5 de janeiro de 2009
Da imagem à liderança política
Os presidentes do PAICV e do MPD transmitiram, no dia 31 de Dezembro do ano findo na Televisão de Cabo Verde, os votos de bom ano novo aos cabo-verdianos, no âmbito do tempo de antena que os dois partidos gozam na estação de televisão pública. Essas comunicações suscitam algumas leituras à semântica dos seus conteúdos.
O teor e o tom são antagónicos, como se sabe. Para o MPD, o país, não fosse o razoável ano agrícola, estaria numa profunda agonia. Segundo Jorge Santos, tudo vai muito mal, e o governo perdeu, a crer nas suas palavras, o controle da situação. O Presidente do PAICV apresenta a sua versão; um país que caminha, com projectos, com avanços: novas bacias hidrográficas, melhor aproveitamento dos parques naturais, boa governação, casa do cidadão, etc.
Mas não apenas o conteúdo dessas duas comunicações eram diferentes, a forma como foram feitas também, daí o motivo deste post. A televisão é um médium de imagem por excelência e para se atingir determinados objectivos em muitas conjunturas não podemos dela descurar: ela mostra e convence. Não basta dizer que o país caminha a várias velocidades, ainda que possa ser a mais crua realidade, é preciso mostrá-lo, pouco adianta ater-se ao (des) ânimo dos cabo-verdianos, esta é uma tarefa do operador de imagem: focá-lo.
O tempo de antena do MPD se resumiu ao comunicado de Jorge Santos, que foi “para o ar” sem o genérico ventoinha; o do PAICV foi um "filme" iniciado por um genérico novo, música de fundo emblemática (Nós Cabo Verde di speransa de Norberto Tavares), imagens do país in complemento do texto off em crioulo, (a narração é impessoal, e por isso mesmo de todos) e com entradas curtas do presidente do partido. Nessas aparições, José Maria Neves priorizou as realizações do governo e discorreu de modo directo sobre as perspectivas do seu partido. De lembrar que a produção dos tempos de antena é da responsabilidade dos partidos políticos.
O MPD, sem intenção de ajuizar sobre o teor da sua comunicação, não adequou o conteúdo ao meio, e isso enfraqueceu a sua mensagem. Bastava trabalhar com antecedência; ir ao terreno. O PAICV, por seu turno, (por ter respeitado a gramática do meio) conseguiu, com melhor eficácia, passar a sua mensagem.
Numa leitura semiótica se pode dizer ainda que Jorge Santos (da forma como se dirigiu aos cabo-verdianos) tenha atraído a si (e só a si) a ventura (e a desventura, se for o caso) do seu partido, nessa sua busca visível por uma liderança sem contestação. José Maria Neves, não se colocando nesse patamar, já que exerce o papel de primeiro ministro, está menos ansioso, deixando algumas (senão muitas) glórias para o partido. Dirigiu-se aos cabo-verdianos como líder e parte de um todo, respeitando toda a dinâmica das representações “dessa realidade”.
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