15 de janeiro de 2009

Da toponímia

toponímia



















A toponímia da Cidade da Praia, mais do que em outros pontos do país, sempre esteve à mercê das oscilações políticas e de grupos, e envolta a alguma vulnerabilidade. Haviam os nomes atribuidos pelo regime colonial que, depois de 1975 com a Independência Nacional, foram substituidos por outros, e com o advento da democracia alguns foram retomados. A estátua de Diogo Gomes “na testa” do Plateau é um exemplo emblemático. Outro caso curioso, foi o Bairro Craveiro Lopes que logo depois da Independência passou a apelidar-se de Bairro Kwame n´kruma para depois com a democratização recuperar novamente o topónimo Craveiro Lopes.

A atribuição de nomes a ruas, praças e estátuas, independentemente das vontades partidárias, políticas, ou de grupo é uma questão sensível e deve sempre partir de argumentos claros e consensuais de ordem histórica, geográfica, cultural ou mesmo simbólica. O que ocorreu há dias com o nome Largo Eusébio, atribuído pela Câmara Municipal da Praia à conhecida Rua Capela, em Achada Santo António, destoa dessas premissas.

O Edil praiense reagiu na comunicação social à “ligeira” manifestação de alguns moradores da zona e disse tratarem-se de pessoas bem identificadas, afiançando que 99,9 % dos moradores estão de acordo com a decisão camarária. Faltou apresentar argumentos quanto "à legitimidade" do acto. De referir, que a dita rua é já uma marca: Rua Capela: uma capela que serve o grosso dos fiéis do bairro, construída por um morador antigo e bem conhecido de todos, e mais; uma rua, em cuja terra batida terão brincado muitos Eusébios nossos. É que se não houver uma ligação directa chão/nome, mormente se tratando de um largo, o nome não será facilmente assumido pelas pessoas, independentemente das qualidade da figura.

Esta nota não desmerece a figura do Pantera Negra, e nem se pretende representativa, apenas reflecte alguma estranheza perante essa ligeireza da edilidade, numa tentativa quiça, imbuída de boa fé, de agradar a estrela do Benfica. Entretanto, acreditamos, que possa existir alguma outra rua da Cidade que, eventualmente, despoletasse uma ligação mais afectiva (e menos confusa) com a lendária figura.

4 comentários:

Edy disse...

Tens toda a razão...ainda me pergunto quando é que teremos,pelo menos na praia,cada rua com nome e cada casa com número da porta para que cada um possa receber carta e encomendas em casa...será que vai demorar muito?Faz mas sentido a câmara fazer esse trabalho do que tentar agradar alguns ilustres,como foi com este caso...

ps: na verificação de palavras para este comment,a palavra era "tolyche"...

Redy Wilson Lima disse...

Sou contra a denominação de largo Eusébio e a reacção da população foi típico dos cabo-verdianos, passivos. Muitas bocas, mas na hora da verdade, nada.
Edy, cerca de 90% das ruas e casas na Praia (as que não são clandestinas) já tem nome e número.

Anónimo disse...

Nem vou à parte mais acima desta questão, que aliás essa foi tocada pelo post..

Engraçado é que Bairro, Craveiro Lopes - Kwame n' Krumah - Craveiro Lopes, por ironia do que tem sido apanágio deste Bairro resistir - manteve sempre o nome pelo que foi conhecido: Bairro.

Ainda que informalmente, que é a forma como nos tratamos a aos nossos lugares comuns.

pura eu disse...

O povo é quem mais ordena, da caps. Daí também "os consensos" necessários nessas questões.