30 de dezembro de 2005

Bons momentos...


Foto tirada daqui.

Criei este espaço seguindo um insistente conselho de um grande amigo. A princípio, não sabia, ao certo, a que vinha. Mas como anos antes criei com uma equipa uma página cultural na net – Kultura Online – que gerou algum interesse, resolvi seguir as pesadas desse tempo. Com a consciência de que seria um espaço livre, onde escrevesse apenas sobre as coisas que me interessassem (a cultura, a vida, os sentimentos), e quando desse. Se calhar para inverter um pouco as obrigações, por vezes áridas, da minha profissão. De facto, assim foi. Tenho escrito sobre momentos que ficam das músicas que escuto, dos livros que leio, das pessoas que conheço, dos eventos que cubro, dos lugares que me encantam, enfim. E acredito, de facto, que os dias, os anos, e a vida só fazem sentido se soubermos de formas mil preservar esses momentos.
A todos vós um ano 2006 repleto de bons momentos.

29 de dezembro de 2005

Amor


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar
por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da
sua vida.
Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o
dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos
encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de
ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um
presente divino: o amor.
Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais
que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a
outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las
com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer
momento de sua vida.
Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela
estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos
emaranhados...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que
está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim,
tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... se você preferir
morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma
dádiva.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou
encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem
atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer
verdadeiramente.
É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as
loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

Carlos Drummond de Andrade

28 de dezembro de 2005

O eu que amo nele


O último disco de Guilherme Arantes, há três anos no mundo. Escuto, aqui, as músicas todas da voz que tanto amo…são tantos momentos revisitados… parece outra vida, outro mundo, outro eu. Se quiser me socorrer!

Vamos criar um coro de música caboverdiana

Esse é o mote de uma mensagem enviada pelo músico Humberto Ramos a todos aqueles que se interessam pela música cabo-verdiana. Um desafio para o ano 2006.

Quem vai cantar? Eis a questão que o mentor da ideia adivinhou que muitos fizessem, e vai logo dizendo que todas as pessoas que se acharem capazes serão bem vindas ao Coro. Humberto Ramos, que reside em Portugal, para começar, pretende fazer “umas audições individuais para seleccionar as pessoas interessadas”, que não precisam ser uns "Banas" nem umas "Cesárias". O que conta, segundo Ramos, é a vontade de aprender e disponibilidade para ensaiar.

Vai-se precisar de, pelos menos, 50 pessoas com mais de 35 anos para participar e ajudar na organização do Coro. O repertório será composto por 15 emblemáticas mornas de vários compositores nacionais. As inscrições podem ser feitas através deste endereço. O músico Humberto Ramos promete, brevemente, trazer mais detalhes sobre o assunto no seu site pessoal.

27 de dezembro de 2005

Conto de escola

Na semana anterior tinha feito dous suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guena, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes.

Machado de Assis. In: Cantinga de Esponsais.

22 de dezembro de 2005

Festas Felizes


Todos os anos recebo um cartão desse do meu amigo Mito. Este ano, resolvi compartilhar o momento contigo.

Cabo Verde entre ritmos e encontros

Ramiro MendesA MB Recordes, liderada pelos irmãos Ramiro (da foto) e João Mendes é uma produtora multifacetada. Investe na produção, em si, agenciamento de artistas, e representa os direitos de autor dos artistas que produz. Uma das maiores fatias monetárias, a nível global, da indústria musical. A sua intenção é dar um outro rumo à questão em Cabo-Verde.
“A SOCA – Sociedade Cabo-verdiana de Autores já foi criada, e espero que brevemente consiga dar passos significativos nesse domínio”, diz Ramiro Mendes.
“Cabo verde possui um catálogo de 1 milhão de composições e nenhuma delas está protegida”, remata.
Refira-se que, pela primeira vez, no último CD de Tito Paris a ser lançado, se viu referenciado o nome do compositor da emblemática música Sodadi: Armando Zeferino Soares.

