13 de março de 2011

Democratas...
















Escrevi em dezembro do ano passado este post onde dizia que Manuel Inocêncio seria o candidato apoiado pelo PAICV, e ontem tudo se clareou. O Ministro das Infra-estruturas, transportes e telecomunicações aparentava estar demasiado confiante e sereno. Era ele o escolhido de José Maria Neves. Os sinais eram muitos. Em São Vicente, durante a campanha para as eleições legislativas, Manuel Inocêncio era referenciado como a mão invisível que dentro do partido catapultou José Maria Neves para a liderança, e na chefia do governo, o seu braço direito. Percebe-se, portanto, que Neves tinha uma dívida para com Inocêncio. Ela já foi paga. O problema está no caminho percorrido: uma dita disputa interna no seio do PAICV que revelou ser tudo, menos democrática.
Contra fortes ventos e marés, José Maria Neves, tal como fez para a presidência da mesa da Assembleia Nacional, impõe o seu escolhido. Fá-lo e remete a um sofrimento sucumbido os apoiantes de David Hopffer Almada, e sobretudo, os de Aristides Lima, já que as sondagens davam a este último uma margem confortável de apoio.
Uma notícia recente num dos jornais on-line do país dizia que José Maria Neves queria no parlamento e na presidência da república, figuras da sua confiança e sensibilidade, para uma governação sem sobressaltos. Grave!

Democracia stribilim

Numa altura em que se advinham tempos difíceis para o país, apesar da vitória stribilim nas últimas eleições, certamente, não será o momento para se fugir de dissensões. O parlamento não é um salão paroquial, e a presidência da república está longe de ser um clube de amigos. Os dossiers/pacotes nesses dois fóruns devem ser submetidos a escrutínios exigentes, à luz da Constituição, e de uma certa cultura política e institucional, para o bem da governação e da consolidação da democracia.

Poesia

"Mon pays est une Musique"...e o poeta vive, caso contrário, somos nós a morrer devagar!

14 comentários:

Anónimo disse...

José Maria Neves fez o que se faz em todo o mundo. Onde está a diferença? Lula montou a sua sucessão, começando por instalar Sarney no Parlamento, o que passou? Brasil está pior? Mário Soares procurou sempre ter primeiros-ministros socialistas da sua ala para evitar problemas. Portugal estava melhor. Sarkozy bem que tentou, mas os ares da Europa estão bem diferentes. Olof Palme fez isso na Suécia o ex-homem forte da Alemanha era o pai da teoria da estabilidade: Helmul Kohl. Obama tentou com a Câmara dos Deputados e Supremo, mas a popularidade não o ajudou. No último mandato de Veiga, ele ficou de um lado, Espírito Santo (AN) do outro e Mascarenhas Monteiro (PR) do outro lado, e deu no que deu. Isso sim foi grave.

Antonio d´Almeida (tonydalmeida@gmail.com)

Paulino Dias disse...

Olá Guida,

Só uma pergunta: a escolha não foi feita com base num processo democrático, com voto secreto?? Como poderia JMN ter "imposto o seu escolhido"???

Sorry, desta vez tenho uma leitura muito diferente da tua. Na minha opinião o PAICV demonstrou sim, que tem processos internos democráticos,com regras claras estabelecidas, e estas foram respeitadas. JMN evitou (pelo menos publicamente...) tomar partido de qualquer candidato e só o fez após as eleições no CN... Para mim, esta foi uma postura correcta.

Abraço,
Paulino

pura eu disse...

Oi Paulino,

É também salutar termos opiniões diferentes... este é o caso.

Abraço,

Margarida

Anónimo disse...

Olá Margarida,

Só para dizer que concordo em absoluto com o teu post. É sem dúvida a melhor leitura que já encontrei sobre este descalabro em progresso.

Mas, pelo menos, já consegui encontrar mais uma pessoa que votou no PAICV e que apoia o Inocêncio (oi Paulino, vocês são uma raridade :-).

Para mim, o que mais me incomoda é exactamente aquilo que apelidas de grave:

"José Maria Neves queria no parlamento e na presidência da república, figuras da sua confiança e sensibilidade, para uma governação sem sobressaltos."

