Cabo Verde conquistou a sua independência a 5 de Julho de 1975. Volvidos trinta anos, há muitos motivos de comemoração e de reflexão.
Desde logo a necessidade de perspectivar a Independência Nacional a partir da evolução histórica da criação da língua e da cultura endógenas, da noção de si e de pertença, algo então ocorrido ainda na cidade de Ribeira Grande.
O nacionalismo cabo-verdiano forma-se cedo, a partir da crioulização dos reinóis e dos escravos africanos. O nascimento nas ilhas obriga uns e outros a um esforço de adaptação. Nasce uma nova sociedade a todos os títulos crioula, em que todos se apartam, um pouco, das suas raízes de origem para a re-invenção de um modus vivendis singular.
Muitos estudiosos consideram que foi na era Pombalina com a criação da Companhia de Grão Para e Maranhão, com o monopólio do tráfico com a Costa Africana, que surgem tensões e dicotomias políticas, económicas e sociais em Cabo Verde.
Essas tensões tornam-se mais nítidas no período entre 1820-1822, em que ocorre a Revolução Liberal em Portugal. A expectativa de liberdades criada pelo liberalismo, faz germinar no Arquipélago um movimento organizado de ruptura com Portugal. Mas, uma vez que as ilhas não tinham sustentabilidade, o movimento propugna a união com o Brasil.
As fomes cíclicas também reforçam as reivindicações nacionalistas, quer junto às elites, quer junto aos populares que mais directamente sofriam o impacto dessas tragédias. Foi ainda uma das grandes razões da migração e emigração, o maior fenómeno sociológico da Nação cabo-verdiana. Começa-se a indexar a fome à má governação e à incúria do governo colonial.
As elites cabo-verdianas dos fins do século 19 e começo do século 20, chamadas por vezes de protonacionalistas, reivindicam uma integração mais plena e equitativa ao mundo português como a melhor saída para Cabo Verde. Essa elite aventou hipóteses de adjacência, estatuto administrativo especial e autonomia, alegando proximidade civilizacional com Portugal.
O poeta José Lopes, por exemplo, recupera o mito hesperitano, de vocação atlântica e macaronésia de Cabo Verde, e por isso almejante da Independência Nacional.
O poeta e compositor Eugénio Tavares é dos que consegue sintetizar esse pensamento, reivindicando a plena cidadania portuguesa para os filhos de Cabo Verde. Portugueses irmãos, sim, Portugueses escravos, nunca! Leia mais
30 de junho de 2005
29 de junho de 2005
S.João, Brava e Eugénio Tavares
A Ilha Brava, fez cair o pano sobre mais uma “Festa de São João Baptista”, celebrada a 24 de Junho. Como sempre, são incontáveis os filhos da ilha, residentes em outros pontos do país e na diáspora, que escolhem a data para visitar os familiares e matar saudades da terra natal.
Mais uma vez, a Câmara Municipal não teve a feliz sorte de passar a bandeira a um particular, o que, do nosso ponto de vista, é preocupante. No Fogo, por exemplo, a passagem da bandeira é um assunto quente devido à longa lista de pagadores de promessas ávidos de serem o próximo festeiro.
É a quarta vez que a Câmara assume a bandeira, mas diz-se orgulhosa e encara o acto como um incentivo à tradição local. Esse “impasse”, dizem muitos, poderá ser o reflexo do desânimo das gentes da Ilha de Eugénio Tavares. Sem infra-estruturas básicas, como ligação marítima, por exemplo, falar em turismo, emprego e desenvolvimento é uma miragem. O sentimento de abandono e marginalização da ilha é generalizado. Por outro lado, muitos atribuem esse desinteresse dos naturais da ilha pela Bandeira aos elevados custos que acarreta, hoje em dia, uma festa desse tipo.
Outra realidade chocante na Ilha Brava é o estado em que se encontra a casa de Eugénio Tavares. Conhece-se, de ouvido, muitos projectos à volta da casa de Nhô Eugénio, mas até hoje não se viu algo de concreto. A casa é parcialmente habitada. A parte que permanece fechada é cedida, com frequência, pela Câmara Municipal aos jovens para fazerem bailes. O dia que lá estivemos o espaço estava cheio de panelas, restos de comida, e um cheiro a cerveja passada que dá dó. Resquícios de uma noite de festa.
