14 de junho de 2005

O grito de um povo

Revolta dos MalêsGostariamos de justificar este post com o facto das revoltas dos escravos, tanto no Brasil, como em Cabo-Verde terem tido, muitas vezes, traços idênticos, sem dizer que os motivos eram os mesmos, a manutenção da escravidão. Prometemos voltar, sempre que possível, com curiosidades sobre este momento histórico que muito apreciamos.
Durante as primeiras décadas do século 19 muitas revoltas de escravos se fizeram sentir na Bahia, Brasil. A mais importante de todas foi a Revolta dos Malés, uma rebelião de carácter racial, contra a escravatura e a imposição da religião católica, que decorria em Salvador, em Janeiro de 1835. Nessa época quase metade da população da Cidade de Salvador era constituída por escravos negros ou livres, das mais variadas etnias africanas, inclusive aquelas de religião islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que organizaram a rebelião conhecida como Revolta dos “Malês”, termo que designava os negros muçulmanos que sabiam ler e escrever árabe.
A maioria deles tinha mais liberdade do que os negros das fazendas e circulavam pela cidade com uma certa facilidade. Muitos deles compraram a sua liberdade com o dinheiro pago pelos seus patrões . Em Janeiro de 1835, um grupo de quase 1500 negros, liderado pelos muçulmanos Manuel Calafate, Aprígio, Pai Inácio, entre outros, organizou uma conspiração tendo como fim libertar os seus companheiros islâmicos e matar os brancos e mulatos considerados traidores. O ataque deveria desencadear-se a 25 do mesmo mês.
Acumularam dinheiro para comprar armas, e traçaram os planos em árabe, mas foram denunciados por um negro. Acabaram, mesmo assim, por atacar o posto que controla a cidade, mas, devido à inferioridade numérica foram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que se monstravam receosos perante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
No confronto foram mortos sete integrantes das tropas oficiais e 70 do lado dos negros. 200 escravos foram apresentados ao tribunal. A sua condenação variou entre a pena de morte e aos trabalhos forçados, mas todos foram submetidos a bárbaras torturas, em alguns casos até à morte. Mais de 50 africanos foram expulsos do Brasil e trazidos para a África. Apesar desse massacre, a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de revolta que reservava a manutenção do regime escravocrata.

Nossa tradução: "Rebeliao Escrava no Brasil. A historia do levante dos males".
études de J.J. Reis

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