9 de abril de 2009
Beto Dias: totalmente di nós...
Nos finais dos anos 80, a revolução do funaná ocorrida em Cabo Verde origina na diáspora cabo-verdiana, concretamente na Holanda, um “novo movimento ou estilo” e um dos “artífices desta nova revolução”, como escreve Carlos Filipe Gonçalves no seu livro Kab Verd Band, é “Rabelados” com Beto Dias.
De lá para cá, muita coisa aconteceu, inclusive a desintegração da banda, mas Beto Dias continuou na estrada, sem fugir em essência do seu propósito musical: cantar o seu torrão natal na sua complexidade arquipelágica e diaspórica, com emoção, simplicidade; cantar a vida como ela é com o seu amor e desamor e homenagear as lutadoras mães das ilhas, temática aliás que bem o caracteriza. É tudo isso que Dias tem feito nos seus 21 anos de carreira, e o que acaba de fazer no seu último álbum intitulado “Totalmente di bó”.
Balada, (a morna no Rithm Blues – segundo Kab Verd Band), o funaná que vai lembrar sempre Rabelados porque orquestrado por Danilo Tavares, baixista e arranjador do extinto grupo, e companheiro inseparável de Dias. O artista originário de Ribeira das Pratas, Tarrafal de Santiago, neste que é o seu quinto álbum a sólo (além de dois com banda e um Best of) continua também a permear com os ritmos de “cheiro” zouk (denominado cabozouk) que, como se sabe, constituiu outra “fórmula encontrada” nessa época por esses jovens músicos crioulos nascidos e/ou crescidos na Holanda.
A música "nen pa ka tenta" confirma o lado comprometido de Beto quando canta que /Kantu ta flada nu tinha odju fitxadu, nocenti, bakan/Nu ka dexas tomanu konta’l nós txada, nem kobon, nem ladera!!!/Goci nu sta da, di Rotcha ti kamba mar/pa kenha ki ben di longi/.
Em seus anteriores trabalhos, lembre-se, com semelhante consciência de pertença, Dias cantou escravidão, emigração, separação, independência, democracia ...
A faixa que dá título ao álbum fala de encontro, de paixão, desejo, e finalmente casamento,(n'kre pa bu ser nha esposa, entoa-se em coro num derradeiro tom); momentos em que as margens entre a arte e a vida real parecem estreitar-se... uma outra faceta.
“Gratidon”, a nona faixa do disco, além de uma homenagem singela às mães de Cabo Verde, todas sem excepção, “mãe bo ke centro di nha universo”, transporta-nos àqueles “anos Rabelados” em que a música parecia ter um sentido lapidar: provar ao arquipélago que “o nós”, das ilhas, e “o nós” da diáspora constituem uma única e grande nação. Beto Dias continua a querer apelar a essa unidade (como alias, fizera Rabelados no seu primeiro LP Unidade e Amor, 1988) em cada novo trabalho.
fotu: a semana
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6 comentários:
O Beto é o meu número um!! Pela pureza e qualidade que põe no funaná e pelas letras que tocam fundo.
É o mais consistente de todos.
São esses dois aspectos que mais marcam o artista.
Para mim é sem duvida o disco fraco e atrevo-me a dizer, pobre do Beto.
Acho que nem ele vibra com este disco.
O Beto tem uma voz muito boa mas tem insistido em a por na música errada...
Mas isto é opinião claro!
Djinho Barbosa
Não falaria numa música errada. Tenho por mim que os estilos não são maus em si. Sobre o disco, a tua opinião é bem-vinda, Djinho, e vai confrontar as outras.
Abraço!
Desde Rabelados ao solo "Totalmente di nós", a minha opinião é de queda vertiginosa do Beto.
Os arranjos do disco dos rabelados e suas letras parecem ser de um outro Beto.
Outro dia ouvia o novo disco no café Sofia e sou obrigado a concordar com o Djinho: disquinho fraquinho.
Apenas minha opinião.
Dundu,
Já agora aproveito para sugerir que ouvisse o disco mais vezes! Não que venha a mudar a sua opinião com isso... respeito muito a sua impressão.
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