28 de fevereiro de 2009

Adeus Fevereiro

by Flickr member Victor Bezrukov

























Foi largo e festivo: encontrei-te, ou melhor, como bem diz De Morais, reconheci-te, a ti e aos teus. Na ilha, estive com eles todos, de uma sentada, como nunca foi possível; anos depois, vivi por dentro a magia: em todos os momentos estava ali, conheci e passei a amar o encanto do velho. Revi tantos, conheci outros mais. Em tudo, estavas tu a mostrar-te aos meus como um presente: o teu nome queriam, a tua presença nomeavam; a dela também. A música, a lembrança e o passado no presente: um imenso Fevereiro que a Deus agradeço.

Noblesse Oblige

O jornal A Semana fez uma irrepreensível reportagem sobre o documento anónimo, dando oportunidade de reacção aos visados.
O Liberal Online teve acesso à carta, e tratou de informar que não a publicaria porque traz nomes de pessoas, e o seu remetente era desconhecido. Qualquer pivot, a pior ou a melhor da praça, tem a prerrogativa de trabalhar informações de uma fonte não identificada (para o leitor, telespectador e ouvinte).
Aos blogues que se propuseram em tempos a fazer serviço público de informação imaginei que algumas dessas regras aplicasse. Perdoem-me!

Amanhã é Março

E eu faço um blogue porque …. não me envergonho da poesia.

27 de fevereiro de 2009

Bully Cibernético, não!

pic

























É lamentável assistir ao avalanche de auto nomeados a terem o trabalho de ecoar panfletos digitais sem o mínimo de juízo crítico, com laivos de cinismo travestido de bravura que chega a doer.

A propósito desse e-mail anónino que anda a circular na rede e mereceu alguma publicação, ocorre-me uma entrevista sobre os blogues em que uma colega me perguntava sobre a necessidade (ou não) de um código deontológico dos bloguers; entendo que a dinâmica do meio vai influir na reconfiguração da sua gramática, mas essa é uma outra história bem diferente.

Antes disso, bem antes, é primário respeitar a liberdade do outro em qualquer fórum público: o pacote inalienável pressupõe ter argumentos para acusar, ter uma fonte (ainda que anónima para o leitor, mas conhecida do publisher), e permitir a reacção do(s) acusado(s).

A credibilidade de qualquer informação (incluindo nos blogues sérios) parte dessas premissas alicerçadas na ética e na responsabilidade que não devem nunca ser confundidas com falta de coragem, ou interesses outros.

Runheza, ou desaviso?! Fica a dúvida, entretanto!

Sensações: da música, da barbárie e da poesia

© All Rights Reserved by Flickr member tom stone

















É-me difícil traduzir os sinais criados pelos sons de Andreas Vollenweider: são sensações que escoam, perpassam, consomem e fogem, recusam permanecer. Leio que ele acaba de lançar AIR, um disco que surgiu de um ímpeto, tal como lhe acontecia no início de carreira. “So I ended up writing during the day and at night I went to my studio, to completely lose myself in the playing, for hours, very much the same way as in the very beginning, no strategy, no concrete purpose, no plan”, disse.

Describing the music of AIR, terms such as ‘poetical, lyrical, melodic, personal, intimate, close, relaxed, tender, dreamy, sensual, acoustic, live’ come to mind …
Preciso de AIR, o quanto antes, dir-se-ia que de mim se sabe.

Barbárie

Foi simplesmente chocante o acto de agressão contra a nossa colega Margarida Moreira. Estarreceu a todos. Depois do primeiro choque, seguiu-se um outro na TV: direito de resposta do agressor?! E o bom senso, onde fica? Que fosse procurar o direito de resposta na justiça, lá onde, por sinal, a Guida deposita todas as suas esperanças.

Regresso

à música,

à mesma rua e casa

ao sítio de sempre,

longe de mim.

26 de fevereiro de 2009

Quando quiser relaxar…

Pico do Fogo


















Há já alguns anos que a Cooperação italiana (Cospe) vem desenvolvendo, em conjunto com a Associação dos Agricultores e a comunidade de Chã das Caldeiras, um projecto de melhoramento dos produtos locais (vinho Chã e Sodade) e de promoção do turismo rural, na perspectiva de contribuir para a criação de mais valias para essa mesma comunidade.