Vivos aplausos merecem, entretanto, “Os amigos da Brava nos Estados Unidos” com destaque para João Freire (João de Ida), actualmente, residente na Ilha, que, em parceria com a edilidade, tudo fizeram para que a figura de Eugénio Tavares fosse lembrada através de um busto colocado na Praça da Vila Nova Sintra. Praça, aliás, que recebia muitos cuidados de Eugénio Tavares. Isso, pudemos conferir num retrato do coreto da praça, tirado em 1927, em que Julinho nha Luísa Balala escreve o seguinte no reverso: “este ritrato foi tirado por Nho Pansinho de Lessa em 1927, no tempo qui Sr. Eugénio Tavares tomava cuidado com a praça de Vila Nova Sintra".
À espera de um destino está igualmente a casa onde viveu Luís Loff de Vasconcelos. Outro proeminente intelectual que, através da imprensa, assim como Eugénio Tavares, reivindicou a independência destas ilhas.
Mais uma vez, a Câmara Municipal não teve a feliz sorte de passar a bandeira a um particular, o que, do nosso ponto de vista, é preocupante. No Fogo, por exemplo, a passagem da bandeira é um assunto quente devido à longa lista de pagadores de promessas ávidos de serem o próximo festeiro.
É a quarta vez que a Câmara assume a bandeira, mas diz-se orgulhosa e encara o acto como um incentivo à tradição local. Esse “impasse”, dizem muitos, poderá ser o reflexo do desânimo das gentes da Ilha de Eugénio Tavares. Sem infra-estruturas básicas, como ligação marítima, por exemplo, falar em turismo, emprego e desenvolvimento é uma miragem. O sentimento de abandono e marginalização da ilha é generalizado. Por outro lado, muitos atribuem esse desinteresse dos naturais da ilha pela Bandeira aos elevados custos que acarreta, hoje em dia, uma festa desse tipo.
Outra realidade chocante na Ilha Brava é o estado em que se encontra a casa de Eugénio Tavares. Conhece-se, de ouvido, muitos projectos à volta da casa de Nhô Eugénio, mas até hoje não se viu algo de concreto. A casa é parcialmente habitada. A parte que permanece fechada é cedida, com frequência, pela Câmara Municipal aos jovens para fazerem bailes. O dia que lá estivemos o espaço estava cheio de panelas, restos de comida, e um cheiro a cerveja passada que dá dó. Resquícios de uma noite de festa.
Vivos aplausos merecem, entretanto, “Os amigos da Brava nos Estados Unidos” com destaque para João Freire (João de Ida), actualmente, residente na Ilha, que, em parceria com a edilidade, tudo fizeram para que a figura de Eugénio Tavares fosse lembrada através de um busto colocado na Praça da Vila Nova Sintra. Praça, aliás, que recebia muitos cuidados de Eugénio Tavares. Isso, pudemos conferir num retrato do coreto da praça, tirado em 1927, em que Julinho nha Luísa Balala escreve o seguinte no reverso: “este ritrato foi tirado por Nho Pansinho de Lessa em 1927, no tempo qui Sr. Eugénio Tavares tomava cuidado com a praça de Vila Nova Sintra".
À espera de um destino está igualmente a casa onde viveu Luís Loff de Vasconcelos. Outro proeminente intelectual que, através da imprensa, assim como Eugénio Tavares, reivindicou a independência destas ilhas.
22 de junho de 2005
Ilha do Fogo terra ditosa
Encontrei esta foto num site que merece ser visitado: dedicado a Orlando Ribeiro considerado o renovador da Geografia no Portugal do século XX, e o geógrafo português com mais ampla projecção a nível internacional. A linha das suas publicações revela um geógrafo comprometido com a sua ciência e um dos grandes intelectuais que soube, com a sua investigação e rigor, retratar povos, e culturas perdidas por esse mundo fora, principalmente os da ultramar portuguesa. É com essa ambição, que Orlando Ribeiro chega a Cabo Verde em 1952, mais precisamente à Ilha do Fogo, tendo nos deixado como reflexo desse olhar de antanho “A Ilha do Fogo e as Sua Erupções”, uma obra que retrata a vida social, a paisagem e a cultura da Ilha do Vulcão. Orlando Ribeiro era também fotógrafo, e foi nessa condição que registou momentos singulares da Ilha.