Outro grande projecto da MB Recordes é promover, através dos seus contactos e know-how, uma indústria cultural em Cabo-Verde, e internacionalizar os artistas nacionais. Mendes esteve esta semana na Praia para dar continuidade a alguns contactos nesse sentido. A gravação do “Tito Paris acústico” em parceria com o BCN, resulta deste projecto.

Encontros da nação crioula, na música e na cultura, é outro projecto, há muito acalentado por esse foguense di Paloncon, que se assume como cidadão do mundo. No ano passado, o grupo musical "Ferro e Gaita" participou no Festival de Jazz de New Orleans com essa filosofia. Ramiro Mendes pretende, assim, uma reunificação das nações crioulas, através da música, aqui, de onde partiram.

Tito Paris acústico

Tito Paris acústicoTito Paris lança no dia 30 deste mês, no Tabanka Mar, o seu último disco ao vivo e acústico, gravado no ano passado na aula magna, em Lisboa.
Nha sina, Ondas di bô corpo, Um gosta di bó, Febre de Funaná, etc.
As músicas são conhecidas, mas a viagem que desta feita proporcionam a quem as escuta, é inédita. Uma viagem acústica e sinfónica. Uma ambiência sonora edílica, também possível com a música cabo-verdiana. “Tito Paris acústico” é apenas um primeiro passo para a concretização do grande sonho do artista: o de gravar um álbum clássico cabo-verdiano, com músicas de compositores como Eugénio Tavares, B. Léza Olavo Bilac, e outros. Um projecto de vida que funciona também como uma peça importante para a universalização da música cabo-verdiana.

O disco, segundo o seu produtor Ramiro Mendes, marca um momento de viragem na carreira de Tito Paris. O CD vem acompanhado de um DVD com 4 músicas, para ver e ouvir, e um Bónus para recordar um dos grandes sucessos do artista: Dança Ma Mi Crioula.

Nessa sua curtíssima estada em Cabo Verde, Tito Paris, sempre insistente, não deixou de manifestar, uma vez mais, a sua preocupação para com o rumo que está a tomar a chamada música moderna crioula. Lançou um apelo às autoridades nacionais no sentido de se introduzir, com urgência, o ensino musical nas escolas.

19 de dezembro de 2005

Contos Crónicas e Reportagens...

... é a mais recente obra publicada em Cabo Verde – semana passada. Um livro que resulta de uma compilação de textos da jornalista, Maria Helena Spencer, publicados em vários números do Cabo Verde – Boletim de Propaganda e Informação, entre os anos 1949 e 1964.

"Eu nasci na Praia, aqui tenho vivido durante a maior parte da minha vida e, para mim nenhum lugar no mundo é mais belo, em nenhuna outra terra conseguiria ser mais feliz. Mas acabo de regressar de S.Vicente e tenho que deixar falar o coração para ser justa. Mindelo e Praia. Barlavento e Sotavento."

Passagem de uma obra que transporta no tempo, um olhar, no feminino, da vida, dos lugares e das pessoas em Cabo Verde, nos idos anos 50 e 60. Maria Helena Spencer, autora dos escritos, nascida em 1911, é a primeira jornalista cabo-verdiana de que se tem memória. Escreveu contos, crónicas e reportagens sobre Cabo Verde num período em que as mulheres das ilhas viviam sob outros preceitos.

A compilação dos textos foi feita por Ondina Ferreira, que entende ser este "um resgate da historiografia cabo-verdiana". O livro não apenas reporta momentos, lugares e personagens das ilhas de Cabo Verde, principalmente Santiago, S.Vicente, Brava e Boa-Vista, mas eterniza a figura de uma escritora, que tendia a cair no esquecimento. Um momento à parte, portanto, para a bibliografia cabo-verdiana.

Contos Crónicas e Reportagens - um documento que testemunha o quotidiano cabo-verdiano dos anos 50 e 60, "com uma requintada sensibilidade" como testemunha a favor da autora, o escritor foguense, Teixeira de Sousa. Maria Helena Spencer vive em Portugal há largos anos.

