28 de março de 2008
Pablo Neruda
Neruda, por acaso,
detestava os livros.
Daí que os deixava,
em casa, sem nunca os abrir
E, saindo à rua,
que é onde a vida começa,
só parava à beira-mar
E, à beira-mar,
esquecendo que é na estreita
vereda entre o umbigo e o ânus
que os paraísos começam e findam,
Neruda enlaça a mulher,
pelo nome (que assim
ela cabe melhor no poema)
E, sem que de lábios,
mamas e coxas
ele faça menção,
nem ao licor
com que a mulher
embriaga, antes do sono,
o poeta navega e dorme
Arménio Vieira
27 de março de 2008
Mudjeris
“A mulher saiu da fila, deu uma volta e, aproximando-se de outro empregado, fez nova tentativa.
- Veja se Domingas Lopes tem carta.
Nova procura nos cacifos e nova negativa:
- Não, Domingas Lopes não tem carta.
Ela saiu com ar desconfiado e resmungão:
- Ter, tenho a certeza que tenho carta... Eles é que não ma querem dar.
E lá se foi, caminho de casa, impertubável na sua fé."
Destaco o trecho acima (sublinhado meu), parte de uma crónica publicada em Agosto de 1955 no jornal Cabo Verde por Maria Helena Spencer, a primeira jornalista cabo-verdiana (falecida no ano passado). Celebrar o dia da mulher cabo-verdiana é também ter a capacidade de aceitar, ainda que criticamente, a história, e assumir as referências que ela nos legou. Acredito que seja essa a tentativa da compilação que a professora Ondina Ferreira lança hoje na Biblioteca Nacional, assinalando o dia da mulher cabo-verdiana. “Elas Contam” é o título do livro que cruza épocas e mostra o cabo verde feminino em bocados, por fases, por olhares com Maria Margarida, Orlanda Amarílis, Maria Helena Spencer, entre outras.
- Veja se Domingas Lopes tem carta.
Nova procura nos cacifos e nova negativa:
- Não, Domingas Lopes não tem carta.
Ela saiu com ar desconfiado e resmungão:
- Ter, tenho a certeza que tenho carta... Eles é que não ma querem dar.
E lá se foi, caminho de casa, impertubável na sua fé."
Destaco o trecho acima (sublinhado meu), parte de uma crónica publicada em Agosto de 1955 no jornal Cabo Verde por Maria Helena Spencer, a primeira jornalista cabo-verdiana (falecida no ano passado). Celebrar o dia da mulher cabo-verdiana é também ter a capacidade de aceitar, ainda que criticamente, a história, e assumir as referências que ela nos legou. Acredito que seja essa a tentativa da compilação que a professora Ondina Ferreira lança hoje na Biblioteca Nacional, assinalando o dia da mulher cabo-verdiana. “Elas Contam” é o título do livro que cruza épocas e mostra o cabo verde feminino em bocados, por fases, por olhares com Maria Margarida, Orlanda Amarílis, Maria Helena Spencer, entre outras.
25 de março de 2008
Sê
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Neruda
18 de março de 2008
Cinema e cinema
Falemos d´«Orquestra da Piazza Vittorio », um filme documental do realizador italiano Agostinho Ferrente (2006). Assisti ao filme, e a outras tantas dezenas no Festival Internacional de Cinema de Alba, em Itália. Acresce a isso, um debate sobre o trabalho com o realizador. O filme conta com entrevistas e outros apanhados, o percurso da criação de uma orquestra, num distrito de Roma, composta por músicos desconhecidos de várias culturas e línguas. Os 4 anos que Mário Tronco, compositor e pianista, levou para criar a orquestra são recheados de flashes da vida dos próprios «músicos»/personagens que hoje fazem parte da orquestra. O interessante, a meu ver, foi o caminho percorrido por entre linguas e culturas, tendo a música como guia. O que poderia ser uma babel, acabou numa sinfonia...O proprio realizador que provavelmente se surpreendeu com o efeito (a criação efectiva de uma orquestra) afirmou que caso isso não tivesse sido possível, concluiria ser impossível organizar uma orquestra em Roma. Mas o documentário mostrou que não: o realizador, enquanto tal, com arte e visão, pode mudar a realidade, interferir-se nela com uma camara de filmar. A Orquetra de Piazza Vittorio que se formou com a conclusão desse filme, ora actua em várias partes do mundo.
O Festival…
Não é a primeira vez que escrevo sobre o Festival Internacional de Cinema de Alba, fundado por Octávio Fasano, padre capuchinho que vive entre a região de Piemonte e a Ilha do Fogo. Um visionário e homem do seu tempo.
Esse certame, apesar de local, tem uma abordagem extremamente pertinente e actual no que se refere à produção cinematográfica e audiovisual, a nível mundial. Este ano, sob o tema « Rir», o certame programou filmes em competição a nivel da Itália, e internacional (dos 4 continentes) uma série de debates, e workshops, tendo como convidado de honra o canadiano Paul Haggis, um dos mais aclamados realizadores hollywodianos do momento. Além dessa grelha própria, o Festival exibou os 10 filmes da vida de Haggis, onde não poderiam faltar, claro está, os seus maiores sucessos como Million Dolar Baby (2004, Clint Estwood), Crash – Contacto físico (2005, Paul Haggis).
Os clássicos como Ladrão de bicicleta (Vittorio De Sica, 1948) e Rear Window (Alfred Hitchook, 1954) também fazem parte da lista dos dez mais de Haggis.
A Televisão de Cabo Verde marcou presença no acto, e vai, oportunamente, mostrar esse Festival, e claro está, uma conversa exclusiva com Paul Haggis que girou, entre outros assuntos, em torno do seu último estrondoso sucesso In the Valley of Elah - foto (2007).
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