Ilha do Sal já tem escola de música
A Ilha do Sal é um dos poucos lugares de Cabo Verde, que pode se orgulhar de ter uma escola de música – O Conservatório dramático e musical. Uma escola criada pelo brasileiro Samuel Silva, formado em composição e regência, pela Universidade de S. Paulo, e em Violão Clássico e erudito, pelo Conservatório Heitor Villa-Lobos, ambos no Brasil.
Portador de uma vasta experiência na área, Silva veio a Cabo Verde com a expectativa de se inteirar da música que se faz nas ilhas e conhecer a cultura do país. “Chegando aqui deparei com uma certa lacuna de ensino no âmbito musical”, declarou à TCV, numa entrevista concedida à Jornalista Carciana Lima. Samuel resolveu ficar e abriu o Conservatório dramático e musical, em Novembro do ano passado, por iniciativa própria. Apesar das dificuldades, sobretudo as de ordem infraestrutural, a escola começa a ser um caso de sucesso no Sal, confirma a jornalista. A escola funciona com 116 alunos, num universo populacional de 16.000 habitantes, o que não deixa de ser ainda um número irrisório. O músico brasileiro, à par do ensino, em si, pretende dar o seu contributo, também, à documentação musical das ilhas. Tem na forja um projecto de produção de um CD em homenagem a Luís Rendall e a Cabo Verde, e escreve músicas cabo-verdianas para o violão clássico.
Portador de uma vasta experiência na área, Silva veio a Cabo Verde com a expectativa de se inteirar da música que se faz nas ilhas e conhecer a cultura do país. “Chegando aqui deparei com uma certa lacuna de ensino no âmbito musical”, declarou à TCV, numa entrevista concedida à Jornalista Carciana Lima. Samuel resolveu ficar e abriu o Conservatório dramático e musical, em Novembro do ano passado, por iniciativa própria. Apesar das dificuldades, sobretudo as de ordem infraestrutural, a escola começa a ser um caso de sucesso no Sal, confirma a jornalista. A escola funciona com 116 alunos, num universo populacional de 16.000 habitantes, o que não deixa de ser ainda um número irrisório. O músico brasileiro, à par do ensino, em si, pretende dar o seu contributo, também, à documentação musical das ilhas. Tem na forja um projecto de produção de um CD em homenagem a Luís Rendall e a Cabo Verde, e escreve músicas cabo-verdianas para o violão clássico.
17 de junho de 2005
A Rota do Escravo
O livro “Itinerários da Memória, Escravatura e Tráfico Negreiro na África Lusófona”, editado pelo Comité Português do Projecto UNESCO, "A Rota do Escravo" está exposto, em painéis, numa exposição, imperdível, na Biblioteca Nacional, na Praia. Uma mostra que enquadra os lugares ligados à rota do escravo existentes nos Países de Língua Oficial Portuguesa.
A célebre ilustração de uma caravana de escravos dirigindo-se para o Téte, em Moçambique, ferros utilizados em Angola para marcar escravos, e lugares como Cidade Velha, em Cabo Verde, são alguns símbolos que nos remetem ao período mais cinzento da história da humanidade – o tráfico de escravos. Assunto, aliás, muito actual, tendo em conta o projecto "A Rota do Escravo", lançado pela UNESCO, em 1994, com a ideia de promover estudos e actividades sobre esse triste episódio da história da humanidade.
A agenda foi lançada, formalmente, no Benin, curiosamente, o lugar que abrigou, séculos antes, um dos principais centros de tráfico de escravos, e para onde muitos ex. escravos se retornaram oriundos do Brasil.
O projecto "Rota do Escravo" tem resgatado, de forma mais crítica e sistemática, o trabalho dos historiadores, pesquisadores e antropólogos, que buscam reavaliar e enquadrar o tráfico de escravos africanos.
A UNESCO entende que conhecer as raízes da escravidão, mais do que simples domínio da história, é descortinar uma rota que possa fornecer subsídios para um futuro mais igualitário e plural.
"Itinerários da Memória, Escravatura e Tráfico Negreiro na África Lusófona" do Comité Português do Projecto UNESCO "A Rota do Escravo" é mais uma dessas iniciativas no ramo que tem acontecido, um pouco, por toda a parte. Da parte de Cabo Verde participou nessa obra o historiador António Correia Silva. Esta agenda global, infelizmente, não constitui prioridade em Cabo Verde.