15 de dezembro de 2005

“Nós Patrimóniu” em exposição

ExamplePilão, Binde, Moringue, pote, cangalhas de couro, enxadas, acessórios utilizados na confecção do queijo e manteiga, cabaças, balaios, etc.
Objectos que denotam a criatividade das mulheres e homens cabo-verdianos que nos antecederam. Objectos que narram a vida quotidiana dos nossos antepassados. A vivência, a cultura e a história em memória. Expostas numa estrutura de madeira, inspirada na Fortaleza Real de S. Filipe, Cidade de Santiago. A síntese do cabo-verdiano na espontaneidade da história.

Pode-se, desta forma, lançar um olhar sobre a exposição etnográfica e subaquática, a cargo do Instituto da Investigação e do Património culturais, a ser inaugurada, amanhã, na Cidade da Praia. Fruto de uma recolha realizada entre 1992 e 95 nas Ilhas de Santiago, Santo Antão, Boa Vista e Brava.

Uma exposição que tem como objectivo "divulgar e promover a cultura material cabo-verdiana de modo a sensibilizar a população para a problemática da preservação do património cultural”.

Um marfim, moedas de dois reais espanhóis, e o fragmento de uma caneca de cerveja inglesa são alguns dos objectos encontrados no Princess Louisa. Navio londrino projectado para fazer parte da companhia da Índia Oriental Britânica. Na sua quarta viagem rumo à Pérsia e Bombaim, a 18 de Abril de 1743, o navio embateu numa baixa dos mares da Ilha do Maio e ficou completamente submerso. Esta é apenas uma parte do espólio subaquático cabo-verdiano, presente na exposição, que resulta de um trabalho de pesquisa e recolha, realizado nos mares de Santiago, Maio, Boavista, S. Vicente e Brava.

A exposição "Nós Patromóniu" vai ser inaugurada, esta sexta-feira, às 17 horas no Núcleo Museológico da Praia, na antiga instalação do IFAP.

14 de dezembro de 2005

Recortes


Milton Hatoum

O meu amigo Jorge Marmelo disse-me, hoje, que está a ler Milton Hatoum, um brasileiro de Manaus, de origem libanesa de que gosta bastante. Presa a uma curiosidade natural, já que não conhecia o escritor, resolvi surfar um bocado na Internet, a ver se descobria mais alguma coisa sobre ele. Fiquei a saber que é professor de literatura na Universidade Federal do Amazonas, e que ganhou o prémio Jabuti de melhor romance em 1999 com Relato de um Certo Oriente. Cinzas do Norte, o livro que Jorge Marmelo está a ler, é a sua terceira e última obra.

O Crioulo

A 20ª Edição do Festival Crioulo que aconteceu em Seychelles, em Novembro passado, recomenda que if we want our language to survive we have to ensure its rightful place in the cyberspace.
Foi uma semana em que estudiosos de várias nações que falam o crioulo estiveram reunidos à volta do tema "the future of Creole is in its functionality”, para concluírem que a presença do crioulo na web é pouco expressiva, e que mais deve ser feito para inverter este quadro.
De todo o modo, vale voltar à opinião de Robert Chaudenson, Presidente do Comité Internacional dos Estudos Crioulos, deixada na Praia, aquando da realização do 11º Colóquio Internacional de Estudos Crioulos.

Voltando ao Milton Hatoum

Encontrei as informações sobre Milton Hatoum neste sítio que poderia servir de exemplo para uma iniciativa idêntica em Cabo-Verde. Filinto Elísio anunciou, para breve, um novo livro de Arménio Vieira. Se um leitor atento, estrangeiro, quiser saber mais sobre o escritor, poucas oportunidades tem de o fazer na Internet, já que existe quase nada de informativo sobre os escritores cabo-verdianos, que respeite a gramática cibernética. É que ninguém lê estudos ou análises “despejados” por inteiro na web. E é desta forma, infelizmente, que muito sobre a literatura cabo-verdiana é disponibilizado na Internet. As editoras, e não só, deviam pensar em fazer esse trabalho. Não é impossível. Matilde Dias, tem no Lantuna (Bio), um sinal disso. Já agora, não esquecer dos que escrevem em crioulo, tendo em conta a recomendação de Seychelles.