Em jeito de pergunta/resposta ao Sr. Antonio d' Almeida, o que é que considera melhor:

Termos na PR e na AN pessoas que, em nome da "estabilidade", apoiam, sem pestanejar, todas as decisões do PM, independentemente de serem boas ou más?

Ou termos pessoas coerentes que pensam pela sua própria cabeça e agem de acordo com a sua consciência, independentemente de estarmos de acordo ou não?

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P.S. Paulino, o processo foi "muito" democrático, só que esqueceram que a democracia funciona de baixo para cima e não de cima para baixo. ;-)

pura eu disse...

Olá, Salim...

Não teria muito a acrescentar às tuas achegas. Honestamente, penso que as coisas devem ser ditas a tempo, antes que seja tarde demais.

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Margarida

Anónimo disse...

Oi jornalista Margarida, este debate está bom. Trago mais algumas reflexões. Qual político não quer colocar gente da sua cor nos lugares importantes? Em que país do mundo um líder de um partido deixa que outra sensibilidade que não a dele domine o seu espectro político? Parece que pessoas como o sr. Salim pensam que as outras pessoas não pensam. Algums vez se criticou que o MpD tenha querido colocar um homem da sua confiança como António Mascarenhas Monteiro? Prezado Sr. Salim, ninguém na política procura pessoas que agem da forma como bem entendem, mas sim que são da sua área. Em Cabo Verde pensamos que estamos a inventar, mas é pura fantasia, e então investam coisas. Nos países com sistemas parlamentares, todos os primeiro-ministros procuram colocar na presidência gente da sua cor política e da sua sensibilidade. Quanto à escolha democrática, ela foi, porque o partido realizou eleições, agora que cada um fez o seu jogo isso lá fez. Discutamos coisas reais, não quimeras.

António d´Almeida (tonydalmeida@gmail.com)

pura eu disse...

"Em que país do mundo um líder de um partido deixa que outra sensibilidade que não a dele domine o seu espectro político?"...

Em democracia não existe vontade suprema, Sr. Almeida. Ademais, estamos a falar de um partido, onde as diferenças não podem ser tão irreconciliáveis. Em situações limites, o bom senso deve imperar. São os tais jogos democráticos...

Anónimo disse...

Caro Sr. Antonio d' Almeida,

Discutamos, então, coisas "reais", nomeadamente, o que quis dizer quando escreveu:

"No último mandato de Veiga, ele ficou de um lado, Espírito Santo (AN) do outro e Mascarenhas Monteiro (PR) do outro lado, e deu no que deu. Isso sim foi grave."

Esclareça-me, por favor, o que queria dizer com a frase deu no que deu e com a palavra grave, pois, depois deste seu último comentário, já fiquei com algumas dúvidas.

Abraço

Paulino Dias disse...

Alô Salim,

Apenas para deixar duas notas:

1. Fazes uma distorção das minhas palavras ao deduzir que apoio MI apenas a partir do meu comentário... O que eu quis destacar é o processo. Tivesse AL ou HA vencido no quadro do mesmo processo, eu não mudaria uma vírgula do comentário. Repito, na minha leitura o processo foi democrático e respeitaram-se as regras definidas para o funcionamento do partido. Se houve campanhas pelos votos dos membros da CN? Naturalmente que sim!, faz parte do jogo político. Se houve "promessas de favores" ou outros em troca de votos? Não o poderei negar nem afirmar em sã consciência. Afinal, a votação foi secreta. E, se tiver acontecido, a responsabilidade (e a vergonha!) é inteiramente de quem aceitou colocar interesses pessoais ou de grupos acima do bem comum da Nação. Serei o primeiro a condenar tais práticas, acredite!

2. A questão que levantas sobre a democracia de baixo para cima é pertinente e concordo em absoluto com o teu ponto de vista. É um debate que, sem dúvida, os partidos deveriam lançar internamente. Este, também defendo, seria o PROCESSO IDEAL. Mas o meu comentário foi baseado no PROCESSO EXISTENTE. Isto é, se a eleição decorreu em respeito às regras estabelecidas neste momento.

Dito este, meu caro, devo dizer-te que MI sempre foi o meu candidato preferido (já dissera isto publicamente meses antes - o que me custou valentes contra-argumentações da "malta de Quebra Canela às 06h da manhã" eheheheh). Tenho os meus argumentos (sempre pessoais, claro!). Mas, confesso, foi para mim uma autêntica surpresa a sua eleição, especialmente depois de ter lido a sondagem da semana passada...

