12 de agosto de 2009

Mensagens provavelmente loiras

NO ESPELHO, Magrite




















1
Ardem-me os lábios
e é suave a sua loira ardência

Ardem-me os lábios
e é fugaz a sua loira ardência

Ardem-me os lábios
recostados à memória
e ao castanho ardor
do inferno dos dias

2
De ti beber a nudez
da púbis o seu espanto
dar - te a beber o leite
da condensação do desejo
os seus suplícios a nudez dos seios
os seus gemidos os seus suspiros

de ti beber a alucinação
do corpo a sua loucura
os seus gestos de intermitência

3
Digladiam-se enlouquecidos
os sentimentos indagam-se
devastados interpenetram-se
o amor a paixão a amizade
alucinados farol e tempestade
entreolham-se curiosos os sentimentos

4
O amor é uma chatice
uma âncora ilusória
que prende e retém a alma
prisioneira e fá-la
exaurir-se em cinza

Dizes o amor é um pântano
anula o mar da vida
entorpece os passos e outros sinais
encalhados doravante maculados na devastada
solidão que todavia intenta soerguer-se
do escasso fogo das faúlhas desfalecidas
em paixão reacendendo-se sobrevivas
ardentes crepitando redevivas
vívidas soletra o meu busto debruçado
sobre o frio perfil do silêncio
inconstante presságio do abismo
infalível habitáculo da dúvida

LX, Agosto de 2009
José Luís Hopffer C. Almada


magem: O Espelho, Magrite

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