20 de julho de 2011

Quando se parte...


















1. O texto que vai ler foi escrito por mim e publicado neste blog em Novembro de 2007. Nha Filó morreu hoje em sua residência, em S.Filipe, por volta do meio dia.

2. Sou uma mulher de poucos amores (devo ter dito uma blasfémia, mas é a pura verdade). Uma das pessoas que amo de coração completou esta semana 104 anos. Ela é minha madrinha, provavelmente a mulher mais velha de S. Filipe. Um monumento da Cidade. Felismina Mendes é o nome dessa madre, mais conhecida por Nha Filó, a dona de todas as estórias. É ainda lúcida. Mas lembra de cor algumas estórias, que de tanto repeti-las, podem nos induzir ao erro. É do encanto, apenas. A proeza de ter cruzado décadas feitas de tudo.
Ela cultiva uma relação especial com a televisão. As telenovelas, os filmes e o noticiário encantam-na. Nutre uma saudade eterna pelas estórias que conta do Dr. Teixeira de Sousa, um amigo e grande médico que também escreveu romances que ela nunca leu.
Nha Filó é um arquivo vivo... basta consultar. Uma senhora alegre que nunca teve filhos, mas cresceu com crianças à volta. Hoje, continua assim. Entram pela meia-porta, pedem água, assistem à TV, e depois se despendem. Tê manha nha Filó.
Foi conhecer a América só na década de 80, porque não quis ir antes. Muito antes, na década de 50, quando o seu pai comprou Ernestina, o barco que cruzava o atlântico com cabo-verdianos rumo à América. O pai, Henrique Mendes, e o irmão, Arnaldo Mendes, eram partes da tripulação, e desse manancial de vida, nha Filó guarda pérolas memoráveis.
Felismina Mendes sempre permaneceu em S.Filipe à espera das estórias que chegavam para depois partirem. E continua lá, à espera do tempo…

fotu: Fausto do Rosário

1 comentário:

da caps disse...

independetemente de k, de facto n haver irmandade (you know the meaning ;)), vai o reconhecimento da senhora k afinal era uma biblioteca viva de histórias da terra do burcan.
k a cidade saiba valorizar os seus e suas memórias..