19 de novembro de 2007

A morte como ela é

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Sete Palmos de Terra , emitida todos os domingos, pela TCV: é uma série (a primeira) arrepiante, mas essencial. A cada episódio, a trágica morte de um ser humano (homens, mulheres, jovens, até crianças), sempre igual e tão diferente entre si. Os familiares enlutados que procuram a casa mortuária.
Sempre o mesmo cenário psicológico: uma mãe/viúva irreversivelmente triste, dois filhos (agentes funerários) com seus dramas paralelos, uma filha adolescente, incompreendida e esquisita. A namorada do filho mais velho, que numa apenas aparente secundarização cénica, joga um papel de equilíbrio temático em cada história/episódio.

A vida é uma viagem para a morte, ou, pelo menos, deveria assim ser entendida. É esta a derradeira mensagem da série Sete Palmos de Terra. Esta é, pelo menos, a grande noção que apreendo, sempre em perspectiva, claro está, a cada episódio. O extremismo, a racionalidade, a loucura, o sexo, a desesperança e a sua antítese, são os ingredientes do viver que nos aproximam com mais propriedade à morte. Não há por onde fugir: os dias estão contados para os filhos, os pais, os maridos, as esposas e os amigos, uns de forma mais trágica, outros nem por isso.
A morte em suas múltiplas dimensões: há quem viva a morte, sem sequer aceitá-la; quem a procure em vida; o alucinado que prefere viver para quem já morreu (a retracção psicológica da viúva causada pelas lembranças do marido falecido).

A forma tranquila de encarar a morte também tipifica um certo viver. Quem não receia a morte, vive um tempo diferente, em eterno desencontro face ao mortal que prefere não pressentir o fim. (a incessante tensão entre a Brenda e o namorado – filho mais velho e agente funerário)
Sete Palmos de Terra, em si, é uma obra apocalíptica. Há cenas/temas que predominam, e perpassam todos os episódios. Cenas onde estão de facto os extremos, que uns reprovam e outros adoptam, enquanto estiverem uns tantos palmos acima da terra. (a relação do filho mais novo - foto – também agente funerário -, com os seus namorados gays).

A música: sempre fúnebre, freiante. O cenário: cinzento, limpo... Os personagens: pálidos, e espectacularmente esquisitos. Algum excessivo cliché, diante de algo tão incomensuravelmente natural.

Sete Palmos de Terra, uma verdadeira lição de vida. Do argumentista e director Alan Ball.

9 comentários:

Anónimo disse...

Ola Magui!

Gostei muito do texto e concordo completamente contigo, sobre a série, que comecei a ver em Cv antes de vir para a Holanda.
Infelizmente só pude ver dois episódios, mas gracas a Deus pude er o início, pq na verdade já tive acesso a vários episódios mais a frente, mas nunca o tinha visto do início.

Uma serie fantástica! Gosto da forma muito simples com que o realizador aborda os problemas da família e a situacào dos gays.

Ocorre muitas vezes que falas de coisas que mexem comigo, porque sinto-me incluida no que escreves. Desta vez é o caso de me sentir incluida nas pesoas que nào receiam a morte. Para quê ter medo? Mais tarde ou mais cedo ela chega,nào é?! Entào limito-me a viver a vida com intensidade, apenas isso. Que seja bem mais tarde, e mmmmmuuuuiiiittttooo tarde, vou pensar, entào, nela.

Beijinhos pra ti. O teu blog está cada vez melhor.

Tua amiga sempre.

Romra

Anónimo disse...

Olá miuda,
cá estou eu de novo.
só para dizer que gostei deste texto e para te indicar uma série que,a meu ver,retrata em pleno a futilidade do mundo actual.A série é:Nip/Tuck e retrata a vida de 2 cirurgião plástico,os seus problemas familiares,a "futilidade" das pessoas que fazem 1 operação por semana,etç etç...

pura eu disse...

Querida Romira!

Não sabia que estavas aí...Holanda! É. A série é fantástica, de facto. O realizador tem uma forma pessoal (diria) de abordar conflitos familiares, e aborda o homossexualismo de forma apaixonante.(vale dizer que ele próprio é um homossexual assumido) Lembras de American Beauty? É o mesmo senhor.
O bom mesmo é teres te identificado com o conteúdo.

Meu caro Ka-el: que bom que gostou do texto. Vou tentar ver a série. E essa de miúda, hein!

Um beijo enorme, amiga Romira.

Ka-el só recebe beijo no dia que resolver assinar o seu nome :)

Anónimo disse...

Então miúda!!!???Estás a ser "injusta"...só ganho um beijo teu se assinar o meu nome?E se eu disser que Kal-El é o nome com o qual gostaria que a minha mãe me registasse?eu sei,posso mudar o meu nome agora,mas...Podes procurar o significado/origem do nome Kal-El e,por aí,descobrirás alguma coisa de mim..bjs

pura eu disse...

ka-el, vou elaborar um plano para descobrir a tua identidade. Mas não quero continuar a ser injusta. Tu mereces um beijo, porque és muito simpático. Todas as vezes que aqui vieres, levas um beijo. promessa. :)

Anónimo disse...

Viva miúda!
vou ganhar um beijo teu todos os dias!!!!Tens é de me dizer se não corro o risco de me transformar num princípe encantado porque,senão,serei um princípe sem o seu reino.
Kal-El é o meu alter-ego,se assim posso dizer...dou-te uma primeira pista:conheci a tua mana que agora está nos eua...bj

pura eu disse...

Ka-el, a pista que me dás é muito vaga. Mas, em todo o caso, não te preocupes, o nome é apenas um detalhe, e não interfere na essência. Além do mais, tratando-se de alter-ego, só me resta acatar.

Bj

Anónimo disse...

Excelente texto para uma série que é apaixonante. Assisto a série todos os domingos e acesso este blog todas as semanas. Parabéns pelo trabalho. Se te conhecer pessoalmente, te ademiro, e ao teu trabalho também. Tenho algo a dizer sobre a série, mas nao aqui. Força sempre e continue a fazer trabalhos que fazem respirar ar novo no nosso jornalismo.

emerson pimentel

pura eu disse...

Pimentel, obrigadíssima. Volta sempre.

Margarida