16 de janeiro de 2009
Momentos
1.
Eis-me
face aos papéis
e estes me dizem:
é arriscado
ser-se indagador
Não porque
falassem os papéis
mas pela sua simples postura
branca sobre a rectangular nitidez
da secretária
É arriscado ser-se indagador
dizem os papéis
brancos na cava sonoridade
da sua postura
e são outras as vozes
que por entre eles ressoam
Talvez sejam as vozes
dos donos dos papéis
e dos fiscalizadores das receitas e despesas
do Orçamento Geral do Estado
2.
Por aqui estou
livre
porém preso
ao sol do meio-dia
Desapareceu a bruma seca
e sob a plena e ofuscante
claridade do dia
rutilam os casebres
nítidos e míseros
Vazia de água
leito dos restos do dia
a ribeira é uma viela ampla
por onde circulam os pedintes
ruela por onde deambulam
os cilícios da marginalidade
de mentes várias desempregadas
tela na qual se desenha
o arrojo arquitectónico
das crianças filhas da rua
e se configura a despojada engenharia
das suas brincadeiras semi-nuas
Por aqui estou
livre como a cidade
meditando porém
nessa liberdade
que me amordaça
os resquícios de ousadia
e me prende
como aos outros
que se não calam
aos papéis vazios
à secretaria vazia
à minha condenação
à impotência e resignação
por demasiado amor à liberdade…
poema: José Luís Hopffer C. Almada
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