22 de fevereiro de 2010

O peso das datas... lá e cá

Basquiat



















1. Nelson Mandela é figura mundial incontornável e não há quem se oponha a esse dado. Ele lutou, pela via da cidadania e da dignidade humana, contra o apartheid na África do Sul, o que veio contribuir para a construção de um mundo mais justo e equilibrado. Mas a saída da prisão de Mandela e a própria luta armada contra o apartheid, passando pela actuação política do ANC, parecem não ser suficientes. Há quem opte por celebrar como data simbólica o 2 de Fevereiro, o dia em que Frederik de Klerk anunciou, perante parlamento sul-africano, a legalização de um partido negro e a libertação de Nelson Mandela, depois de 27 anos no cativeiro. Este é apenas um ponto de partida e um esforço de chegada…

2. Liguei a situação acima aos recentes barulhos que se têm registado à volta da abertura política em Cabo Verde. O PAICV, depois de largos anos em silêncio sobre esse período, eis que 20 anos depois decide eleger o 19 de Fevereiro, o dia da declaração da abertura ao multipartidarismo, permitindo assim a emergência de novos partidos. Ao celebrar esta data, este ano, o PAICV fá-lo quase que na tentativa de esvaziar o peso simbólico do 13 de Janeiro, efeméride que, em abono da verdade, esse partido nunca assumiu nas suas múltiplas vertentes.

Para confirmar o peso de 19 de Fevereiro, o PAICV referiu-se aos acontecimentos seguintes como a revisão constitucional de Setembro de 1990, a aprovação da lei dos Partidos Políticos e as primeiras eleições a 13 de Janeiro. Ou seja, actos consequentes.

O que falta dizer nessa história toda, sem arrogar a pertença das datas a esta ou aquela força político-partidária, é que as datas para serem celebradas devem ser sentidas, devem mexer com o nosso sangue, alterar as forças todas, fazer-nos sorrir ou chorar, gritar ou berrar, se for o caso. Anúncios frios, quedas constitucionais ou aprovações legislativas não provocam esse frisson.

À guisa de conclusão, diria que a tentativa de esvaziamento de uma data simbólica em detrimento de outra é um acto estéril… o que se deve é trabalhar para que todas as datas importantes para o percurso deste país, sejam lembradas com sentido de pertença, e com rigor de estado (no sentido neutro do termo).

17 de fevereiro de 2010

José Luís Tavares, a propósito da oficialização do crioulo

crioulo




















“Sou pela oficialização plena e em paridade com o português, ainda que, no meu entendimento, se esteja a apegar demasiado à questão formal, legal e constitucional. Não menosprezando o aspecto da dignidade constitucional, penso que o actual articulado permite um conjunto de realizações e cujas virtualidades estão longe de estar esgotadas. O que é preciso é levar à prática, e até às últimas consequências, todas as possibilidades legais existentes. E para isso é preciso que o próximo governo, seja ele de que partido for, tome de forma decisiva a questão em mãos transferindo-a para o ministério da educação (com um ministro com abertura, empenho e sensibilidade para a questão, sem prejuízo do papel que o ministério da cultura deva continuar a ter), pois é aí que se joga, decisivamente, o sucesso na aprendizagem e uso da língua caboverdiana; a criação de uma unidade de missão adstrita à presidência do conselho de ministros, enquanto não é criado o instituto da língua caboverdiana, uma das principais recomendações do fórum de dezembro de 2008. Bom, dir-me-ão, para isso tudo é preciso haver recursos.”

Acha que há alguma mão oculta preterindo a oficialização da língua cabo-verdiana e por que razão?

“Eu não sei se há uma ou mais mãos ocultas ou não, mas o que eu tenho notado é que existem algumas movimentações, sem que isso possa ser tomado como algo conspirativo, e que elas incluem cabo-verdianos e não-caboverdianos. No que tange aos caboverdianos que são contra a oficialização, podemos dividi-los em várias categorias. Uns, por um déficit de consciência cultural e identitária; outros por razões de poder, pois enquanto o português continuar a ser a única língua formal de Cabo Verde aqueles que possuem o seu domínio ficam na posse de um capital social e simbólico não negligenciável; outros ainda por razões de reivindicação regionalista que encontraram um pretexto para as suas, talvez, justas queixas, usando a questão da língua como cobertura; e ainda aqueles que, se calhar por culpa nossa, não fazem ideia sequer do que se está a discutir.

Quanto aos estrangeiros as suas contribuições são bem-vindas, desde que se restrinjam ao âmbito técnico-científico. A questão social e política é com os caboverdianos, e só com eles. Por isso espantei-me, e muito, quando me disseram que um jornalista caboverdiano teria perguntado ao ex-ministro português Morais Sarmento o quê que ele achava da oficialização da língua caboverdiana. Que eu saiba o senhor Sarmento não é linguista e Cabo Verde é um estado soberano há trinta e cinco anos. Choca-me que haja caboverdianos que ainda não tenham interiorizado isso e que agem perante lisboa como se ainda fôssemos uma das suas possessões ultramarinas.”

in: expresso das ilhas
fotu: denise portes

16 de fevereiro de 2010

As minhas dúvidas sobre o texto de Germano Almeida

crioulo

















É recomendável que os jovens cabo-verdianos exercitem cada vez mais o português, por uma questão de exigência normativa, assim como todas as outras línguas que se propuserem falar ou escrever. Entendemos, mas pasma, a opinião do escritor Germano Almeida, que em pleno século 21, depois de tantas quedas, vitórias, e (des) construções simbólicas (inclusive), talvez hoje não faça sentido falar em língua do poder.