A célebre ilustração de uma caravana de escravos dirigindo-se para o Téte, em Moçambique, ferros utilizados em Angola para marcar escravos, e lugares como Cidade Velha, em Cabo Verde, são alguns símbolos que nos remetem ao período mais cinzento da história da humanidade – o tráfico de escravos. Assunto, aliás, muito actual, tendo em conta o projecto "A Rota do Escravo", lançado pela UNESCO, em 1994, com a ideia de promover estudos e actividades sobre esse triste episódio da história da humanidade.
A agenda foi lançada, formalmente, no Benin, curiosamente, o lugar que abrigou, séculos antes, um dos principais centros de tráfico de escravos, e para onde muitos ex. escravos se retornaram oriundos do Brasil.
O projecto "Rota do Escravo" tem resgatado, de forma mais crítica e sistemática, o trabalho dos historiadores, pesquisadores e antropólogos, que buscam reavaliar e enquadrar o tráfico de escravos africanos.
A UNESCO entende que conhecer as raízes da escravidão, mais do que simples domínio da história, é descortinar uma rota que possa fornecer subsídios para um futuro mais igualitário e plural.
"Itinerários da Memória, Escravatura e Tráfico Negreiro na África Lusófona" do Comité Português do Projecto UNESCO "A Rota do Escravo" é mais uma dessas iniciativas no ramo que tem acontecido, um pouco, por toda a parte. Da parte de Cabo Verde participou nessa obra o historiador António Correia Silva. Esta agenda global, infelizmente, não constitui prioridade em Cabo Verde.
15 de junho de 2005
Ferro Gaita actua em festivais de renome no Canadá
O grupo Ferro Gaita participa, no próximo mês, no Canadá, em dois festivais de música de prestígio. A 2 de Junho sobe ao palco do “Festival Noites de África” em Montréal, que já vai na sua 20ª edição, para na semana seguinte fazer uma paragem no “Festival de Música da Harborfront”, em Toronto.
Segundo a MB Records, a produtora que agendou esses dois shows, esses festivais são de renome, pela diversidade musical e pela qualidade dos artistas que apresentam. Harborfront, um centro cultural e recreativo de Toronto, fez de Canadá um dos mais importantes centros da chamada world music na década de 90, comparado apenas com o Festival de música de Vancouver.
Em cada ano o “Festival de noites africanas” apresenta aproximadamente 300 músicos, cantores e dançarinos, incluindo Alpha Blondy, Prince Diabaté, Queen Étémé, Zal Idrissa Sissokho, André-Marie Tala e ainda Maria de Barros.
Ferro Gaita, inquestionavelmente o embaixador do Funaná e da Tabanka, ritmos tradicionais originários do interior da Ilha de Santiago, Cabo Verde, vai participar também, em Agosto, no Festival de Intercâmbio Cultural em Portland, ME, onde irão actuar artistas de todo o mundo.
Fundado em 1996, os seis integrantes da banda, Eduíno (acordeão/vocalista), Bino (vocalista), Adão (baixista), Jorge Pimpa (Bateria), Manel di Tilina (percussão), e Pito (Búziu) - já produziram sucessos como “Fundu Baxu” em 1997 “Rei di Tabanka” em 1999 e “Bandera Liberdade” em Dezembro de 2003.
Fonte: Cvmusicworld
Segundo a MB Records, a produtora que agendou esses dois shows, esses festivais são de renome, pela diversidade musical e pela qualidade dos artistas que apresentam. Harborfront, um centro cultural e recreativo de Toronto, fez de Canadá um dos mais importantes centros da chamada world music na década de 90, comparado apenas com o Festival de música de Vancouver.
Em cada ano o “Festival de noites africanas” apresenta aproximadamente 300 músicos, cantores e dançarinos, incluindo Alpha Blondy, Prince Diabaté, Queen Étémé, Zal Idrissa Sissokho, André-Marie Tala e ainda Maria de Barros.
Ferro Gaita, inquestionavelmente o embaixador do Funaná e da Tabanka, ritmos tradicionais originários do interior da Ilha de Santiago, Cabo Verde, vai participar também, em Agosto, no Festival de Intercâmbio Cultural em Portland, ME, onde irão actuar artistas de todo o mundo.
