fabricante de bonecas.
Que entremos no cinema e bebamos o vinho mais tinto.
Eu não vim para resolver nada.
Vim aqui para cantar e quero que cantes comigo.
Pablo Neruda
nota pura: A dengue chegou insidiosa, quase anónima. Em pouco mais de três meses provocou estragos generalizados entre nós ... e nem ´Os momentos` conseguiu ficar de fora. Mas já estamos de volta.
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