Há desmistificações que se impõem. A oficialização do crioulo não afronta a presença de qualquer outra língua, mormente aquela igualmente de referência histórica e cultural como é a língua portuguesa. Ela implicaria, se assumida em igualdade e paridade, na construção mais coerente e harmoniosa do Bilinguismo Cabo-verdiano, facto plasmado na realidade da Nação e de jure constitucionalmente reconhecido.

Em boa verdade, quem escreve e fala a língua cabo-verdiana não está sujeito a qualquer tipo de condenação formal e informal, e muito menos à subalternidade social e cultural, o que, convenhamos, já é uma grande conquista civilizacional.

O reforço da identidade cabo-verdiana, algo necessário nestes tempos de Globalização e de esbatimento das diversidades, continuará a ser crítico e, consequentemente, imperioso contra certos preconceitos e certos anacronismos. Estranha-nos, por isso, alguns conselhos, tão ultrapassados quão desajeitados, deixados aos jovens cabo-verdianos por intelectuais da craveira de Germano Almeida.

fotu: jan dirkx

15 de fevereiro de 2010

O crioulo, o português, e os dois juntos (porque não?)

crioulos

















A oficialização da língua cabo-verdiana – comummente denominada Crioulo – em paridade com a portuguesa, é daqueles debates nossos que passam de caravana (entenda-se geração) em caravana, com a condição, dir-se-ia, de nunca ter um desenlace (chegar ao destino). As tais temáticas da cabo-verdianidade que existem para isso mesmo: testar a nossa resistência afro-atlântica, se é que me entendem.

Em todo o caso, assumindo um pouco a esterilidade do frissom, pela forma como este debate (alipekiano) começou, aproveito a oportunidade de dar a conhecer a posição de um dos escritores mais nomeados do país sobre a matéria. Na última edição da revista África 21, Germano Almeida, na sua crónica, escreveu o seguinte:

“… se me fosse permitido um conselho aos jovens do meu país, dir-lhes-ia: usem a língua portuguesa! Estudem, leiam, escrevam, falem em português o quanto vos for possível, porque a língua portuguesa é a língua do poder! Apropriem-se dela, habituem-se a verbalizá-la, a brincar com ela, a brigar com ela, a insultar, a rir e, se possível, a namorar com ela, com a mesma facilidade com que tagarelam o crioulo. Observem e reparem que todos aqueles que nos empurram para o crioulo como primeira opção têm pelo menos duas principais, muito faz pensar que simplesmente desejam afastar concorrentes aos lugares de apetite, cada vez mais escassos na nossa terra.
Não se deixam enganar por esse nacionalismo de vida curta, ao longo dos séculos temos vindo a escrever acerca da nossa cultura e da nossa identidade usando a língua portuguesa, e todos os cabo-verdianos se reconhecem nesses textos. Chiquinho foi escrito em português, mas nós sentimos que jamais poderia ter sido escrito por um português. Acautelem-se, pois aceitar que vos condenem ao crioulo é aceitar serem condenados à subalternidade.”

Os negritos são nossos…

fotu: jan dirkx

14 de fevereiro de 2010

Blog do JMN

comunicare















José Maria Neves, o Primeiro- Ministro, já está na rede, e numa evocação existencial, conforme sentencia o texto de apresentação do seu blog pessoal acabado de nascer: “A opção de lançar este Blog é pessoal, individual e até existencial. Faço-o por uma necessidade comunicacional a vários níveis, na premissa que a essência das relações humanas se deva basear no conhecimento e na circulação de pensamentos e das ideias.”

O lado pessoal de José Maria Neves é ainda vincado no blog, quando diz o seguinte: "Relevante à minha biografia o facto de eu ser pai de José Luís Tavares Pereira Neves, José Maria Pereira Neves, Jr. e João Manuel de Boal e Neves, jovens que aditam mais alento às causas que defendo. Relevante, sem dúvida, a ventura do destino que me fez filho de Alda, ou Dona Nair como é carinhosamente chamada, heroína da minha existência e modelo da minha forma de estar na vida."

O lema “mais perto de quem importa” é que parece não coadunar com um blog que se quer pessoal. Contamos ver acessos debates por estas bandas.

Os dias

Os dias passam, mesmo quando insisto que fiquem, e desses momentos paridos vou me valendo.

9 de fevereiro de 2010

Vinha Maria Chaves e Outros Sonhos...

vinho


















1. A Inauguração do Projecto Vinha Maria Chaves, no passado Domingo, foi, sem dúvida, um sonho que se tornou realidade. Quem de longe avistava as terras de Mai Tchabi (nome popular) não imaginava que daí nasceriam 24 hectares de plantações de vinha, e nem pensaria que dentro de um ano estar-se-á a fazer a primeira colheita, e a produzir 500 mil garrafas de diferentes tipos de vinho made in Maria Chaves, Ilha do Fogo. Os pormenores aqui

2. O Hospital São Francisco de Assis, na Cidade de S.Filipe, também dinamizado pela Associação ASDE, e pela sua congénere italiana AMSES, passa, a partir de agora, a ser administrado pelo Grupo Villa Maria. Uma rede de saúde privada italiana que possui estruturas hospitalares e centros médicos distribuídos pelo país e pela Europa. A estrutura aposta em diagnóstico e cura altamente especializados, tendo a pessoa humana e o seu bem-estar como fim último. Com a administração do grupo Villa Maria, o Hospital São Francisco de Assis, passará a prestar em regime de continuidade tratamento em várias especialidades médicas e com alta qualidade, o que certamente fará com que pessoas de outras ilhas procurem os serviços médicos do Centro. Conheça o Grupo Villa Maria.