Um grande abraço,
Paulino

Anónimo disse...

Oi Paulino,

Só para dizer-te que respeito e concordo com as tuas argumentações. De facto, acho que a surpresa foi "geral" e é isso que causa uma grande revolta.

Mas, como dizes (e bem), o voto é secreto e só os membros da CN saberão porque votarem no candidato em que votaram (sabendo o que sabiam).

De todo o modo, é normal e salutar que apoies o Manuel Inocêncio (do meu ponto de vista uma pessoa séria e credível, tal como DHA).

Já agora, embora tenha adivinhado o teu apoio, peço desculpa se, de algum modo, distorci as tuas palavras porque, realmente, não o tinhas firmado antes.

Abraço

Anónimo disse...

Olá pessoal,
Vou meter minha colher rs.
Realmente ninguém pode ter deixado de notar, com muita estranheza diga-se, que o PAICV tenha escolhido o candidato com menor intenção de voto quando tinha um candidato com o percurso de AL dentro e fora do partido e que lidera nas sondagens e preferências dos eleitores. Hás-de reconhecer Paulino que és uma raridade rsrs! Como o Salim eu não tive o prazer de conhecer muitos rsrs.
Isso por si só indica que algo não está muito bem.
O segundo ponto é que o candidato vencedor além de ser o que tem menor intenção de voto é o candidato da facção dominante (como o chamou Ludgero Correia) e o derrotado, da facção remetida ao silêncio/sofrimento como diz a dona do blog. Isto tem de nos dizer alguma coisa.
Realmente Paulino o processo foi democrático, transparente… mas se formos um pouco mais a fundo…
O que se esperaria da liderança do partido (o seu presidente, vice-presidentes, diga-se facção dominante….) quando confrontados com o projecto de AL e mais ainda com o grande apoio dentro e fora do partido que ele tem? “Inventassem” outra candidatura, ou apoiá-la indo de encontro a vontade da maioria, mesmo quando pessoalmente se “pense” que haverá melhores candidatos? Porque é que MIS e JMN não retiraram a candidatura face a constatação do apoio de AL e à falta de apoio de MIS? Não era isso o esperado de uma liderança democrática?
Podem me perguntar e o projecto presidencial de do cidadão MIS/JMN? Nada contra. Mas faria mais sentido que MIS fosse o candidato independente (se acredita mesmo no seu projecto) e assim reconhecesse que não tem o apoio do PAICV e não que AL seja o independente quando tem amplo apoio dentro do PAICV.
Que MIS/JMN fossem ganhar neste processo “democrático e transparente” como disse Paulino, num universo de 100 conselheiros não era muito difícil de prever. Afinal estamos a falar de um líder com três vitórias/mandatos consecutivos conseguidos nas urnas (se bem que um bom líder sabe que nunca se ganha sozinho).
Se fosse eu o AL, ou a “facção remetida ao silêncio”, provavelmente não participaria deste processo desta forma…. Mas terão os seus motivos e formas de fazer as coisas que eu respeito… e no fundo como PAICVista que sou, até os admiro mais por agirem assim.
Abraço
Mirian

Anónimo disse...

Belo post!

Anónimo disse...

Pois é.Na política é assim.Nem sempre agradamos a todos.No entanto penso que a disputa interna se fez nos termos da lei e o José Maria Neves tem todo o direito de apoiar quem ele quiser para a Presidência da República, da Assembleia Nacional ou de qualquer outro órgão político da Nação.

Arsénio Gomes disse...

Margarida,
e eu que pensei que nessa escolha haveriam primeiro colocar na mesa os critérios de escolha para presidente da república, mas depois viu-se que não era bem assim.
Os tiques desse tipo estão a fazer escola nesse nosso país. Que o diga Carlos Veiga com a escolha do Gualberto, que o diga JMNeves com a escolha de Inocêncio.
Mesmo que se diga que houve processo democrático interno, mas as cartas já estavam marcadas há muito. Depois foi só exercer as influências (ou o poder).
Afinal deve ser de confiança para o partido (como um todo) ou a confiança é para o lider?