Fundado em 1996, os seis integrantes da banda, Eduíno (acordeão/vocalista), Bino (vocalista), Adão (baixista), Jorge Pimpa (Bateria), Manel di Tilina (percussão), e Pito (Búziu) - já produziram sucessos como “Fundu Baxu” em 1997 “Rei di Tabanka” em 1999 e “Bandera Liberdade” em Dezembro de 2003.
Fonte: Cvmusicworld
14 de junho de 2005
O grito de um povo
Gostariamos de justificar este post com o facto das revoltas dos escravos, tanto no Brasil, como em Cabo-Verde terem tido, muitas vezes, traços idênticos, sem dizer que os motivos eram os mesmos, a manutenção da escravidão. Prometemos voltar, sempre que possível, com curiosidades sobre este momento histórico que muito apreciamos.
Durante as primeiras décadas do século 19 muitas revoltas de escravos se fizeram sentir na Bahia, Brasil. A mais importante de todas foi a Revolta dos Malés, uma rebelião de carácter racial, contra a escravatura e a imposição da religião católica, que decorria em Salvador, em Janeiro de 1835. Nessa época quase metade da população da Cidade de Salvador era constituída por escravos negros ou livres, das mais variadas etnias africanas, inclusive aquelas de religião islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que organizaram a rebelião conhecida como Revolta dos “Malês”, termo que designava os negros muçulmanos que sabiam ler e escrever árabe.
A maioria deles tinha mais liberdade do que os negros das fazendas e circulavam pela cidade com uma certa facilidade. Muitos deles compraram a sua liberdade com o dinheiro pago pelos seus patrões . Em Janeiro de 1835, um grupo de quase 1500 negros, liderado pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, entre outros, organizou uma conspiração tendo como fim libertar os seus companheiros islâmicos e matar os brancos e mulatos considerados traidores. O ataque deveria desencadear-se a 25 do mesmo mês.
Acumularam dinheiro para comprar armas, e traçaram os planos em árabe, mas foram denunciados por um negro. Acabaram, mesmo assim, por atacar o posto que controla a cidade, mas, devido à inferioridade numérica foram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que se monstravam receosos perante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
No confronto foram mortos sete integrantes das tropas oficiais e 70 do lado dos negros. 200 escravos foram apresentados ao tribunal. A sua condenação variou entre a pena de morte e aos trabalhos forçados, mas todos foram submetidos a bárbaras torturas, em alguns casos até à morte. Mais de 50 africanos foram expulsos do Brasil e trazidos para a África. Apesar desse massacre, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de revolta que reservava a manutenção do regime escravocrata.
Nossa tradução: "Rebeliao Escrava no Brasil. A historia do levante dos males".
études de J.J. Reis
Durante as primeiras décadas do século 19 muitas revoltas de escravos se fizeram sentir na Bahia, Brasil. A mais importante de todas foi a Revolta dos Malés, uma rebelião de carácter racial, contra a escravatura e a imposição da religião católica, que decorria em Salvador, em Janeiro de 1835. Nessa época quase metade da população da Cidade de Salvador era constituída por escravos negros ou livres, das mais variadas etnias africanas, inclusive aquelas de religião islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que organizaram a rebelião conhecida como Revolta dos “Malês”, termo que designava os negros muçulmanos que sabiam ler e escrever árabe.
A maioria deles tinha mais liberdade do que os negros das fazendas e circulavam pela cidade com uma certa facilidade. Muitos deles compraram a sua liberdade com o dinheiro pago pelos seus patrões . Em Janeiro de 1835, um grupo de quase 1500 negros, liderado pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, entre outros, organizou uma conspiração tendo como fim libertar os seus companheiros islâmicos e matar os brancos e mulatos considerados traidores. O ataque deveria desencadear-se a 25 do mesmo mês.
Acumularam dinheiro para comprar armas, e traçaram os planos em árabe, mas foram denunciados por um negro. Acabaram, mesmo assim, por atacar o posto que controla a cidade, mas, devido à inferioridade numérica foram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que se monstravam receosos perante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
No confronto foram mortos sete integrantes das tropas oficiais e 70 do lado dos negros. 200 escravos foram apresentados ao tribunal. A sua condenação variou entre a pena de morte e aos trabalhos forçados, mas todos foram submetidos a bárbaras torturas, em alguns casos até à morte. Mais de 50 africanos foram expulsos do Brasil e trazidos para a África. Apesar desse massacre, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de revolta que reservava a manutenção do regime escravocrata.
