16 de maio de 2007

Ilha Nua







A blogosfera crioula ganhou mais uma ilha, acalentada por uma mão do além mar. O seu mentor é Jorge Marmelo, jornalista do Público, que depois de umas reportagens, nestas ilhas, ganhou mais um torrão. A um primeiro olhar jornalístico, seguiram-se algumas indagações históricas sobre a escravatura, feitas pelo jornalista a quando da rodagem do filme “A Ilha dos escravos”. Recentemente, mergulhou na ficção e recriou, num multiplicar de lugares, o Cabo Verde do seu íntimo. Falei com Jorge sobre essa nova ideia:

Jorge Marmelo, de há dois a esta parte, os teus trabalhos tem evidenciado um crescente interesse pela cultura cabo-verdiana. Porquê esse encanto?
Quando, há dois anos atrás, visitei Cabo Verde pela primeira vez, tive a sorte de ter conhecido logo três ilhas de uma assentada (Santiago, S. Vicente e Sal) e de me ter apercebido da riqueza e da diversidade de um país que, sendo territorialmente pequeno, tem uma dimensão imaterial enorme. Não creio que, com a excepção de Cuba, haja algum sítio comparável a Cabo Verde, capaz de, a partir de um território pequeno e de uma realidade demográfica reduzida, conseguir criar uma dimensão cultural tão forte. Isto por um lado. Mas o mais importante, creio, foi alguma coisa no modo como as pessoas me sorriram e receberam, amistosa e calidamente, o que me fez encontrar em Cabo-Verde uma espécie de segunda casa, um país ao qual, se pudesse escolher, eu gostava de pertencer.

Percebo, da nossa convivência, que o Ilha Nua é o início de algo mais. O quê, concretamente?
A ideia original que presidiu ao nascimento do Ilha Nua é a de criar uma publicação de actualidade cultural dos países que falam idiomas nascidos a partir da raiz comum do galaico-português, sem discutir sequer se esses idiomas constituem uma mesma língua ou línguas autónomas. A mim interessa-me que somos capazes, portugueses, brasileiros, angolanos, cabo-verdianos, galegos, moçambicanos, etc., de nos entendermos falando um idioma que, se não é o mesmo, é muito parecido. Isto devia ser o suficiente para que se estabelecesse uma comunidade, que, partilhando um veículo comum, partilharia também os bens culturais produzidos nesse idioma ou criados pela realidade imaterial desse idioma. Esta comunidade, porém, não existe, excepto, ocasionalmente, nos discursos doas políticos.
O Ilha Nua é, assim, uma espécie de casulo para a concretização daquela ideia original, a qual, a concretizar-se, espero que possa ser um pequeníssimo contributo para a concretização da tal comunidade lusófona.

Duas perguntas com respostas e um abraço ilhéu...

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