12 de dezembro de 2005

O lugar que escolhi


Escolhi este lugar, assim como se escolhe uma casa para viver ou um sítio para morrer. Nem sempre nos damos conta das nossas escolhas, de tão fugazes. Assim como escolhi esta cadeira, escolho, aqui e agora, fazer isto, e não aquilo. Tudo isto me inquieta: ter que escolher, sempre, a cada dia que passa. Os momentos que ficam, e que nunca se perdem, são o alento desta vida, toda ela feita de escolhas.

7 de dezembro de 2005

Omar expõe no Tabanka Mar


“Depois da Chuva” é o título da sétima exposição fotográfica do realizador e fotógrafo cubano, Omar Camilo, residente em Cabo-Verde há três anos.
Depois da chuva é o mesmo que dizer quando acaba a esperança, quando as brumas do tempo se fazem presente, quando o homem se perde no meio ao tudo que o rodeia. É o meu olhar sobre o mal que o homem está a causar ao seu planeta, diz.

Depois da Chuva fecha uma tríade crítica, e sucede a mostra pessoal do artista - Ultimas Noticias da solidão - e uma mostra conjunta sobre o Meio Ambiente, que sintetiza o seu olhar sobre a relação do homem com o universo. Uma relação que desafia o sagrado, a esperança, e deixa um vazio, depois da chuva.

Um encontro com a imagem. Mais do que uma simples mostra fotográfica. É assim que Omar Camilo define esse rasgo estético. Uma exposição conceptual, recheada de símbolos com contornos universais.
Como um lápis, num primeiro olhar tão familiar, que homenageia Pablo Neruda com Los versos del capitain, na mesma linha da homenagem feita na sua exposição anterior, à pintora mexicana Frida Kahlo.

À par do primor estético, a mostra assume uma condição desafiadora.
Depois da Chuva é uma exposição pouco convencional na sua forma. Omar Camilo divide a cena com o arquitecto, Hélder Monteiro, que participou como amador na mostra sobre Meio Ambiente, parte desta tríade, patrocinada pelo Centro cultural Francês.

A exposição é composta por trinta e duas peças, 18 de Omar Camilo, e 15 de Hélder Monteiro, e será inaugurada no espaço Tabanka Mar, na Prainha, na próxima sexta-feira, às 18 horas e trinta minutos.

5 de dezembro de 2005

Danny Spinola de volta

Estou de volta, amor. E cheguei com uma braçada de pêssego nos lábios e veludo nas mãos; cheguei, trazendo lua e sol comigo, pensando já em chuva e tempestade. Cheguei para te ver, para sentir, para me encontrar contigo e para te encontrar comigo.
Cheguei, amor, cheguei com música e maresia na minha pele e no meu galope; Tenho mel e sal comigo; Tenho rosas e paraísos acesos nos meus olhos.
Cheguei amor, cheguei e, agora, é contigo…

Curtas pinceladas do último livro de poemas, Vagens de Sol, do escritor, Danny Spínola, a ser lançado, esta sexta-feira, 9 de Dezembro, no Palácio da Cultura, na Praia. Fátima Fernandes apresenta a obra, sob o fundo sonoro do guitarrista Pedro Moreno, numa cerimónia que vai contar com as presenças do Ministro da Cultura, Manuel Veiga, e do Presidente da Associação do Escritores Cabo-verdianos, Corsino Fortes.

Vagens de Sol é a décima terceira obra do também jornalista Danny Spínola. A cerimónia tem uma componente visual, e será a síntese de um artista multifacetado. Vagens de Sol, intitula, igualmente, uma exposição de pintura do artista, no mesmo dia e local. O encontro está marcado.