20 de março de 2011

Notas minhas

Example



















1. Some Kind of Funny Porto Rican. A Capeverdean American Story. Não falarei da opção estética que poderia ser tanta e inumerável para uma realizadora do calibre de Claire Andrade-Watkins. A própria faz-se de narradora e, de certa forma, personagem deste filme (cabo-verdiana americana de segunda geração). Parte da sua casa, da sua família e das suas inquietações profundamente existenciais para nos contar uma história emocionante da diáspora cabo-verdiana. Localiza Cabo Verde como espaço de identidade, narra traços fundamentais da sua história e enquadra a conjuntura socioeconómica da vaga da emigração de cabo-verdianos para os Estados Unidos. Os primeiros africanos a entrarem nos Estados Unidos fora do contexto migratório da escravatura. Lança um olhar sobre a América do século XIX, percorre os seus meandros, para depois centrar-se em Fox Point, pequena cidade no Estado de Rhode Islands - a Capverdean land. A vida desses crioulos portugueses, o trabalho, a sociedade, o lugar da música, uma malha da memória que não se reencontra jamais. O filme de Claire Andrade-Watkins é uma contribuição incontornável para a máxima da Caboverdianidade.

2. João Bosco (foto) actuou 18 de Março na Cidade da Praia, depois de o ter feito no Mindelo. Também não irei esmiuçar sobre este vulto da música brasileira. Não tendo palavras, apenas ficaria pela evasão causada. Um espectáculo memorável, cheio de poesia, palavras tácteis, boa energia e memória. É o próprio a dizer que de um povo fala pela forma como preserva e reaviva a sua memória. Aliás, o que me fascina em muitos nomes do Brasil, onde se inclui Bosco, é a forma generosa e decisiva como cantam os seus. João Bosco vindo a Cabo Verde, nos lembra Tom Jobim, Elis Regina, Dorival Caimmy, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e fá-lo numa preocupação de conjunto cultural muito para além da pura performance musical, transcendendo o canto. É um artista que convida, provoca e subverte, com profunda inquietação. Daqueles que acreditam que a vida é uma viagem de todos. E para todos. Não esquece nem da pedra (símbolo primordial), e rende homenagem aos cabralinos poetas da pedra, os do Brasil. Seria bom que ele regressasse à casa com a memória dos nossos poetas da pedra, temo-los muitos. Um deles, inclusive, cantou a pedra no seu mais recente disco - Mário Lúcio, nosso Ministro da Cultura. João Bosco continua na estrada de Manuel Bandeira e Jorge Barbosa. Essa nuance é que não se pode evadir.

3. O Governo novo toma posse segunda-feira. O ideal seria saber o que genuinamente pensam os cabo-verdianos desta nova proposta de José Maria Neves. O povo é quem mais ordena, como rezaria a emblemática canção portuguesa. Entretanto, sendo praxe, ficam os cem dias de graça para a serenidade de todos…

9 comentários:

Anónimo disse...

Margarida, vá tirando o cavalinho da Chuva. A música do Mário Lúcio vai ser música em 2075.
Precisamente pelo que disseste no texto. Os nossos não cantam os nossos e acrescento, nem ouvem os nossos.
:)

há dias, sobre isto eu fiz este post
http://sondisantiagu.blogspot.com/2011/03/audicao-para-2075.html

Fica bem
Djinho Barbosa

pura eu disse...

:)
Vi o post...
Radica aí a força da música brasileira... " ode aos mestres". 2075... voilá!

da caps disse...

Caro Djinho,

você já ouviu num outro artista nosso, de nome Grace Évora?

Se sim, o que achou?

Se não, vou ter que concordar consigo num ponto:
Os nossos não ouvem os nossos.. ossos..

Outra pergunta, você já ouviu Bau e Voginha? Que destaques têm/deveriam ter nesse panorama?
Houve uma celebração recente dos nossos, nops?

Não se pretende com estas perguntas nenhum espécia de provocação.

É que acredito que sempre se aprende algo com visão do outro. Daí as minhas quesões.

Sds

pura eu disse...

Da Caps... você aparece sempre nessas horas parabólicas :)
Dicotomias à parte, tenho por mim que as coisas complicaram-se perigosamente nos últimos dias...os pormenores digo em privado, quando quiseres :)

abraço aos dois amantes da música cabo-verdiana: Djinho e da Caps.

da caps disse...

a bo tran gaita, mnina :)
ma ta drêt :)
ta bem mandob um email (ou se calhar um blog dedicado se for mais pratico :)) f/ your sharing

(por acaso aceitei o repto k lançaste :) mas cm a ref. era só ao ano - este ano - n pensei k tinha k ser já no 1o trimestre :))

Arsénio Gomes disse...

Quando a música é de qualidade, nos encanta, independentemente da sua origem e/ou estilo.
Todos nós temos direito de ouvir o que é bom e que venha mais.
Que venha Djavan, Caetano Veloso, Chico Buarque, que venha Mariza Monte, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, ... ah não pode faltar o Milton Nascimento.

Oh Margarida, aqui cem dias de graça é pouco, vamos esticar mais uns dias.

pura eu disse...

são 100 dias e 100 noites, Arsénio :)

pura eu disse...

Da Caps--:))) qualquer sinal serve..afinal, são anos e anos :)

Anónimo disse...

Oi, pena que quem vive fora da Praia e São Vicente raramente podem presencear esses momentos nobres. Quanto ao Mário Lúcio, espero para ver, no caso do Governo, o povo ordenou a 6 de Fevereiro e agora cabe ao povo fazer o que deve fazer: trabalhar e pressionar por mais serviço.

Carlos Silva (calusilva@hotmail.com)