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Sete Palmos de Terra , emitida todos os domingos, pela TCV: é uma série (a primeira) arrepiante, mas essencial. A cada episódio, a trágica morte de um ser humano (homens, mulheres, jovens, até crianças), sempre igual e tão diferente entre si. Os familiares enlutados que procuram a casa mortuária.
Sempre o mesmo cenário psicológico: uma mãe/viúva irreversivelmente triste, dois filhos (agentes funerários) com seus dramas paralelos, uma filha adolescente, incompreendida e esquisita. A namorada do filho mais velho, que numa apenas aparente secundarização cénica, joga um papel de equilíbrio temático em cada história/episódio.
A vida é uma viagem para a morte, ou, pelo menos, deveria assim ser entendida. É esta a derradeira mensagem da série
Sete Palmos de Terra. Esta é, pelo menos, a grande noção que apreendo, sempre em perspectiva, claro está, a cada episódio. O extremismo, a racionalidade, a loucura, o sexo, a desesperança e a sua antítese, são os ingredientes do viver que nos aproximam com mais propriedade à morte. Não há por onde fugir: os dias estão contados para os filhos, os pais, os maridos, as esposas e os amigos, uns de forma mais trágica, outros nem por isso.
A morte em suas múltiplas dimensões: há quem viva a morte, sem sequer aceitá-la; quem a procure em vida; o alucinado que prefere viver para quem já morreu (a retracção psicológica da viúva causada pelas lembranças do marido falecido).
A forma tranquila de encarar a morte também tipifica um certo viver. Quem não receia a morte, vive um tempo diferente, em eterno desencontro face ao mortal que prefere não pressentir o fim. (a incessante tensão entre a Brenda e o namorado – filho mais velho e agente funerário)
Sete Palmos de Terra, em si, é uma obra apocalíptica. Há cenas/temas que predominam, e perpassam todos os episódios. Cenas onde estão de facto os extremos, que uns reprovam e outros adoptam, enquanto estiverem uns tantos palmos acima da terra. (a relação do filho mais novo -
foto – também agente funerário -, com os seus namorados gays).
A música: sempre fúnebre, freiante. O cenário: cinzento, limpo... Os personagens: pálidos, e espectacularmente esquisitos. Algum excessivo cliché, diante de algo tão incomensuravelmente natural.
Sete Palmos de Terra, uma verdadeira lição de vida. Do argumentista e director
Alan Ball.