27 de novembro de 2007
Silêncio...
Tu és rara, todas as vezes,
e o meu silêncio
é um olhar que passa,
porque finjo vazio
em todos os sentidos
e absurda é a noite.
As horas,
um amontoado de saudades,
minha idéia a encontrar-te
é como uma voz interior a ter-te.
Mas és irreal,
e o meu sonho, um sonho,
fundido com a minha angústia,
como uma tarde sem horizontes.
Minha ânsia,
um momento a querer-te entre os meus gestos,
no alheamento único dos meus poemas simples.
Em mim
As palavras do poeta, deste lado do outro. E a ausência do outro lado daqui.
Silêncio: Dimas Macedo - poeta cearence
Em mim: pura eu
20 de novembro de 2007
Nada é igual
As minhas músicas não serão tão fundas quanto as tuas. Fiz o que pude, mas, estou certa, não consegui retribuir. Percorri tempos, lugares, indaguei, mas em parte alguma encontrei algo parecido.
19 de novembro de 2007
A morte como ela é
Sete Palmos de Terra , emitida todos os domingos, pela TCV: é uma série (a primeira) arrepiante, mas essencial. A cada episódio, a trágica morte de um ser humano (homens, mulheres, jovens, até crianças), sempre igual e tão diferente entre si. Os familiares enlutados que procuram a casa mortuária.
Sempre o mesmo cenário psicológico: uma mãe/viúva irreversivelmente triste, dois filhos (agentes funerários) com seus dramas paralelos, uma filha adolescente, incompreendida e esquisita. A namorada do filho mais velho, que numa apenas aparente secundarização cénica, joga um papel de equilíbrio temático em cada história/episódio.
A vida é uma viagem para a morte, ou, pelo menos, deveria assim ser entendida. É esta a derradeira mensagem da série Sete Palmos de Terra. Esta é, pelo menos, a grande noção que apreendo, sempre em perspectiva, claro está, a cada episódio. O extremismo, a racionalidade, a loucura, o sexo, a desesperança e a sua antítese, são os ingredientes do viver que nos aproximam com mais propriedade à morte. Não há por onde fugir: os dias estão contados para os filhos, os pais, os maridos, as esposas e os amigos, uns de forma mais trágica, outros nem por isso.
A morte em suas múltiplas dimensões: há quem viva a morte, sem sequer aceitá-la; quem a procure em vida; o alucinado que prefere viver para quem já morreu (a retracção psicológica da viúva causada pelas lembranças do marido falecido).
A forma tranquila de encarar a morte também tipifica um certo viver. Quem não receia a morte, vive um tempo diferente, em eterno desencontro face ao mortal que prefere não pressentir o fim. (a incessante tensão entre a Brenda e o namorado – filho mais velho e agente funerário)
Sete Palmos de Terra, em si, é uma obra apocalíptica. Há cenas/temas que predominam, e perpassam todos os episódios. Cenas onde estão de facto os extremos, que uns reprovam e outros adoptam, enquanto estiverem uns tantos palmos acima da terra. (a relação do filho mais novo - foto – também agente funerário -, com os seus namorados gays).
A música: sempre fúnebre, freiante. O cenário: cinzento, limpo... Os personagens: pálidos, e espectacularmente esquisitos. Algum excessivo cliché, diante de algo tão incomensuravelmente natural.
Sete Palmos de Terra, uma verdadeira lição de vida. Do argumentista e director Alan Ball.
17 de novembro de 2007
16 de novembro de 2007
Versos de Entreter-se
À vida falta uma parte
– seria o lado de fora –
Pra que se visse passar
ao mesmo tempo que passa
e no final fosse apenas
um tempo de que se acorda
não um sono sem resposta.
À vida falta uma porta.
Gullar
14 de novembro de 2007
Badyo do mundo
Costumo lembrar a todos que escrevo sobre os encantos que as coisas me fazem. É aqui, e só aqui onde posso me dar ao luxo de assim agir. E é com esta subida emoção que falo do CD Badyo do músico, Mário Lúcio. Sem me ater a uma música em particular, e muito menos, ao separatismo arranjista do CD, discorro sobre o universo recriado pelos sons do Mário Lúcio.
Partimos de Santiago, com o badio escravizado que resiste e se afirma no mundo das Antilhas, do Brasil, em suma das Américas de todos nós. A trajectória desse badiu di Santiago atravessa mares e culturas, faz-se de outras costelas, e se mostra como um homem novo.