Nossa tradução: "Rebeliao Escrava no Brasil. A historia do levante dos males".
études de J.J. Reis
13 de junho de 2005
Herança da escravatura
Foto de Luiz Morier, publicada na capa do diário brasileiro "Jornal do Brasil" de 29/09/1982, tendo rendido ao autor os prémios Esso e Wladimir Herzog . Em primeiro plano no canto esquerdo um polícia militar segura uma corda que amarra 7 homens negros pelo pescoço. "Batida policial nos morros de Rio de Janeiro", foi o título da fotografia, imediatamente ligada à ilustração feita pelo pintor e ilustrador francês, Jean Baptiste Debret, que viveu no Brasil de 1816 a 1831, na qual um grupo de negros aparece amarrado também pelo pescoço com uma corda, sob a vigilância da guarda. Até quando a história continuará a repertir-se?
10 de junho de 2005
Ministros da Cultura querem mais protecção à Diversidade Cultural
Ministros de Cultura de 71 países, entre eles Manuel Veiga participarão de uma reunião em Madrid neste fim-de-semana para reafirmar uma convenção patrocinada pela UNESCO que busca proteger a diversidade cultural dos países. Os Estados Unidos, a Alemanha, a Grã-Bretanha, o Japão, a China e a África do Sul são contra a proposta.
A convenção pretende ser um instrumento primordial para assegurar o desenvolvimento das diversas culturas, um equilíbrio entre a livre circulação de bens e serviços culturais e a necessária protecção das culturas minoritárias.
O encontro madrilenho foi convocado pelos ministros da Cultura da Espanha, da França e do Brasil no dia 21 de Março de 2004, durante o Fórum Cultural Mundial, que aconteceu em Julho de 2004 na Cidade de S. Paulo, Brasil.
Os ministros se encontrarão uma semana depois de mais de 500 especialistas de 130 países terem concluído em Paris árduas negociações para definir os termos da Convenção Internacional sobre Protecção da Diversidade dos Conteúdos Culturais e Expressões Artísticas, que deverá ser adoptado em Outubro pela Assembleia Geral da UNESCO.
A reunião de Madrid é vista por muitos como uma forma de se tornar visível a vontade dos ministros da cultura de todo o mundo de negociar um tratado internacional, tendo em conta o acordo alcançado em Paris.
Ao projecto actual se opõem cerca de dez países, liderados pelos Estados Unidos, com o argumento de que os produtos ou bens culturais devem obedecer as regras estabelecidas pela pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A grande questão é até onde e como se pode limitar a protecção.
Com AFP
A convenção pretende ser um instrumento primordial para assegurar o desenvolvimento das diversas culturas, um equilíbrio entre a livre circulação de bens e serviços culturais e a necessária protecção das culturas minoritárias.
O encontro madrilenho foi convocado pelos ministros da Cultura da Espanha, da França e do Brasil no dia 21 de Março de 2004, durante o Fórum Cultural Mundial, que aconteceu em Julho de 2004 na Cidade de S. Paulo, Brasil.
Os ministros se encontrarão uma semana depois de mais de 500 especialistas de 130 países terem concluído em Paris árduas negociações para definir os termos da Convenção Internacional sobre Protecção da Diversidade dos Conteúdos Culturais e Expressões Artísticas, que deverá ser adoptado em Outubro pela Assembleia Geral da UNESCO.
A reunião de Madrid é vista por muitos como uma forma de se tornar visível a vontade dos ministros da cultura de todo o mundo de negociar um tratado internacional, tendo em conta o acordo alcançado em Paris.
Ao projecto actual se opõem cerca de dez países, liderados pelos Estados Unidos, com o argumento de que os produtos ou bens culturais devem obedecer as regras estabelecidas pela pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A grande questão é até onde e como se pode limitar a protecção.
Com AFP
7 de junho de 2005
João Lopes Filho lança obra na Praia
A Capela do Pico Vermelho em Santiago é o título do livro que o investigador e escritor cabo-verdiano João Lopes Filho publica, hoje, no Centro Cultural Português/Instituto Camões, na Praia. Um estudo sobre a história da Capela do Pico Vermelho, na Cidade de Santiago, ex. Cidade Velha, que abrange os séculos XVI e XVII.