A nova aldeia turística “SIRIO”, situada em Chã das Caldeiras, já está em funcionamento, e em prol disso será feita uma oferta especial para turistas caboverdianos, nos meses de Março, Abril e Maio de 2009, com o objectivo de promover a nova aldeia no mercado turístico interno.
Recorde-se que o Pico do Fogo (foto) candidata-se a Património Natural Universal da UNESCO.
Para mais informações e reservas contactar a aldeia SIRIO no telefone: 2821586 ou através do e-mail: fattori.p@hotmail.it

via: e-mail da aldeia "Sírio"
foto: Pedro Markun

24 de fevereiro de 2009

Banderona 2009: pinceladas

Banderona 2009



















Terminou ontem a Banderona 2009, aquela que é considerada, pela sua duração, a maior festa tradicional de Cabo Verde. A comemoração deste ano, ocorrida em Campanas Baixo, Fogo, aconteceu em homenagem a Nhô Mulato, cordidjeru di Banderona por mais de 80 anos, falecido no ano passado. O festeiro deste ano foi João Fontes, neto de Nhô Mulato que decidiu em nome do avô e da tradição resgatar todos os pormenores desta manifestação cultural.

Houve muita talaia baxu nos finais de tarde durante os 23 dias em Campanas Baixo, e nos últimos três dias Nênê di Codé dava o mote às noites de baile animadas pelo grupo tradicional Côrda Campana, e por artistas vindos dos Estados Unidos. Ouvir Nené di Codé, homem dos seus mais de 80 anos, foi para mim uma descoberta e arriscaria chamá-lo rei di talaia baxu; um homem de forças, antigo pescador que canta e encanta num misto de força e mágoa. Há muito não cantava nesta Bandeira.

Os 23 dias de festa são feitos de pilão e muito cola. Nos últimos três dias o ânimo se aproxima do Santo. O ritual de Matança, um dia antes do dia grande, é um dos momentos mais esperados da Banderona.

O Festeiro do próximo ano vai ser Meliciano Pina, um outro filho de Campanas. De recordar que tomar bandeira é um acto de fé que honra uma promessa, mas também um gesto de afirmação social. Daí que nos últimos anos a Banderona tem sido tomada apenas por emigrantes; em regra, pessoas com alguma posse.

Recorde-se que esta bandeira surgiu através de uma brincadeira de crianças há mais de duzentos anos na zona de Campanas Baixo. As crianças pertencentes a três famílias dessa zona teriam fincado um mastro de S. João numa ribeira que permaneceu dias no mesmo sítio, apesar de fortes chuvas e ventania. Acreditando tratar-se de um milagre, essa brincadeira foi "levada a sério" por essas três famílias e permanece até hoje com uma forte carga simbólica para Campanas, Fogo, Cabo Verde e o mundo dos emigrantes.

A missa, a cavalaria encenada (porque sem cavalo), o canizade, a fuga do mascarado...

A Televisão de Cabo Verde registou todos os pormenores para um documentário e contará essa história oportunamente aos seus telespectadores.

16 de fevereiro de 2009

Gosto

Marília Campos

















Gosto de gente que conhece os meus gostos
… de gente que olha
Gosto de gente que ouve
Gosto de gente que …
…aprecia o mar,
… as ruas escuras,
… e o silêncio.

pura eu

13 de fevereiro de 2009

Banderona

Foto de Pedro markun




















Foto de Pedro markun





















Foto de Pedro markun


















O ritmo da Banderona acelera a partir da próxima semana e será em crescendo até ao dia 24. Anteontem chegou um voo da América, e a maioria dos passageiros tinha um único destino: Campanas Baixo, Ilha do Fogo. Quem por lá já passou levou consigo registos iguais a esses. Vamos?

fotu: pedro markun

10 de fevereiro de 2009

Serviço público: da repetição à verdade

imagem





















Há cerca de dois anos, um autarca dissera, pela comunicação social, que os jornalistas tinham por dever ajudar os políticos a governarem. Imaginei que na semana seguinte surgiriam artigos e mais artigos a desancarem no edil desabrido, mas nada aconteceu. O que se lê regularmente são artigos de opinião criticando uma ou outra peça emitida pela rádio e TV públicas, mas nunca uma análise de fundo e honesta a debruçar sobre a rede que emaranha esses mesmos órgãos, onde as falhas são culpa e responsabilidade de ninguém. Ou de todos, o que dá no mesmo.

O que se percebe nas entrelinhas de tais artigos é uma acusação directa ao desempenho dos profissionais, (somos considerados todos uns incompetentes) até porque esses articulistas são, na sua maioria, aspirantes a políticos, quando não ex-políticos, da situação e/ou da oposição. Esses mesmos que, quando governam, “governamentalizam” os órgãos públicos.