Mário Lúcio diz-nos e mostra-nos tudo isso numa fileira de 16 composições, que contou com participações de músicos diversos (entenda-se também etnias sonoras múltiplas): o balafon de Ali Keita (Mali), o Bandonéon de Mariza Mercadet(Argentina), o baixo e contrabaixo de Thierry Fanfat(Guadalupe)… Do lado de cá estão os dedos de Chico Serra, Duka, Lela Violão, Houss…
Badyo é também uma redenção ao tempo: os mandingas, os papeis, os mandjacos, os povos e as gentes que vieram e aqui se fizeram badius. Quem se rende ao tempo, não esquece de lugares. E é assim que sentimos Goré como o porto da nossa pertença. Ontem, hoje e sempre. Assim quer a música do Mário Lúcio. O porto dos pretos, dos brancos e da mistura dos dois. Matrizes e matizes…
Pressente-se neste terceiro trabalho a solo de Mário Lúcio, o fim de um ciclo, com todo o subjectivismo que isto conota. Uma resposta qualquer de quem nos quer dizer que existem tempos, lugares, ritmos, vozes e sentimentos que fazem de todos nós Badyos do mundo.
Partimos de Santiago, com o badio escravizado que resiste e se afirma no mundo das Antilhas, do Brasil, em suma das Américas de todos nós. A trajectória desse badiu di Santiago atravessa mares e culturas, faz-se de outras costelas, e se mostra como um homem novo.
Mário Lúcio diz-nos e mostra-nos tudo isso numa fileira de 16 composições, que contou com participações de músicos diversos (entenda-se também etnias sonoras múltiplas): o balafon de Ali Keita (Mali), o Bandonéon de Mariza Mercadet(Argentina), o baixo e contrabaixo de Thierry Fanfat(Guadalupe)… Do lado de cá estão os dedos de Chico Serra, Duka, Lela Violão, Houss…
Badyo é também uma redenção ao tempo: os mandingas, os papeis, os mandjacos, os povos e as gentes que vieram e aqui se fizeram badius. Quem se rende ao tempo, não esquece de lugares. E é assim que sentimos Goré como o porto da nossa pertença. Ontem, hoje e sempre. Assim quer a música do Mário Lúcio. O porto dos pretos, dos brancos e da mistura dos dois. Matrizes e matizes…
Pressente-se neste terceiro trabalho a solo de Mário Lúcio, o fim de um ciclo, com todo o subjectivismo que isto conota. Uma resposta qualquer de quem nos quer dizer que existem tempos, lugares, ritmos, vozes e sentimentos que fazem de todos nós Badyos do mundo.
7 de novembro de 2007
Retalhos do tempo
1. Creio ter já escrito neste blog o meu fascínio pelas tardes. Não propriamente todas, mas principalmente aquelas que me fazem recordar aquele momento único, o entardecer em S. Filipe. A tarde que me pressentia entre a serenidade e a traquinice, entre a tristeza e a alegria. Curiosamente, nunca mais a senti igual. Mas prossigo na busca dessa leveza de outrora. Com esperança…
2. Sou uma mulher de poucos amores (devo ter dito uma blasfémia, mas é a pura verdade). Uma das pessoas que amo de coração completou esta semana 104 anos. Ela é minha madrinha, provavelmente a mulher mais velha de S. Filipe. Um monumento da Cidade. Felismina Mendes é o nome dessa madre, mais conhecida por Nha Filó, a dona de todas as estórias. É ainda lúcida. Mas lembra de cor algumas estórias, que de tanto repeti-las, podem nos induzir ao erro. É do encanto, apenas. A proeza de ter cruzado décadas feitas de tudo.
Ela cultiva uma relação especial com a televisão. As telenovelas, os filmes, o noticiário encantam-na. Nutre uma saudade eterna, pelas estórias que conta, do Dr. Teixeira de Sousa, um amigo e grande médico que também escreveu romances, que ela nunca leu.
Nha Filó é um arquivo vivo, basta consultar. Uma senhora alegre, que nunca teve filhos, mas cresceu com crianças à volta. Hoje, continua assim. Entram pela meia-porta, pedem água, assistem à TV, e depois se despendem. Tê manha nha Filó.
