7 de agosto de 2009

Do Cabo-verdiano: ao seu acanhamento e orgulho...

mayra






















De vez em quando ponho-me a analisar o comportamento do público cabo-verdiano diante do sucesso e do desempenho dos artistas. Confesso mesmo algum desconforto, principalmente quando os artistas vêm do Brasil onde os fãs são expansivos e demonstram todo o carinho que têm pelo músico ou pela banda. Dir-se-ia faltar a festividade do público mesmo em festivais! Em relação aos músicos nacionais, fico mais complacente porque sabem o público que têm, apesar de imaginar que gostariam de ser mais acarinhados.

Não que isso não aconteça, mas numa proporção muito abaixo do desejável. A apatia não pára por aí. Reparem, por exemplo, que não temos um único fã clube no país e os nossos músicos não são recebidos nos aeroportos, passando desapercebidos até perante a imprensa. Apesar da nossa propalada morabeza, não somos muito dados a emoções efusivas e intensas, e os nossos artistas ressentem isso de alguma forma. Mas com isso, não se pretende dizer que o nosso público não sabe apreciar. Longe disso: compram os discos, ouvem as músicas, apreciam os artistas muito no seu círculo de boca pequena, mas ficam inibidos na hora de demonstrar.

Por outro lado, confesso também estranhar a elevada comoção que o cabo-verdiano consegue demonstrar perante o falecimento de um artista, o mesmo artista que em vida mereceu, em algum momento da sua carreira, alguma indiferença. Um paradoxo!

Não terá chegado a hora de revermos esse lado, para no dia em que esses artistas nos deixarem (como aconteceu com Pantera, Ildo Lobo e agora Biús) se misturarem o seu sorriso aos nossos, como de resto, apregoa Ferreira Gullar, (um dos maiores poetas vivos em Língua Portuguesa)? Sempre que me coloco entre a vida e a morte me valem as palavras desse poeta brasileiro, vivo, e muito celebrado no seu país. Seguimos-lhes o exemplo?!

Orgulho (Mayra)

Ainda não ouvi Stória Stória, o último disco de Mayra Andrade (foto), como gostaria. Em casa de amigos e pelo rádio tenho escutado intermitentemente algumas das suas canções. Nada que não venha fazer por esses dias que se aproximam de Setembro (o mês dos meus encantos), e quando ela tem agendado cinco shows no país. Por ora, tenho sentido pela artista um fino orgulho crioulo quando a oiço, como ontem aconteceu, numa entrevista impecável que concedeu à RFI, em que falava do seu disco, da sua concepção de world music, do toque brasileiro do CD Stória Stória, do percurso da música cabo-verdiana vis-à-vis suas raízes tradicionais... Fino orgulho quando um amigo da Reuters em NY telefona-me a dizer que ficou muito bem impressionado com a dimensão dessa jovem artista cabo-verdiana de 24 anos que acabara de entrevistar. Orgulho grande com o disco de Ouro que Stória Stória acaba de arrebatar em Portugal.

bom fim-de-semana

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