Essa viciosa relação (que mata o brio profissional e atrapalha as regras do jogo) não se restringe à política. Também as várias associações (que deveriam serenamente fazer o seu trabalho) justificam os fundos instrumentalizando os órgãos públicos. São os institutos que lançam projectos e programas (alguns que nem chegam a ganhar corpo) e que entram em parafuso se os seus actos não são noticiados. Para além das muitas agendas do executivo, do legislativo, do judicial e até do religioso (tidas como de interesse público) que são drenadas para a imprensa de forma acrítica e descriteriosa. Estes mesmos que se queixam da falta de investigação, quando na verdade não são receptivos às agendas dos órgãos da imprensa.

A verdade da repetição

Há poucos dias, li um artigo sobre outro assunto e retive a seguinte frase: “o perigo de uma ideia, (diria acto, aqui) repetida até à exaustão, é ela acreditar-se verdadeira” (isto é, tornar-se um hábito). Esse “hábito instalado” e insidioso que domina/desvia as atenções emerge como um dos maiores “problemas” dos órgãos públicos em Cabo Verde. As agendas não são consensuais entre os profissionais (horizontal e verticalmente); as redacções são atrapalhadas (e quem de direito não as endireita) absolutamente propícias aos atropelos das regras do jogo.

E quem deve agir?

Os equívocos perante o binómio Estado/Governo não existem apenas em Cabo Verde. Para regular e estabelecer parâmetros sobre tais equívocos existem, (ou devem existir) (e quando os há, deles se espera actuação), no caso da Comunicação Social, as Altas Autoridades, os Conselhos, as Associações de Classe, e, em algumas realidades, os Observatórios de Imprensa e os Ombudsman (Provedores dos Leitores, juntos aos órgãos). Sem uma “regulação” (não confundir com “instrumentalização”), e nesse “emaranhar das regras do jogo”, muito pouco se pode fazer.

Uma Nota

Paulo Markun, jornalista, actualmente Presidente/Director da TV Cultura (Órgão público do Estado de São Paulo) vai falar sobre o Serviço Público de Televisão na Reitoria da Universidade de CV. A conferência acontece no dia 12/2, pelas 18 horas.

Memória curta

memória curta













Fico estupefacta, cada dia que passa, com as coisas que leio e oiço sobre tudo neste país, e só chego a uma única conclusão: temos uma memória curta que chega a doer. Melhor, cansa!

Outra moda crioula “típica até” é começar sempre do zero, com a condição de nunca olhar para trás.

6 de fevereiro de 2009

Fevereiro em mim

fevereiro

















Desde o dia 30 de Janeiro que a Ilha do Fogo deu o ponta pé de saída para aquela que é considerada a maior festa tradicional de Cabo Verde: são 24 dias de pilon, xerém e muita talaia baxu. A bandeira em homenagem a S. João que culmina a 23 de Fevereiro, acontece este ano pela primeira vez em 80 anos sem a presença do seu Cordidjeru mor, Nhô Mulato, falecido no ano passado. Em homenagem ao “rosto” dessa festa, e em honra da tradição que há mais de duzentos anos sustenta essa corrente de partilha e fé, tudo será feito como no início.

Um ilustre entre nós

O Jornalista brasileiro Paulo Markun, Presidente/Director da TV Cultura do Brasil (Estação pública com 40 anos de vida) encontra-se em Cabo Verde para contactos e férias com a família. Markun tem 56 anos e exerce jornalismo há 38 anos, é autor de nove documentários e 12 livros. Markun é considerado um dos mais nomeados repórteres do Brasil, tendo sido colega de Vladimir Herzog, o jornalista (na altura chefe de Jornalismo da TV Cultura) assassinado em 1975 pela Ditadura Militar. A morte de Herzog, para quem não sabe, constituiu um divisor de águas na luta pela redemocratização do Brasil; um acontecimento que gerou uma grande mobilização contra a censura, principalmente no seio dos jornalistas. Herzog é, até hoje, um símbolo na luta pela liberdade e pela defesa dos direitos humanos no Brasil. Markun que se encontrava preso no mesmo espaço onde Herzog foi assassinado, publicou um livro sobre essas nuances em homenagem ao colega: “Meu Querido Vlado”.


Conheci uma flor

E ela se chama Tatiana Cobbett… é absolutamente renovadora a ideia do viver, quando essa mesma ideia/experiência passa por encontros, descobertas e novas possibilidades de ver, estar e sentir. Falo de uma forma surpreendente de estar na música: nuances, cores e culturas juntas; sem descurar do corpo; o testemunho mais fiel da nossa cumplicidade com o redor. É isso que Tatiana faz: um caminho que conduz a uma música que fica.