Foi conhecer a América só na década de 80, porque não quis ir antes. Muitos antes, na década de 50, quando o seu pai comprou Ernestina, o barco que cruzava o atlântico com cabo-verdianos rumo à América. O pai, Henrique Mendes e o irmão, Arnaldo Mendes, eram partes da tripulação, e desse manancial de vida, Nha Filó guarda pérolas memoráveis.
Felismina Mendes sempre permaneceu em S.Filipe à espera das estórias que chegavam para depois partirem. E continua lá, à espera do tempo…
6 de novembro de 2007
Eternidade...
Deveríamos sempre oferecer música aos amigos. Seria uma forma de continuarmos a sê-lo. Um meio de marcar o tempo, as circunstâncias, as horas, e os ventos. E não só de momentos ternos se se cogita; alguns, com o lapidar da vida, são tristes, duros... mas eternos...
Ao amigo (que me lê)
Na nossa amizade o silêncio é um vazio preenchido. Serena, tal como o abraço testemunho dos dias. A noite é mais veloz nos trópicos, já dizia o poeta. Para não mais falarmos do tempo.
Palavras
Tenho algumas, e são minhas, principalmente aquelas que me destes; nos livros, nos discos... em mim. Outras, perderam-se no tempo que não mais temos.
2 de novembro de 2007
Em busca de um outro cinema
No momento em que se debate o futuro do cinema, dominado hoje pela forma, creio ser pertinente dar a conhecer uma experiência do cinema preocupada com questões espirituais desafiadoras do homem contemporâneo. Refiro-me ao Festival Internacional de Cinema de Alba, nascido em 2002 com o nome Infinity Festival. O certame deste ano contou com a especial presença do Realizador americano Sydney Pollack. The Swimmer (com Burt Lancaster) 1968, The Firm (com Tom Cruise) 1993, Sabrina (com Harrison Ford) 1995, e The Interpreter (com Nicole Kidman) são alguns dos filmes de Pollack que cruzaram e marcaram épocas, dentre dezenas, presentes no evento deste ano. Este festival é temático e, em 2007, os debates giraram à volta do "medo". O medo que sentimos nas nossas vidas, no contacto com o outro, em relação à economia, ao ambiente, à crise energética, etc.
O Festival Internacional de Cinema Alba dialoga, através de valores, com a pintura, a fotografia, a literatura, a música e a filosofia. As projecções acontecem associadas a um permanente diálogo, e troca de experiência com especialistas, não excluindo a participação de estudantes, jornalistas, jovens realizadores e amantes do cinema.
O objectivo principal desse Festival é dar espaço a produções independentes e a filmes que não são distribuídos em circuitos comerciais. Produções de todos os continentes já passaram pelo certame. Esse evento anual acontece na Província de Cuneo, Cidade de Alba, Itália, e conta com o patrocínio da prestigiada Fundação Ferrero e dos Organismos de Cinema de Piemonte.
O Festival Internacional de Cinema de Alba foi fundado por Padre Octávio Fasano, responsável pela missão dos Capuchinhos em Cabo Verde. " É noite na Ilha do Fogo, Cabo Verde. Penso incessantemente no Festival Internacional de Cinema de Alba, e na busca do significado da vida que propugna”, escreveu Fasano sobre esse certame cultural.
O Festival Internacional de Cinema Alba dialoga, através de valores, com a pintura, a fotografia, a literatura, a música e a filosofia. As projecções acontecem associadas a um permanente diálogo, e troca de experiência com especialistas, não excluindo a participação de estudantes, jornalistas, jovens realizadores e amantes do cinema.
O objectivo principal desse Festival é dar espaço a produções independentes e a filmes que não são distribuídos em circuitos comerciais. Produções de todos os continentes já passaram pelo certame. Esse evento anual acontece na Província de Cuneo, Cidade de Alba, Itália, e conta com o patrocínio da prestigiada Fundação Ferrero e dos Organismos de Cinema de Piemonte.
O Festival Internacional de Cinema de Alba foi fundado por Padre Octávio Fasano, responsável pela missão dos Capuchinhos em Cabo Verde. " É noite na Ilha do Fogo, Cabo Verde. Penso incessantemente no Festival Internacional de Cinema de Alba, e na busca do significado da vida que propugna”, escreveu Fasano sobre esse certame cultural.
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