A obra vai ser apresentada por António Correia e Silva. O historiador considera o livro de extrema importância pelas especificidades de estudo que apresenta, e pela abordagem que empresta a esta importante instituição vincular.
A Capela do Pico Vermelho em Santiago é o quinto título da colecção “Documentos para a História de Cabo Verde”, editada pelo Centro Cultural Português.
João Lopes Filho, que também é engenheiro técnico agrário tem já 16 obras lançadas, (13 dos quais sobre Cabo Verde). Pronto a ser lançado encontra-se igualmente “In Memorian: João Lopes”: uma obra que vai desmontar, segundo uma entrevista que o autor concedeu à jornalista Glaucia Nogueira, o mito que coloca Baltasar Lopes como fundador do movimento Claridade e trazer a público o papel de João Lopes (pai do autor) nesse núcleo.
A obra vai ser apresentada por António Correia e Silva. O historiador considera o livro de extrema importância pelas especificidades de estudo que apresenta, e pela abordagem que empresta a esta importante instituição vincular.
A Capela do Pico Vermelho em Santiago é o quinto título da colecção “Documentos para a História de Cabo Verde”, editada pelo Centro Cultural Português.
João Lopes Filho, que também é engenheiro técnico agrário tem já 16 obras lançadas, (13 dos quais sobre Cabo Verde). Pronto a ser lançado encontra-se igualmente “In Memorian: João Lopes”: uma obra que vai desmontar, segundo uma entrevista que o autor concedeu à jornalista Glaucia Nogueira, o mito que coloca Baltasar Lopes como fundador do movimento Claridade e trazer a público o papel de João Lopes (pai do autor) nesse núcleo.
A passagem de Leonardo Fea por Cabo Verde
O naturalista italiano, Leonardo Fea, que ficou célebre pela exploração da Birmânia chegou a Cabo Verde em 1898, provindo daquele país, ao serviço da Sociedade de Geografia de Génova e coligia para o Condi Salvadori, ornitólogo. A pobreza da fauna destas ilhas foi para ele uma decepção. Em todo o caso, encontra algo interessante: o cuco europeu e cágados em S. Tiago – o ilhéu de Santa Maria, terras muito áridas onde Darwin acampara em 1831 sem descortinar, entretanto, esses animais. A passarinha, sim, descobriu-a ele, referencia o site da triplov.
Leonardo Fea explora as ilhas da Boavista, Santiago, Fogo, Brava e S. Nicolau e os Ilhéus Rombo e Raso. Numa das ilhas descobre uma nova espécie de procelária, de que Newton envia exemplares a Bocage, Oestrellata feae.
Fea passa quinze dias no Ilhéu Raso, numa barraca improvisada, a apanhar lagartos.
Leonardo Fea explora as ilhas da Boavista, Santiago, Fogo, Brava e S. Nicolau e os Ilhéus Rombo e Raso. Numa das ilhas descobre uma nova espécie de procelária, de que Newton envia exemplares a Bocage, Oestrellata feae.
Fea passa quinze dias no Ilhéu Raso, numa barraca improvisada, a apanhar lagartos.
6 de junho de 2005
Fontoura da Costa: o comandante governador
Fontoura da Costa foi nomeado Governador de Cabo Verde em Agosto de 1915.
Estudou os problemas agrícolas cabo-verdianos e tomou medidas importantes durante o seu governo, que se revelaram decisivas para a educação em Cabo Verde. No começo dos anos 30 do século XX o analfabetismo já era um problema muito combatido em terras cabo-verdianas. Em 1932 as 150 escolas primárias existentes no arquipélago eram frequentadas por 8.000 alunos dos dois sexos, numa população de 150.000 habitantes.
Aquando da inauguração do Liceu de S. Vicente, mais tarde denominado “Liceu Central Infante D. Henrique”, hoje Jorge Barbosa, o governador terminava o seu discurso exortando ao adolescentes que abraçassem os estudos e a instrução, de uma maneira geral, como um meio de vencer as adversidades da vida. Palavras entendidas por muitos, na altura, como certas e proféticas de um distinto pedagogo.
Enquanto Governador redigiu ainda um trabalho intitulado “Naufrágios na Ilha da Boavista. Desde 1842 a 1916”. Possivelmente o seu primeiro estudo de âmbito essencialmente histórico.
