30 de maio de 2007

Fogo - a ilha real

O Fogo é uma ilha estrategicamente próxima de Santiago. Outrora, a dois passos dos centros portuários de importação e exportação: Ribeira Grande e Vila da Praia. Não só proximidade, mas evidente acessibilidade. Esta é a razão – tão comparativa, quão competitiva – que leva os moradores de S.Tiago a terem tido preferência pelo Fogo, como segundo espaço de povoamento. Obviamente que uma carta-régia impeditiva aos moradores de S. Tiago motiva à procura do Fogo, como recurso essencial para se "lançar à Costa africana". Como diria o geógrafo José Maria Semedo, a Ilha do Vulcão é um desdobramento da matriz original de Santiago, e o que assimila à ilha mãe e à co-participação no tráfico negreiro. As ligações com o continente africano são vitais para o equilíbrio agro-produtivo da Ilha do Fogo, na medida em que determinaram a mão-de-obra escrava como o grande factor de produção.

Apesar desse cenário histórico, que é condição matricial da sociedade foguense, os incessantes relatos sobre o Fogo silenciam elegantemente a realidade outra de muita boa gente. Vejamos alguns exemplos, apenas:

Abílio Macedo escreve, nos anos sessenta, que a fidalguia de S.Filipe tem motivos para "se orgulhar de uma ascendência aristocrática, como a feição mais saliente e predominante dessa gente...".

Henrique Teixeira de Sousa escreveria, na Revista Claridade, que "quem ainda por 1910 visitasse a Ilha, nela encontraria na sua vila principal (S.Filipe) um aglomerado de muitas casas residenciais, na maioria primeiros andares erguidos no velho estilo colonial, amplos, avarandados, coberto com telha marselhesa. Nesses sobrados, segundo o escritor foguense, moravam as famílias brancas, descendentes dos antigos povoadores europeus.

Ondina Ferreira, mais recentemente, em 1997, escreve no jornal Terra Nova que "apelidos como Macedo, Henriques, Sacramento Monteiro, Barbosa, só para citar alguns, sugerem e recordam algumas famílias ilustres de sobrados que fizeram época, marcaram presença e distinguiram-se, alguns, não só como altos funcionários e dirigentes da ilha, do Arquipélago no período anterior à independência, como também funcionaram como referência nobilitantes da Ilha do Vulcão...".

Estas notas, diria, são a antítese das próximas histórias tristes que aqui vão ser lidas...quando aquele passado se me impuser!

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