Estudou os problemas agrícolas cabo-verdianos e tomou medidas importantes durante o seu governo, que se revelaram decisivas para a educação em Cabo Verde. No começo dos anos 30 do século XX o analfabetismo já era um problema muito combatido em terras cabo-verdianas. Em 1932 as 150 escolas primárias existentes no arquipélago eram frequentadas por 8.000 alunos dos dois sexos, numa população de 150.000 habitantes.
Aquando da inauguração do Liceu de S. Vicente, mais tarde denominado “Liceu Central Infante D. Henrique”, hoje Jorge Barbosa, o governador terminava o seu discurso exortando ao adolescentes que abraçassem os estudos e a instrução, de uma maneira geral, como um meio de vencer as adversidades da vida. Palavras entendidas por muitos, na altura, como certas e proféticas de um distinto pedagogo.
Enquanto Governador redigiu ainda um trabalho intitulado “Naufrágios na Ilha da Boavista. Desde 1842 a 1916”. Possivelmente o seu primeiro estudo de âmbito essencialmente histórico.
2 de junho de 2005
S.Filipe: Cidade de todos os santos
Quando se fala em S.Filipe pensa-se na sua localização voltada para o mar e nos seus sobrados, pela sua arquitectura, pelo seu urbanismo e pelo seu percurso humano e social. Esse mundo dos sobrados que testemunha um certo drama e uma certa grandeza reclama, entretanto, um tratamento mais dinâmico.
Uma iniciativa de preservação que salta à vista de quem visita a ilha do Fogo é a Casa da Memória da cidadã Suiça Monique Widmer que escolheu a cidade para viver. Situa-se na parte histórica da cidade e é uma antiga casa de habitação e, depois, casa comercial, que serviu, nos anos 60, para projectar filmes, funcionando assim como o primeiro cinema ao ar livre do Fogo.
Desde a sua restauração, em 2001, a Casa da Memória tornou-se num museu incontornável que acolhe em permanência uma exposição etnográfica dos diferentes aspectos da cultura e da história da Ilha do Fogo.
São Filipe também encanta pela força das suas tradições patenteadas na secular presença da Igreja Católica na ilha e num sincretismo denotador de forte resistência cultural, das suas manifestações festivas e folclóricas. Se é que a festa de São Filipe continua viva e pujante, a oficialidade municipal, urge também dar traço portentoso às festas de São Sebastião, São João, S. Paulo, S. Paulinho e São Pedro. Todas estas manifestações culturais são elementos essenciais da montagem de um puzzle cultural que aguarda tratamento adequado. O canizade, por exemplo, está em vias de desaparecer, lembra, Fausto do Rosário, um natural da ilha.
Fogo é uma ilha rica, com imenso filão histórico e cultural para ser explorado. A riqueza depende da capacidade de interpretar e recriar a História, dizia o historiador Correia e Silva.
Uma iniciativa de preservação que salta à vista de quem visita a ilha do Fogo é a Casa da Memória da cidadã Suiça Monique Widmer que escolheu a cidade para viver. Situa-se na parte histórica da cidade e é uma antiga casa de habitação e, depois, casa comercial, que serviu, nos anos 60, para projectar filmes, funcionando assim como o primeiro cinema ao ar livre do Fogo.
Desde a sua restauração, em 2001, a Casa da Memória tornou-se num museu incontornável que acolhe em permanência uma exposição etnográfica dos diferentes aspectos da cultura e da história da Ilha do Fogo.
São Filipe também encanta pela força das suas tradições patenteadas na secular presença da Igreja Católica na ilha e num sincretismo denotador de forte resistência cultural, das suas manifestações festivas e folclóricas. Se é que a festa de São Filipe continua viva e pujante, a oficialidade municipal, urge também dar traço portentoso às festas de São Sebastião, São João, S. Paulo, S. Paulinho e São Pedro. Todas estas manifestações culturais são elementos essenciais da montagem de um puzzle cultural que aguarda tratamento adequado. O canizade, por exemplo, está em vias de desaparecer, lembra, Fausto do Rosário, um natural da ilha.
Fogo é uma ilha rica, com imenso filão histórico e cultural para ser explorado. A riqueza depende da capacidade de interpretar e recriar a História, dizia o historiador Correia e Silva.
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